segunda-feira, 25 de março de 2013

A hora da verdade

Na coletiva, Vicente Del Bosque mostrou-se confiante. O treinador afirmou que só irá forçar Xavi se o catalão estiver 100% (AS)

Na última quinta-feira, na coletiva pré-jogo contra a Finlândia, Vicente Del Bosque havia afirmado que seria necessário concentrar seus jogadores para o duelo contra os finlandeses antes de ir a Paris para o jogo decisivo contra a França. Para o treinador, os dois jogos teriam valores iguais. Ele parecia adivinhar do que viria pela frente. Na sexta-feira, a Fúria pecou por aquilo em que mais é criticada: o preciosismo. Durante o primeiro tempo, encarou uma super-retranca montada pelo técnico Paatelainen, que fixou duas linhas de quatro protegendo a retaguarda do arqueiro Menp. No entanto, em relação ao Barcelona quando encara retrancas, a Roja apostou nos chutes de fora da área, especialmente de Iniesta e Villa, mas sem resultados. 

O gol de Sérgio Ramos no início do segundo tempo jogou por água abaixo o esquema de Paatelainen. Obrigada a sair ao jogo, a Finlândia deixou espaços, não aproveitado pela Espanha, que preferiu cadenciar o jogo. O castigo veio a dez minutos do fim, quando Arkivuo aproveitou a lacuna deixado por Arbeloa na direita e cruzou para Pukki marcar. O lance gerou uma pequena discussão entre o lateral do Real Madrid e Piqué, que teve que cobrir a lateral direita, deixando espaço suficiente para o atacante finlandês anotar seu gol.

Amanhã, às 17h, horário de Brasília, a Fúria irá precisar emular, acima de tudo, seus melhores momentos nos últimos anos para sair do Saint-Denis com três preciosos pontos. No confronto em Madrid, há quatro meses, uma cínica França relegou a bola aos espanhóis durante 90% do tempo e levou perigo ao gol de Casillas em contra-ataques. Deve repetir a estratégia que serviu para tirar dois pontos da seleção de Del Bosque no Vicente Calderón, quando Giroud silenciou o estádio do Atlético de Madrid aos 47 minutos do segundo tempo.

Antes de encarar a Roja, os Bleus fizeram o dever de casa. Contra a Geórgia, uma tranquila vitória por 3×1, que teve Paul Pogba como destaque. O volante de 20 anos é autor de uma grande temporada pela Juventus e começa a mostrar desempenho positivo pela seleção. Ele dominou o meio-campo e fez excelente dupla com Valbuena, autor de um gol e uma assistência para Ribéry marcar. Por outro lado, Didier Deschamps vive um dilema com Benzema. Sem marcar pela França há 10 jogos, o atacante merengue, ainda por cima, foi cobrado por um grupo de extrema direita francês por não cantar o hino nacional do país. Em entrevista à Rádio Marca, Deschamps deixou em evidência sua confiança em Benzema, que “vem jogando bem, mas está dando azar de não ir às redes”.

Na Espanha, Vicente Del Bosque irá esperar por Xavi até o último momento. Com desconfortos musculares, ele foi poupado na última sexta e tem sua participação colocada em xeque. O treinador madrilenho afirmou não querer forçar o uso do meio-campista catalão: se ele não estiver em condições, não irá jogar. Se Xavi não jogar, é provável que Iniesta continue no meio-campo e Mata e Fàbregas disputem uma posição no ataque. À exceção de um apagão que gerou o gol de empate da Finlândia, os defensores têm se comportado bem. Mas encarar uma França que irá apostar no contra-ataque irá requer mais atenção de Arbeloa, que deixa muitos espaços às suas costas. Monreal, pela esquerda, terá que ser tão incisivo quanto Alba, fora da partida por lesão. Del Bosque tende a insistir com Villa no ataque, pois Silva, suspenso, é desfalque confirmado. 

Os espanhóis têm a vantagem da alta posse de bola. Mas há a ressalva de que especialmente amanhã será necessário mais profundidade e rapidez na troca de passes para desgastar o meio-campo francês. Diminuir o jogo pelo centro a fim de procurar mais os pontas será crucial. Com Pedro, de fato, a Espanha irá ganhar em incisão pelo flanco. A França, por sua vez, trocou o esquema nos dois últimos jogos contra o selecionado de Del Bosque. Ainda com Laurent Blanc, os Bleus entraram com uma trinca de volantes, abdicando de um meio-campista de ligação. Líder do grupo com 10 pontos, uma vitória colocará os franceses a um passo e meio da Copa. 

Para os mais supersticiosos, Paris costuma ser o local de glórias para o esporte espanhol. O maior exemplo é Rafael Nadal, heptacampeão de Roland Garros na capital francesa. Além dele, o ciclista Alberto Contador ganhou duas etapas do Tour da França em Paris, Manuel Maldonado foi medalha de ouro da prova de 1.500 no Europeu de pista coberta de atletismo em 2011 e o Barcelona de Puyol, Xavi e Iniesta voltou a ganhar uma Uefa Champions League no Saint-Denis, palco do clássico desta terça-feira. 

Prováveis escalações, de acordo com o Marca. 
FRANÇA: Lloris; Jallet, Varane, Sakho, Clichy; Pogba, Matuidi, Valbuena; Benzema, Giroud, Ribery.

ESPANHA: Víctor Valdés; Arbeloa, Piqué, Sergio Ramos, Monreal; Busquets, Xabi Alonso, Iniesta; Villa, Fàbregas (Mata), Pedro.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A redenção de Villa

Messi e Villa acabaram com o Rayo Vallecano. O Guaje, após viver um pequeno inferno astral, recuperou sua moral na Catalunha (getty images)

David Villa viveu um período infernal no Barcelona. Após retornar de uma lesão que o tirou dos gramados por quase oito meses, o Guaje se viu rebaixado à terceira opção do ataque barcelonista, sendo muitas vezes preterido por Alexis Sánchez e Tello. Não obstante, ele ainda voltou a sofrer uma lesão muscular no final de janeiro, justamente no período no qual parecia restabelecer sua moral com Tito Vilanova (ou Jordi Roura, se preferir). A saída dele era iminente. De acordo com a imprensa espanhola, houve muito assédio de Arséne Wenger, treinador do Arsenal, para levá-lo a Londres ainda em janeiro.

No entanto, de grão em grão, o treinador percebeu a necessidade de ter um atacante como Villa em seu esquema, que contava com um meio-campista deslocado ao setor mais ofensivo do 4-3-3. Com Pedro em má fase, a Messi-dependência ficou clara. E, após as derrotas para Milan e Real Madrid, o nome do Guaje passou a ser cobrado. Em enquete promovida pelo Diário Sport logo após a eliminação na Copa do Rei para o maior rival, quase 87% dos votantes queriam Villa de titular nos jogos seguintes. E ele mostrou por que ainda tem bola para figurar no onze inicial pelas próximas temporadas.

Na partida seguinte, contra o Sevilla, o camisa sete foi essencial para a construção da vitória apertada. Primeiro porque, escalado como centroavante, testou firme um cruzamento de Daniel Alves e empatou a partida. Segundo porque, de acordo com as estatísticas pós-jogo, ele foi quem mais chutou às redes de Beto. Estava claro que para furar retrancas semelhante à que a equipe andaluza montou (mas não tão feroz quanto a do Milan no San Siro), Villa seria necessário.

O Guaje ratificou sua volta à boa fase na Catalunha na partida decisiva contra o Milan. Roura optou por centralizá-lo, deslocando Messi à ponta direita do ataque, mas com liberdade para concluir as jogadas no centro, como o seu primeiro gol mostrou. Villa foi importante taticamente, puxando os defensores rossoneros para longe do camisa 10 e dando liberdade ao argentino. Faltava um gol, que saiu na segunda etapa. Após recuperação de Mascherano, Xavi acionou o Guaje, que chutou com categoria no ângulo de Abbiatti. A comemoração com raiva foi um sinal de redenção para quem parecia muito próximo de ir embora do Barcelona.

Ontem, contra o Rayo Vallecano, no fechamento da rodada 28, ele fez sua melhor partida na temporada. À esquerda do ataque, Villa se movimentou com louvor, mostrou uma letal conexão com Messi, a quem assistiu duas vezes, e deixou sua marca, após assistência do argentino. Messi à parte, foi o melhor em campo e saiu do Camp Nou ovacionado pelos culés ao término da partida. Em momento de fase decisiva na Champions League, onde os blaugranas irão enfrentar o PSG de Ibrahimovic, Tito Vilanova, que retorna na próxima semana, sabe que poderá contar com Villa, a cada jogo mais confiante e de volta ao seus melhores momentos.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Unidos

Contra o Barcelona, Varane marcou seu gol abraçado com José Mourinho (AS)

Entre dezembro e fevereiro, o Real Madrid viveu uma grave crise nos vestiários. A divisão entre espanhóis e portugueses era clara e o estopim foi a titularidade de Adán em um difícil confronto contra o Málaga na Andaluzia, quando Mourinho optou por deixar Casillas no banco por questão técnica. Para piorar a situação merengue, o goleiro acabou se lesionando numa disputa de bola com Arbeloa, o que resultou num período de três meses fora dos gramados. O jeito foi contratar um goleiro novo, que acabou sendo o canterano Diego López.

No início de fevereiro, Sara Carbonero, a namorada de Casillas, confirmou a um canal de televisão espanhol os consecutivos atritos dos jogadores com o treinador nascido em Setúbal. Até com Cristiano Ronaldo o bi-campeão da Champions League discutiu de maneira áspera. Em campo, o desempenho era bastante abaixo da média se comparado com a equipe da temporada passada. O reflexo disso era a abissal diferença para o Barcelona, que chegou a estar 18 pontos à frente na liderança, e até para o Atlético de Madrid.

Era difícil imaginar os merengues saindo dessa crise. Ainda mais porque o calendário ingratamente colocou dois confrontos consecutivos contra o Barcelona e um decisivo contra o Manchester United no Old Trafford, pelas oitavas de finais da Uefa Champions League. No entanto, paradoxalmente, o melhor que poderia ter acontecido para os blancos foram esses confrontos contra o maior rival. A começar porque, de maneira merecida, a vitória por 1x3 no Camp Nou marcou a reconciliação dos jogadores com Mourinho. O gol que sacramentou a passagem à final da Copa do Rei, marcado por Varane, teve de especial a comemoração do francês, que, ao lado de seus companheiros, abraçou o treinador português.

Não bastasse a vitória em Barcelona, o Real Madrid se abasteceu de moral para encarar o líder da Premier League em seus domínios ao voltar a derrotar o Barcelona utilizando uma equipe mista. Novamente, os merengues neutralizaram o jogo do rival e soube o que fazer nos momentos que tiveram a bola. Pepé foi claro após a partida: "necessitávamos de vitórias desse jeito para enfrentar o United em Manchester".

A sequência de vitórias diante dos azulgrenás serviram para ratificar o retorno da melhor versão de Cristiano Ronaldo, autor de dois gols no Camp Nou. O contra-ataque também está fino. O segundo gol contra o Barcelona pela Copa foi demonstração de como a transição madridista é letal. Messi errou passe no ataque e, dez segundos depois, viu seu time sofrer o gol. Di María desconcertou Puyol e Ronaldo concluiu. No setor defensivo, Varane e Sergio Ramos formaram uma sólida dupla de zaga na Catalunha, mas Pepe teve atuação especial no confronto de sábado. Mourinho pode deslocar Ramos à lateral direita e deixar francês e português no comando da retaguarda, com Fábio Coentrão, em boa fase, na lateral esquerda.

Por mais que encarar o Manchester United seja tarefa árdua (os merengues não fizeram boa partida na ida), o Real Madrid recuperou a auto-estima necessária para o duelo decisivo em busca do título europeu. Se a taça da Liga Espanhola dificilmente escapará das mãos do Barcelona, a orelhuda é um sonho possível. E impulsionado por um mágico Cristiano Ronaldo, os blancos são capazes de levarem o troféu ao Santiago Bernabéu.