terça-feira, 31 de julho de 2012

Modric é realmente necessário?

Modrid x Xavi: vai virar rotina? (getty images)

Há nove anos, o Real Madrid contratou um jogador de que não precisava: David Beckham, por generosos 25 milhões de euros ao Manchester United. Os Red Devils, que estavam negociando o jogador com o Barcelona, aceitaram prontamente a oferta do clube merengue, o que acabou fazendo o Barcelona ir até Paris contratar Ronaldinho Gaúcho. Makélélé, que estava no auge e era peça essencial no esquema de Vicente Del Bosque, foi relegado ao banco em prol da titularidade do inglês e resolveu abandonar o clube, se transferindo para o Chelsea de José Mourinho. No final das contas, a contratação de Beckham não deu certo. Ele não chegou a fracassar, mas sua entrada na equipe titular do Real Madrid desmontou todo esquema que, durante três anos, vinha dando certo e conquistando título atrás de título. O Spice Boy só foi conquistar seu primeiro troféu relevante na capital quatro anos depois de sua chegada, a Liga BBVA 2006/2007.

O meio-campo, tão forte e seguro, ficou frágil e sentiu bastante a ausência de um roubador de bola. Claramente, a equipe sobrava em fantasia e magia, mas sentia o baque quando atacada. No final, o projeto megalomaníaco de Florentino Pérez teve consequências contrárias: muito sonho, pouco resultado. De pouco em pouco, os galáticos foram se desfazendo. Hoje, o excesso de armadores no elenco continua. José Mourinho tem à disposição quatro criadores de jogadores: Xabi Alonso, Granero, Sahin e até mesmo Özil. Porém, estaria disposto a oferecer 40 milhões de euros para tirar o croata Modric do Tottenham. A qualidade do volante é inegável, mas ele seria realmente necessário nessa equipe do Real Madrid? 

Dificilmente um jogador que custa tão caro chega para ser reserva. Como Xabi Alonso é o cérebro da volância, a bomba acabaria caindo em Khedira, que provavelmente seria rejeitado ao banco. Mas isso daria certo? Numa equipe tão cheia de grife, é difícil prestar atenção em jogadores que quase não marca gols e dá assistências. Mas, se for parar para reparar, o camisa 5 é tão importante quanto Xabi Alonso na proposta de jogo do treinador português. O alemão marca, desarma, tem carta branca para chegar à área rival e deixa Xabi menos sobrecarregado na criação de jogadas. É, mal comparando, o Makélélé da equipe atual.

A lateral direita é a maior - e talvez a única, aliás - carência do elenco. Ainda assim, Mourinho prefere não arriscar. Ele não dá margem de erro a esse negócio e só admite contratar o jogador certo. Num mercado tão escasso de lateral direito, é difícil imaginar o Real Madrid gastando dinheiro com algum jogador para o setor. Mou teria ficado satisfeito com a Eurocopa de Arbeloa, com quem não pensa em se desfazer. Lass Diarra seria a solução caseira para substituir o espanhol (até faz sentido porque o francês foi bem jogando na lateral com Mourinho). Na base, um jogador chama a atenção: Juanfran, destaque do Castilla na temporada passada e que apareceu com sobressaliência na partida amistosa contra o Oviedo, semana passada. Carjaval é o canterano mais promissor para a posição, mas rumou para o Bayer Leverkusen, em mais uma pataquada da diretoria merengue com seus canteranos.

Atualmente, todas as especulações da imprensa madrilenha falam em uma contratação para a volância. O alvo preferencial de Mourinho é Modric, mas a negociação não é simples. Axel Witsel é alternativa ideal, só que o Benfica também não está disposto a liberar o belga tão facilmente. Calculista para promover as necessárias mudanças, Mourinho afirmou há duas semanas que o desejo para a temporada é a conquista da Liga dos Campeões. No fundo, ele sabe que está à frente de muitas equipes e que o título europeu bateu na trava na temporada passada. Aliás, uma das missões de Mourinho já foi cumprida: descanbar o Barcelona à nível nacional. Falta a conquista europeia, que transformaria o gajo numa lenda na capital. Seu time está pronto há duas temporadas e não precisa de reparo, sobretudo do meio para frente. Então, para que a contratação de Modric?

sábado, 28 de julho de 2012

Fim de brincadeira


Abdulla Al-Thani, o Sheikh preguiçoso. Convivendo com problemas, resolveu colocar o Málaga à venda (El Desmarque)

A temporada 2011/2012 foi perfeita para o Málaga. A excelente campanha na Liga BBVA devolveu o clube a uma competição europeia após 15 anos. Não só a oportunidade de disputar uma competição em âmbito internacional: trata-se da Uefa Champions League, torneio no qual o clube nunca nem passou perto. O Sheikh Abdullah Al-Thani foi sintético em suas palavras no dia de sua apresentação e prometeu que, dentro de três anos, colocaria a equipe na principal competição de clubes do mundo. Não demorou muito e, um ano e meio depois de assumir a presidência do Málaga, a equipe terminou em quarto na Liga, garantindo passaporte para disputar a pré-Champions League. Associado às promessas de investimento e o poderio de seu meio-campo, que tinha como sustentação os ótimos Cazorla e Isco, ao bom trabalho de Pellegrinni, que sempre consegue bons resultados em equipes medianas, nada podia deter os blanquiazules.

A menos que o próprio clube estragasse tudo. Aliás, justamente seu arquiteto. Proprietário do Málaga, Abdulla Al-Thani tem fortuna comparável à de Mansou Al Nahyan, manda-chuva do Manchester City, mas não investiu no atual mercado. As especulações que colocavam Dzeko, Robinho e até Tévez na órbita dos malagueses ficaram apenas nas notas de jornais. Contar com os outros sócios é inútil. Logicamente após as contratações pesadas do PSG, os torcedores imaginavam uma forte ida do Málaga ao mercado. Um dos potenciais protagonistas do mercado virou, no entanto, um coadjuvante atrapalhado e sem grife. 

Acusado de não ter pago ao Villarreal e Osasuna o valor completo pelas transferências de Cazorla e Monreal, respectivamente, o Sheikh perdeu força. Até os jogadores do clube foram à justiça denunciá-lo por atraso nos salários. Cazorla, Mathijsen, Van Nistelrooy, Demichelis e Rondón denunciaram o clube à AFE, mas, após insistência da diretoria, acabaram retirando. O resultado é um mercado apático, desastroso para um time sólido na chamada "liga dos humanos" e que deveria brigar por Champions League durante um bom tempo. Sem se reforçar direito e com múltiplas chances de perder Cazorla para o Arsenal, que apresentou uma proposta de 23 milhões de euros, o sonho de avançar até as oitavas-de-finais da LC fica bastante longe. Hoje, a equipe corre risco até de cair na pré-Champions. Por ora, nenhuma contratação foi feita.

Hoje, o estopim de uma crise repentina chegou ao limite. Segundo informações dadas em primeira mão pela rádio Cope, Al-Thani resolveu colocar o Málaga à venda. O árabe está negociando a venda do clube ao grupo Oil Tiça, do empresário albanês Rezart Taçi, sócio de uma petroleira e que também comanda o Bologna, da Itália. Em 2010, o empresário ofereceu dois milhões de euros ao Real Madrid para disputar um amistoso na Albânia. Fontes do periódico AS afirmam que as negociações estão bastante avançadas. O provável novo dono já fala em "achar soluções para vencer esse drama". Os torcedores, como não poderiam deixar de ser, estão bastante indignados com aquele que era seu herói. Em um fórum oficial do Málaga na internet no site El Desmarque, que cobre as equipes da Andaluzia, várias mensagens contra Al Thani foram lançadas. Perguntar não ofende: aonde o Málaga acha que vai assim?

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O dono do primeiro passe

 Gago chega ao Valencia sob desconfiança, mas tem a confiança do treinador Mauricio Pellegrino, que monta seu time em torno do argentino (Valencia CF)

Com a contratação de Gago, o Valencia dá um passo em definitivo em um dos pontos que faltava reparar nesse mercado: um volante de respeito para substituir Topal e Banega, que ainda é uma grande incógnita. Se agora resta achar um substituto para Jordi Alba (que deve ser o bom Didac Vilà), o time ché ratifica que novamente está um passo a frente das demais equipes da primeira divisão - à exceção, obviamente, da dupla Barcelona e Real Madrid. Ao contrário da época de Unai Emery, que prezava para um jogo mais ofensivo e de toque de bola, o Valencia de Pellegrino promete muita dedicação tática e mais pegada no meio-campo. Foi assim que o novo treinador definiu a principal característica da equipe no dia de sua  apresentação.

O mais provável é a utilização do 4-3-2-1 como módulo tático em dentrimento do 4-2-3-1 tão visto pelos torcedores nos últimos anos. Ainda que Pellegrino seja bastante respeitado em Paterna, a torcida, sempre tão crítica, irá aceitar essa mudança de filosofia? Nessa proposta de jogo, Gago será essencial. Com Tino Costa, Banega ou Albelda o ajudando na linha de três e Feghouli e Guardado, mais adiantados, livres para finalizarem os contra-ataques, o argentino terá importância na hora de firmar o primeiro passe. Essa era, justamente, a ideia de Fábio Capello quando o Real Madrid o tirou do Boca Júniors em 2007. Mas, a bem da verdade, o argentino nunca cumpriu as expectativas em torno dele. Sua melhor temporada na Europa foi em 2007/2008, quando, treinador por Bernd Schuster, foi um dos pilares do Real Madrid bi-campeão espanhol, deixando Diarra no banco.

Após a chegada de Xabi Alonso, perdeu o prestígio na capital. Fora dos planos de Mourinho, que chegou a emprestá-lo à Roma, Gago foi comprado em definitivo pelo Valencia. Os chés, no entanto, tem outras dúvidas: até como a lesão de Banega irá afetar em seu desempenho; o nível competitivo de Albelda; e a questão Dani Parejo, que tem a confiança de Pellegrino mesmo após decepcionar totalmente em sua primeira temporada. Destaque no Getafe e com seu nome ligado a uma possível volta ao Real Madrid, Parejo optou pelo Valencia porque "ali iria ter mais oportunidades". Quando as teve, não aproveitou. Fato que, seguramente, Gago irá cumprir duas importantes funções nesse meio-campo valenciano.

Armação das jogadas
Desde David Silva e Juan Mata que o Valencia não tem um construtor natural de jogadas. Apesar de na temporada passada, a primeira sem os dois, isso não ter feito muita falta pelo bom desempenho de Tino Costa, Topal e até mesmo Jonas, escalado centralizado na linha de três, o fato é que falta um armador natural a essa equipe. Originalmente, essa é a especialidade de Gago. No Valencia, terá que fazer o jogo fluir, algo mais ou menos como Schweinsteiger faz na Alemanha e no Bayern de Munich. Conectar-se com os meio-campistas mais ofensivo e ser vertical é o principal objetivo. Com uma trinca de volantes, ele não irá ficar sobrecarregado e terá mais "paciência" para fazer seu jogo.

Colaboração nas tarefas defensivas
Há tempos o Valencia não tem um marcador nato. Carente disso, os chés sofrem por não ter homem de pegada no meio-campo. Naturalmente, a posição de Gago exige isso. Nos momentos de contra-ataque rival, Gago será uma peça importante para recuperar a bola. Sua condição física o permite recuperar bolas, sobretudo em distância curta. Não é seu ponto mais forte e essa tarefa será mais encarregada aos outros volantes, mas Pellegrino pode e deve aproveitar isso, principalmente pelo estilo de jogo que pretende encaixar na equipe.

Com apenas 26 anos, Gago chega sob desconfiança após o fracasso em Madrid e Roma, mas tem o apoio da torcida e do treinador. Adaptado ao futebol espanhol, será ele capaz de realizar todas as funções prometidas em campo?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Decepcionante

Luis Milla iniciou com uma escalação mais tímida do que a habitual e começa a ser criticado pela imprensa espanhola (getty images)

A estreia da Espanha nos Jogos Olimpícos foi a mais decepcionante possível. A derrota para o Japão por 1x0 foi um duro golpe no psicológico de uma seleção que era taxada por muitas como favorita. Se o povo já temia o Brasil antes mesmo da abertura dos jogos, agora isso ganha mais força: o provável é que, se a Fúria avance, encare a seleção brasileira nas quartas-de-finais. Luis Milla, treinador da seleção, já tem um grupo em mente. A seleção sub-23 da Roja é base da equipe vencedora da Eurocopa Sub-21 há um ano e treina junto há praticamente três anos. Porém, para a partida contra o Japão, foi montada às pressas e evidenciou o peso dos desfalques, como Thiago Alcântara, Iker Muniain, Botía e Ander Herrera, que começou no banco. A esperança é que, com o retorno de três dos quatro nomes acima - o único, de fato, fora do torneio é o hispano-brasileiro -, a Espanha convença ante o Marrocos, em jogo que virou a primeira final para essa seleção.

É preciso entender que a formação espanhola foi ocasional. Luis Milla, que começa a ter seu nome criticado pela opinião pública, porém, contribuiu para o baile japonês, que poderia ter ganhado de mais de três gols. A defesa, exposta, sentiu a falta de Víctor Ruíz, um de seus pilares na competição europeia. O corte do catalão até agora não foi bem explicado. O meio-campo, que pouco criou, não teve em Isco e Rodrigo substitutos à altura de Muniain e Thiago Alcântara. Isso sobrecarregou Mata, que teve uma atuação abaixo da média. Pelo posicionamento de Isco e Rodrigo e o fato de Mata ter começado, durante boa parte dos ataques, a construção das jogadas atrás da linha de meio-campo, a Espanha pareceu ter atuado no 4-3-3.

Nesse módulo tático, Mata deveria desempenhar um papel semelhante ao de Iniesta no Barcelona, mas teve que ser Xavi: Koke, o encarregado de armar as jogadas para a seleção, foi outro que passou batido e não aproveitou a ausência de Ander Herrera para ganhar pontos com o treinador espanhol. O meio-campo teve bom controle de bola, mas foi muito pressionado pelos nipônicos, que fizeram uma marcação implacável nos 90 minutos do jogo. Além disso, com a bola, a seleção mostrou uma faceta negativa, sem objetividade nenhuma. O maior exemplo é o fato de Adrián não ter dado um chute a gol. A expulsão infantil de Iñigo Martínez, a maior revelação da Liga BBVA passada, só serviu para deixar o meio-campo ausente de um ladrão natural, porque Javi Martínez teve que ser recuado. Na hora do desespero, Milla deixou em campo apenas jogadores de centro do campo, retirando os ponteiros - tirou Rodrigo e Isco e colocou Ander e Oriol Romeu.

Mas o fator mais preocupante do jogo foi a defesa. Exposta e, sobretudo, lenta, foi o ponto de festa do Japão, que impôs muita velocidade pelo centro e ocasionou um surto na retaguarda espanhola. Álvaro Domínguez, Iñigo Martínez, Montoya e Jordi Alba não se entenderam e bateram cabeça. Talvez, apenas o novo barcelonista mostrou do que é capaz, mas foi bastante prejudicado pela partida abaixo da média dos companheiros. Botía não é muito melhor que Iñigo, mas já estava acostumado com Domínguez. Quem teve que segurar a barra pela fragilidade defensiva foi De Gea, que salvou a Roja de uma goleada histórica nessa estreia.

O resultado foi ruim, mas não é um desastre total. Honduras e Marrocos empataram no outro jogo do grupo e oferecem à Espanha a maior forma possível de se recuperar. Acontece que dificilmente esse selecionado japonês, que mostrou-se bastante contundente apesar dos deveras erros na hora da conclusão, irá tropeçar, o que coloca a Espanha no caminho do Brasil na segunda fase, sem dúvidas a seleção mais temida pelos espanhóis. Se quiser ganhar o ouro ainda, a seleção espanhola deve ser mais agressiva, nos mesmos moldes da equipe de um ano atrás. É claro que a sagacidade de Thiago Alcântara, que mandava e desmandava no meio-campo, faz falta, mas é precisa achar outros meios. Isco precisa atuar melhor do que foi hoje, porque tem futebol para isso. O retorno de Muniain e Ander Herrera deve dar mais liberdade a Mata, que não deveria se preocupar muito com a marcação como aconteceu hoje. Para pensar em medalha, a Espanha será obrigada a criar soluções.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O herdeiro de Eto'o?

 Dongou: homem-gol, as comparações com Eto'o são inevitáveis (Fórum Blaugrana)

*Postado originalmente no site Olheiros

As características dos atacantes lançados pelo Barcelona nas últimas temporadas não se diferem muito. Guardiola nunca pôde reclamar da falta de canteranos que atuassem abertos nas pontas, adicionando velocidade e profundidade aos blaugranas. Entre aqueles que ainda hoje permanecem no Camp Nou estão Pedro, Cuenca e Tello, em uma lista que contou outrora com Bojan e Jeffren, hoje na Roma e no Sporting Lisboa, respectivamente. Ou o próprio Lionel Messi, deslocado da ponta direita para a faixa central do campo apenas em tempos mais recentes. A nova sensação de La Masía, porém, dará uma opção extra para o ataque culé encher as redes adversárias com ainda mais gols. Jean Marie Dongou é camisa 9 de ofício. Não possui grande estatura, mas combina força e velocidade. E, como é de se esperar, uma fome insaciável por gols, capaz de finalizar com as duas pernas com precisão e encontrar espaços mínimos, mas suficientes para arrombar defesas. Todos predicados visíveis já aos 17 anos.

O estilo de jogo torna indissociável a comparação com o seu patriota Samuel Eto’o, o último homem de área (e seus arredores) a dar certo na Catalunha. E as ligações com o jogador do Anzhi são mais profundas que a aparência possa sugerir. Dongou chegou ao Barcelona graças à Fundação Eto’o, entidade que oferece treinamento a jovens no Camarões. Depois de um torneio infantil disputado pela seleção camaronesa em 2008, o interesse blaugrana foi imediato e a parceria com a fundação possibilitou o ingresso do garoto nas cantera. Desde seu ano de estreia em La Masía, Dongou já ostentava marcas impressionantes. Passou os primeiros meses servindo a equipe Infantil A, pela qual marcou 70 gols. Os números sólidos permitiram que o atacante pulasse categorias e atuasse pelo time Cadete A, onde repetiu o sucesso. Em 2010/11, transitou entre Cadete A, Juvenil B e Juvenil A, um fenômeno visto antes apenas com prodígios do nível de Lionel Messi.

Na temporada 2011/2012, o camaronês passou o primeiro semestre servindo ao Juvenil A, pelo qual se sagrou artilheiro da NextGen Series, junto com Viktor Fisches, dinamarquês do Ajax. Sua melhor partida foi na fase de grupos contra o Celtic, onde marcou três gols (vídeo-resumo de sua atuação abaixo). Seu faro de gol, no entanto, não ajudou o Barcelona a ir longe na competição: os azulgrenás caíram nas quartas-de-finais justamente para o Ajax de seu rival Viktor, que brilhou mais no jogo com dois gols. A boa forma, contudo, combinada com a ascensão de alguns jovens para o time principal, permitiu que Dongou passasse a figurar no elenco do Barcelona B a partir de janeiro de 2012. Com cautela, o técnico Eusebio Sacristán começou a lançar a promessa durante o final das partidas da segunda divisão espanhola. Foram necessários 60 minutos – divididos entre oito partidas – até que o goleador balançasse as redes pela primeira vez, garantindo a vitória por 2 a 1 sobre o Alcoyano.

Neste momento, a volta de Dongou ao Juvenil A parece impensável. A condição de titular no Barça B, contudo, também deverá ser um pouco custosa, considerando que a “idade mínima” na filial seja 19 anos – ou seja, aqueles que completaram todo o ciclo da base. Em outros tempos, o estágio Barcelona C seria obrigatório e o camaronês teria todo o espaço para ganhar tarimba em competições profissional. Entretanto, com o fim do terceiro elenco blaugrana, o empréstimo para algum clube da terceira divisão pode até ser vislumbrado. A prática tem se tornado usual e, pelo observado nos últimos anos, é totalmente aprovado por Guardiola. Foi assim com Isaac Cuenca, por exemplo. O atacante foi cedido e teve destaque no Sabadell, pequeno clube catalão com quem conseguiu o acesso pela primeira vez em 18 anos, na Segunda División B. Para Dongou, a única barreira seria a grande badalação já existente em cima de sua pessoa. Valeria mais a pena protegê-lo dentro dos portões de La Masía ou deixá-lo vivenciar uma realidade totalmente diferente, usufruindo da estrutura de um clube pequeno?

A única certeza que se tem é a de que o Barcelona deverá proteger ao máximo a joia que tem em mãos. Ao contrário do que acontecia em meados da década passada, Guardiola preferiu desenvolver ao máximo seus canteranos antes de deixá-los desabrochar no time principal. Uma precaução bastante pertinente, considerando alguns tiros n’água, como o ocorrido com Bojan – recordista de juventude em vários patamares no clube, mas que nunca rendeu o esperado no elenco principal. Com Tito Vilanova, que segue bastante os ideais do ex-treinador, não deve ser diferente. Por exemplo, ele negou qualquer tipo de transferência de Tello a outras equipes, considerando o garoto peça-chave de seu projeto.

Com trabalho e talento, é improvável pensar no camaronês atuando no elenco principal já na nova temporada. Dongou talvez faça sua estreia somente em 2013/2014, na Copa do Rei ou em outra partida de pouca validade. Uma trajetória meteórica como a de Messi no primeiro time, porém, só deve mesmo ser vista nas categorias de base. As ordens atuais no clube são de dar passo após passo, até o amadurecimento completo. Mas, desde já, é bom ficar de olho para ver o que o futuro pode reservar aos blaugranas.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Procura-se um centroavante

 Cazorla, Marcos Senna e Rossi abraçados com Nilmar se aproximando: bons tempos, Villarreal (getty images)

Em 2010/2011, o Villarreal encantou. Em quarto lugar na Liga Espanhola e semifinalista da Liga Europa, onde caiu para o futuro campeão Porto, a equipe apresentou um dos mais belos futebol da Espanha - atrás somente, claro, de Barcelona e Real Madrid. Era um futebol coeso, inteligente, preciso, que tinha na ligação meio-ataque seu principal trunfo. Com Cazorla, Rossi, Nilmar, Cani e Borja Valero no auge da forma, a equipe voava em campo. Uma temporada depois, o Submarino Amarelo mostrou sua face mais decepcionante. A saída de Cazorla representou, dentro de campo, o afogamento de todo o time, sem trocadilho. Para piorar a situação, ainda viu Nilmar e Rossi, seus principais atacantes, se lesionarem. O ítalo-americano até hoje não voltou. O nível futebolístico, como esperado, decaiu e a consequência foi fatal: o rebaixamento à Liga Adelante.

Por ironia do destino, os amarillos ainda presenciaram o sucesso de Cazorla no Málaga: o meio-campista foi um dos principais responsáveis pela ida do clube blanquiazul à Uefa Champions League, competição na qual, há seis anos, o Villarreal chegara à semifinal. Para a disputa da Liga Adelante, o clube precisa fazer uma reformulação em todos os setores. No gol, precisa achar um goleiro confiável após a saída do bom Diego López ao Sevilla. A zaga, um desastre na temporada passada, pode perder sua principal referência, o capitão Gonzalo, prestes a acertar com o Bétis. Para a lateral direita, o clube já confirmou o retorno de Javi Venta, que irá entrar no lugar de Ángel, que não quis renovar. Quem também optou por não renovar foi o xerifão Marchena. A lateral esquerda também é um problema: Zapata e até Mussacchio passaram por ali, mas nenhum se firmou. A ausência de Capdevila também é bastante sentida.

O meio-campo, que não é mais o mesmo, teve duas perdas significativas: De Guzmán, emprestado ao Swansea, e Bruno Soriano, que pode estar de partida ao Atlético de Madrid. A notícia boa é que Marcos Senna, Cani e Borja Valero (que, a bem da verdade, está indeciso), pilares de um setor que carece de fantasia, estão dispostos a ajudar a equipe a disputar a segundona. Borja Valero faz as vezes de armador, mas não é um necessariamente. Pelo visto, irá continuar exercendo essa posição na nova temporada. Até com treinadores a fase é negra. Um dia após anunciar o nome de Manolo Preciado, o cantabriano sofreu um ataque cardíaco e, infelizmente, veio a falecer. Sem condições de contratar um nome top, a diretoria resolveu efetivar Julio Velázquez, ex-treinador do Villarreal C e B, à equipe principal.

Contudo, nenhuma posição preocupa mais que o ataque. Hoje, a equipe só tem à disposição, de referência, Uche, que retornou após um empréstimo ao Granada. Nilmar foi vendido ao Al Rayyan, Marco Rúben rumou ao Dínamo Kiev e Martinuccio não teve seu empréstimo renovado. Hernán Pérez pode fazer essa função, embora suas características seja mais adequadas as de segundo atacante. A diretoria foi a Buenos Aires tentar fechar com Viatri, mas um desacordo na hora de finalizar as bases salarias fizeram o Boca Juniors desistir de negocioar seu centroavante. O jeito deveria ser depositar todas as esperanças em Rossi. Deveria, porque o ele é incógnita. Após romper os ligamentos do joelho duas vezes consecutivas, muito provavelmente ele não será o mesmo jogador de duas temporadas. A velocidade, seu principal atributo, deverá cair bastante. Além disso, o italiano deverá perder parte da temporada: sua operação está marcada para agosto e o retorno aos gramados, para fevereiro apenas.

Em suma, dois fatores vão definir o teor da temporada dos amarillos: as necessárias contratações à cada setor do campo e o preenchimento do potencial do time. A última temporada de Marcos Senna serviu para renascer o jogador, que vinha de duas temporadas negativas em sequência. Por ironia do destino, a boa fase do hispano-brasileiro foi justamente no período de queda do Villarreal, mas ele poderá (como será) o mais importante jogador do time na Liga Adelante. Rossi é um ponto de interrogação e não pode-se tê-lo como esperança de algo. Até se adaptar novamente, vai demorar. Em uma breve comparação com o Deportivo da temporada passada, o Villarreal leva a pior. Os galegos, pelo menos, manteram uma peça-chave de cada posição e não precisaram se reestruturarem. O Submarino Amarelo é obrigado a fazer isso, embora as condições financeiras seja ingrata. A pressão para retornar à elite é grande. A torcida se acostumou a ver a equipe a brigar firme por Champions League, a bater de frente com os grandes e ver fases decisivas das competições europeias. Após anos estáveis, o nível de exigência no El Madrigal aumentou demais.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Início de mandato

Agora é para valer: Tito Vilanova iniciou os treinamentos de pré-temporada e está confiante para a árdua missão de substituir Josep Guardiola (AP Photos)

Começou o trabalho de Tito Vilanova no Barcelona. Com o retorno de boa parte do elenco das férias, o novo treinador iniciou o período de treinamento para a pré-temporada. Do plantel, 13 jogadores estão em Barcelona, incluíndo Messi, Daniel Alves e Villa. A exceção são os jogadores que disputaram a Eurocopa (Víctor Valdés, Xavi, Iniesta, Fàbregas, Piqué, Alba e Afellay), além dos lesionados Thiago Alcântara, Abidal, Adriano, Fontás e Cuenca. Tello e Montoya, com a seleção olímpica espanhola, também não estão disponível. O novo staff, definido por Vilanova, Zubizarreta e Sandro Rosell, já se apresentou e está trabalhando. Passado o período de férias e com tudo internamente resolvido, agora a hora é de resolver os problemas do mercado de transferências. A primeira solução já foi concluída: a contratação de Jordi Alba, que chega para ser o novo dono da lateral esquerda.

O clube passa por apuros para contratar um zagueiro. Thiago Silva, sonho de consumo de Zubizarreta, esteve próximo de um acerto, mas a quantia que o Milan pediu (60 milhões de euros) o Barcelona não estava disposto a pagar. Ainda por cima, viu o PSG atravessar a negociação e confirmar o zagueiro brasileiro. Atualmente, o preferido de Tito e Zubi é Javi Martínez. Porém, o Athletic Bilbao deixou claro que não irá se desfazer de seu polivalente jogador de uma maneira tão fácil. Inicialmente, o clube basco entrou em acordo com os catalães para negociar Javi; contudo, apenas se o Barça aceitasse pagar os 40 milhões de euros de sua rescisão de contrato. Após isso, a diretoria entrou em um dilema: pagar isso tudo em apenas um jogador ou dividir o dinheiro em mais de um? Passa na cabeça de Tito, também, dar mais oportunidades a canteranos, como Bartra ou Muniesa - esse último, aliás, pode estar de saída para o Ajax, por empréstimo de um ano. Mas há outras alternativas. Agger, Vermaelen e até o brasileiro Dedé estão na órbita dos azulgrenás.

No meio-campo, a saída surpresa de Keita foi vista como uma dor de cabeça a mais. Sem um meio-campista que considerava 12º jogador, o treinador mudou de ideia e optou por reforçar também esse setor. Cabaye (Newclaste) e M'Vila (Rennes) são os preferidos de Vilanova, que poderia utilizar Javi Martínez na volância, visto que essa é sua posição de origem. Mas mais uma vez o tapa buraco pode acabar sendo puxado das canteras. Jogadores como Jonathan dos Santos, Sergi Roberto e Illie Sánchez irão sair para a pré-temporada junto com o plantel A para serem testados. Outro ponto positivo é o retorno em definitivo de Fàbregas à posição. Utilizado muitas vezes à esquerda do ataque e até de falso nove com Guardiola - fato que inspirou Del Bosque para a Eurocopa -, é muito provável que Cesc só volte para lá em último caso. O lugar dele, para Tito, é no meio-campo, mais possivelmente no setor de Xavi.

O ataque talvez seja a posição que menos preocupa. Tito confia em Alexis Sánchez, Pedro, Villa e Afellay e não cansa de repetir isso. Além disso, as atuações positivas de Deulofeu na Eurocopa Sub-19 pode ser um trunfo ao longo da temporada. O jovem, essencial para o Barcelona B, ficará boa parte do tempo na filial, mas pode ser opção em caso de lesão, como Tello e Cuenca em 2011/2012. A esperança é de que Messi continue brilhando. Fernando Signorini, preparador físico do argentino desde 2009, afirmou que o mundo presenciará a melhor versão de La Pulga nesta nova temporada. E, a bem da verdade, o camisa dez parece estar com bastante ganância. Após a falha no momento mais crucial da temporada passada, Messi se juntou mais cedo do que o necessário com o elenco para os treinos de pré-temporada. Signorini, aliás, mostrou-se bastante surpreso com a forma física do argentino, a melhor possível mesmo após um bom período de férias.

Na parte tática, haverá algumas mudanças. A principal dela é a não utilização do 3-4-3, que Guardiola tanto tentou implantar na equipe ao longo de 2011/2012. As variações táticas ao longo das partidas também não deverão serem vistas. Tito Vilanova quer o jogo centrado nos flancos, com o uso de bastante infiltrações por parte dos dois jogadores de lado do campo, que deverão se revezarem bastante a fim de surpreenderem o adversário, e mais chutes a gol dos jogadores que vêm de trás. A aproximação de um futebol forte semelhante ao do início da era Guardiola é a principal missão que ele quer atingir. A primeira temporada sem o treinador mais vitorioso da história do clube poderia, no papel, ser um desastre, mas o grupo está com Tito, e ele é o nome mais ideal para substituir seu amigo. Será o início de mais uma nova era vitoriosa no Barcelona?

domingo, 15 de julho de 2012

Geração de ouro

 Campeã pela segunda vez consecutiva da Eurocopa Sub-19, Espanha evidencia que o sucesso atual é muito graças ao trabalho feito na base (Marca)

Após um período de recesso, o ritmo de postagem do Quatro Tiempos vai retornando aos poucos, a partir dessa semana, ao normal. Neste domingo, a seleção espanhola sub-19 manteve o troféu da Eurocopa da categoria. Na final contra a Grécia, vitória por 1x0 que valeu para a conquista do sexto título da competição desde o novo formato, que começou em 2000. No ano passado, a vítima havia sido a República Tcheca.  No geral, a Espanha venceu o torneio nove vezes, sendo a  maior vencedora junto com a Inglaterra, que não levou nenhum troféu no novo formato.

O gol de Jesé, que garantiu o título à Roja, foi um retrato da seleção em toda a competição: jogada e assistência de Deulofeu, das canteras do Barcelona, e gol do merengue, que ao final da partida foi premiado com a Chuteira de Ouro (prêmio ao artilheiro) e a Bola de Ouro da competição (prêmio ao melhor jogador), embora há divergências quanto à última premiação - para muitos, o melhor jogador, de fato, foi o barcelonista. Foi uma campanha de vencedor: em cinco jogos, três vitórias (Grécia duas vezes e Estônia) e dois empates (contra Portugal e França - contra os Bleus, vitória no pênalti que garantiu a vaga na final). É um título que ratifica o poderio espanhol em âmbito europeu. A Roja é absoluta em todas as categorias da principal competição de seleções do velho continente: título no sub-19, no sub-21 e no principal. Agora, o futebol espanhol espera fechar a temporada de ouro com o ouro: a medalha nos Jogos Olímpicos de Londres.

Independente de nomes, a Espanha é nos últimos anos quem melhor trabalha a base, provavelmente ao lado da Alemanha. A conexão entre federação e os clubes é um dos principais pontos de sucesso, pois permite às equipes de base sempre ter os melhores jogadores à disposição. Além disso, a mentalidade de jogo é a mesma em todas as gerações, o que facilita a chegada de jogadores jovens ao time de cima. A Espanha, antes tão traumatizada pelas aventuras internacionais, deu o passo em definitivo para ser o que é hoje quando passou a apostar todas as suas fichas no trabalho prolífico feito na base. 

A Roja precisa aproveitar como puder as oportunidades de desenvolver um grupo habituado a decidir. Esses jogadores têm a chance de guiar a seleção a glórias maiores, como a geração de Casillas, Xavi, Iniesta e Villa vem fazendo nos últimos quatro anos. O exemplo germânico está aí. Quando os garotos da Alemanha esmagaram a Inglaterra por 4 a 0 na decisão da Euro sub-21 de 2009, ensaiavam uma inesquecível Copa com a seleção principal no ano seguinte. Neuer, Jerome Boateng, Khedira e Özil, titulares na África do Sul, arrebentaram no torneio.

Jesé e Deulofeu (17), os destaques do título: Jesé foi eleito o melhor jogador do torneio (uefa)
Um dado chama atenção nisso tudo: nos últimos dois anos, a Espanha só não foi a final do Europeu Sub-17 em 2011. Nos demais quatro campeonatos, quatro decisões, dois títulos e dois vice-campeonatos. No "biênio" 2008/09, a Fúria já havia chegado à etapa final de todas as competições, mas fez menos finais: "apenas" uma, a do Europeu Sub-17 de 2008, vencida sob a regência de Koke e Thiago Alcântara, que viria a ser o principal jogador da equipe sub-21 na conquista da Eurocopa de 2011. Nas demais, a equipe parou na fase de grupos, sempre no terceiro lugar de sua chave. Mas ainda assim, as seleções de base espanholas já demonstravam regularidade e apontavam para um futuro promissor. Um processo gradual, de amadurecimento semelhante ao que se passou com a própria equipe principal.

Aliás, a ligação entre a seleção de base e a de cima são muito prezadas na Espanha. Vicente Del Bosque tem contatos constante com os treinadores das seleções menores, que, por sua vez, trabalham essencialmente para que os meninos, do sub-17 ao sub-21, entrosem-se e sejam integrados ao estilo de toques rápidos e de valorização de posse de bola. Até por isso, se o garoto não acompanha o processo desde os 16, 17 anos, será difícil conquistar um espaço nas seleções seguintes. E para dar sequência aos trabalhos e preparar as devidas reposições em cada categoria, ocorre até do treinador ser promovido com os jogadores. Caso de Luís Milla, que comandou os sub-19 em 2010 e logo depois assumiu o time sub-21. É ele que vai comandar a seleção olímpica em Londres, após ser campeão europeu com a equipe da categoria.

Olhar tanto a equipe sub-19 como a sub-21 do país é comprovar que dos "pequenos" aos "grandes", o padrão do tiki-taka já foi introduzido, tanto aos jogadores mais habilidosos aos meninos sem tanta qualidade, o que evidencia a valorização do fator "grupo", tal qual o técnico. Além disso, ao marcar presença nas fases finais e  - principalmente - nas decisões europeias como vem sendo feito, a garotada começa a ganhar cancha para lidar com todo o aspecto emocional de uma final ou de um jogo crucial, que envolve o equilíbrio para que o padrão de jogo não se altere por ser uma decisão, o saber administrar o resultado positivo e aprendizado de se lidar com um gol sofrido sem que o desespero afete a forma como se está atuando.

Há pouco tempo, quando ainda exercia a função de diretor das seleções de base da Espanha, Fernando Hierro declarou que o futuro da Fúria estava assegurado. Mais do que pela existência de uma série de novos potenciais craques (que até existe), a Espanha acredita ter encontrado a fórmula ideal para a transição dos meninos à seleção principal. A julgar pelos resultados e pelo que se vê em campo, tanto pelo projeto desenvolvido entre as equipes principal e menores do país como pela qualidade técnica das safras que têm surgido na nação ibérica, Hierro não está nada equivocado. Assim, com alguns titulares da equipe principal chegando ou passando da casa dos trinta anos, o envelhecimento da safra campeã do Mundo e bi da Eurocopa não deve ser motivos de preocupação ao torcedor espanhol. A transição já está bem encaminhada.

domingo, 8 de julho de 2012

Missão Londres

 Campeã Europeu Sub-21 em 2011, a Espanha Olímpica vem aí para tentar sua segunda medalha de ouro (getty images)

Passada a Eurocopa, o futebol espanhol se prepara para mais uma competição importante: os Jogos Olímpicos 2012. Dessa vez, contudo, quem irá representar a Espanha são os garotos da equipe sub-21, campeã do europeu da categoria no ano passado. Na última quinta-feira, o técnico Luis Milla deu a conhecer os nomes que irão a Londres tentar a conquista da medalha de ouro pela segunda vez. Na única e primeira vez, em 1992, em Barcelona, o grupo liderado por Guardiola, Luis Enrique, Ferrer e Cañizares passou por Colômbia, Gana, Itália e, na final, Polônia para conquistar a inédita medalha. A última aparição da Roja em Olimpíadas havia sido em 2000, na Austrália, quando a geração de Puyol, Xavi, Tamudo, Luque, Marchena e Albelda foi prata para Camarões de Samuel Eto'o.

Ao contrário do que muitos pensam, a medalha de ouro olímpica está sendo tratada como prioridade. Quando assinou contrato com a RFEF, em 2009, Milla começou a construir todo seu trabalho em função das Olimpíadas. Uma base que vem sendo trabalhada há três anos para chegar em forma em Londres.  Chama a atenção o fato de não haver nenhum jogador acima de 24 anos no elenco. O mais velho? Mata, justamente com 24 anos. Muitos se perguntam sobre por que nomes como Xavi, Iniesta e Villa não foram chamados para ser os jogadores acima de 23 anos. A resposta é simples: para Milla, seu trabalho não deve ser misturado com o de Vicente Del Bosque. Ele possui seu grupo e Del Bosque, o dele. Por isso as convocações de Mata, Adrián e Javi Martínez como os nomes acima de 23 anos. Os três trabalham com Milla desde 2009 e, logicamente, estiveram na conquista da Eurocopa Sub-21 em 2011.

A influência do Barcelona no momento espanhol é inegável. Todos os já tão debatidos valores barcelonistas foram devidamente absorvidos pela seleção principal, incluindo um dos principais deles: a preparação cuidadosa e atenta daqueles que estarão no time A em alguns anos. A Fúria Olímpica não é diferente. Joga com a bola nos pés, tratando-a com paciência e fazendo um jogo psicológico com o adversário.  Aprimorar essa fidelidade ao modus operanti que se estabilizou na Fúria adulta foi um dos marcos do trabalho de Milla. Um grupo bastante coeso e disciplinado tecnicamente. O Brasil, por exemplo, é o maior favorito por ter em Neymar, um dos principais jogadores do mundo, seu principal destaque individual, enquanto a Roja se dá ao luxo de manter uma equipe muito forte coletivamente. Incisiva, utiliza a exaustão seus jogadores ofensivos do lado do campo. Jogando num 4-2-3-1 que varia para um 4-3-3 em determinadas jogadas, Mata e Muniain se juntam a Adrián no ataque para ludibriar os adversários.

A Espanha, entretanto, terá um desfalque de peso. Principal jogador da equipe no Europeu, Thiago Alcântara não estará presente em Londres. Uma lesão nas costas na reta final da temporada passada o deixará de fora dos gramados por mais um mês. É inegável que a ausência de seu principal cérebro fará falta, mas a temporada de Isco, seu provável substituto, poderá não deixar cair a qualidade do meio-campo. Se confirmar mesmo a entrada do jogador do Málaga, Mata deverá ser centralizado para articular as jogadas junto de Ander Herrera. Apesar de jogar mais pelos flancos do campo, o jogador do Chelsea tem talento o suficiente para armar as jogadas no centro do meio-campo. Vale lembrar que ele foi, com 13 assistências, o segundo maior assistente da Premier League passada, perdendo somente para seu compatriota David Silva.

O setor esquerdo do campo será o principal trunfo de ataque. Com Jordi Alba, que foi liberado pelo Barcelona a disputar a competição, e Muniain colocando velocidade, é dali que sairão as principais chances de gols. Se, na Euro, o lateral foi a principal revelação, a lógica é que, com um grupo onde ele joga junto há mais tempo, as Olimpíadas seja seu playground. De acordo com o Diário Sport, Tito Vilanova não teria ficado muito satisfeito com o fato de Alba perder a maior parte da pré-temporada, mas foi convecido a aceitar isso. Em 2008, Messi viveu situação semelhante. Porém, Joan Laporta, à época presidente, declarou que é o sonho de qualquer atleta ganhar uma medalha olímpica.

Além de Alba, a defesa é bastante segura e passa por poucos apuros. No gol, De Gea foi sempre seguro. Não à toa, a maturidade apresentada na Euro Sub-21 atestou as virtudes para que o Manchester United acertasse os últimos trâmites de seu contrato. À sua frente, no miolo de zaga, a dupla formada por Domínguez e Botía é discreta mas sóbria. Na lateral direita, Montoya sobe tanto quanto Alba, mas é possível que se contenha mais um pouco e fique mais na cobertura. Independente das escolhas, existe uma única certeza: com ou sem força máxima, a Fúria é candidatíssima ao título olímpico. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Assustador

 O dono da bola: Iniesta trouxe o protagonismo para si, foi eleito o melhor jogador da Eurocopa e dá a volta por cima após uma turbulenta temporada (getty images)

Pode parecer exagero, mas o título que encabeça esse texto tem tudo a ver com o futebol da Espanha. Bastante criticado durante toda a Eurocopa, taxado de pragmático, chato e sonolento até mesmo pela imprensa espanhola, a Fúria deixava no ar uma interrogação: seria capaz de vencer e convencer? Pois bem, o tri-campeonato europeu, o segundo consecutivo (algo inédito na história da competição), serviu para jogar todas as argumentações anti-Espanha por ladeira abaixo. A Roja venceu, convenceu e foi campeã. Em sua melhor exibição em terras ucranianas, a equipe treinada por Vicente Del Bosque deu um enorme passo rumo à galeria dos maiores do esporte. Os 4x0 ante a Itália, tetra-campeã mundial, representa muito bem o poderio absurdo desse grupo.

Em campo, Del Bosque repetiu a mesma escalação que usou contra a mesma Itália na estreia na Eurocopa. Um onze inicial que, semanas atrás, criou dúvidas quanto ao estilo de jogo espanhol e gerou críticas ao treinador. Porém, o campeão mundial e agora europeu deu andamento ao que faltava: a ousadia. Se é para comparar, como a imprensa espanhola tanto gosta de fazer, a Espanha da final lembrou aquela avassaladora que conquistou a Eurocopa em Viena há quatro anos. Foi incisiva, utilizou bastante seus pontas, com destaque para a grande partida de David Silva, viu em Fàbregas um falso nove de excelente nível e, sobretudo, teve em Xavi seu principal articulador. 

O dono da camisa oito foi outro nome que decepcionava na competição. Como o blog já previa, o fato de Del Bosque adiantá-lo para um setor do meio-campo onde não estava acostumado a jogar foi um dos principais fatores para seu mau futebol no torneio. Além disso, o cansaço de uma temporada para lá de cansativa com o Barcelona e o surgimento de novos problemas físicos valeram para Xavi não mostrar nem 80% de seu futebol. Ele mesmo admitiu antes da bola rolar que se sentia um pouco decepcionado com suas exibições. "Gostaria de poder ajudar mais", disse. Na coletiva pré-jogo, porém, os múltiplos elogios de Del Bosque, que mostrou confiança no cérebro da equipe, valeram para seu futebol aparecer. Xavi tomou conta do meio-campo, assistiu Alba e Fernando Torres, cadenciou o jogo e, além disso, tomou conta de Pirlo durante os 90 minutos.

Os grandes trunfos da Roja para parar a Azzurra foram congestionar o meio-campo para evitar a superioridade numérica do losango italiano, alternar Xavi e Fàbregas no cerco a Pirlo e combinar retenção de bola e verticalidade, arriscando mais o passe longo e as ultrapassagens, utilizando bastante das infiltrações, algo que tanto faltava nessa equipe. Tanto que não houve o habitual controle da posse de bola (apenas 53% na primeira etapa e 57% no total), com mais erros de passe e equilíbrio nas conclusões enquanto houve disputa. Os acertos compensaram. A objetividade ficou em primeiro plano. Como bem disse André Rocha, a fantástica atuação não isenta e até enfatiza as críticas ao futebol apresentado nas fases anteriores. Uma verdade. De acordo com Cesare Prandelli, treinador da Itália, a Azurra sentiu problemas físicos, por falta de descanso - vide Chiellini, que chegou lesionado à Euro e se machucou outras duas vezes durante o torneio.

Um título que acrescenta ao currículo respeitável de Vicente Del Bosque a única competição que lhe faltava. Como treinador, o madrilenho pode ser orgulhar de ter conquistado Champions League, Copa do Mundo e Eurocopa, uma trinca desejável por qualquer técnico do planeta. Além disso, pelo Real Madrid, Del Bosque conquistou duas Ligas Espanholas e um Mundial de Clubes. Um título que mostra, de vez, ao mundo o talento de Jordi Alba. O melhor lateral esquerdo da competição abusou do bom futebol e mostrou-se sócio perfeito de Iniesta no setor esquerdo. A dupla, agora, irá se encontrar mais vezes em campo, visto que Alba retornou ao Barcelona. Mais um motivo para temer o time azulgrená e tentar achar mais motivos para pará-lo.

Mas quem merece um parágrafo à parte nessa conquista é justamente Iniesta. Após passar por uma temporada irregular onde as lesões novamente voltaram a atazaná-lo, o meio-campista brilhou. Eleito pela Uefa o MVP da Eurocopa - com justiça, diga-se de passagem -, Iniesta foi o ponto de equilíbrio da Fúria e voltou a ratificar sua importância para a seleção. "O homem mais querido por toda a Espanha"se destacou em todas as partidas da Roja no torneio, sem exceção. É um merecido prêmio a um jogador extremamente profissional, avesso às câmeras, humilde, que só pensa no trabalho. "Não jogo para ganhar Bola de Ouro, e sim para ganhar títulos com meu país e meu clube", afirmou na zona mista. Mas você merece, Don Andrés Iniesta.