quinta-feira, 29 de março de 2012

O paradoxo de Bilbao

O Athletic Bilbao da Liga Europa encanta e é favorito para conquistar a taça (AP Photos)

O Athletic Bilbao é um time confuso. E, ao mesmo tempo, confiável. Esse paradoxo se explica com certa facilidade: os leones têm feito, na Liga Espanhola, campanha bastante irregular. No início da semana, após o quarto tropeço consecutivo, perante o Sporting Gijón no San Mamés, cravei sem hesitar: não vão à próxima Champions League. A equipe não consegue emplacar uma sequência de vitórias e somam 11 empates. Um desempenho abaixo da crítica se comparado ao que os comandados de Bielsa têm feito em âmbito continental. Na Liga Europa, é show atrás de show. A eficiência da equipe é praticamente incontestável, sobretudo no mata-mata, quando conseguiu vitórias convincentes ante Manchester United e hoje contra o Schalke 04 de Raúl na Alemanha. Vale citar o triunfo sobre o PSG na fase de grupos. Comparações à parte, o Athletic Bilbao da Liga Europa é um Athletic Bilbao à Barcelona.

O Athletic Bilbao da Liga BBVA
Não importa se o início de temporada tenha sido preguiçoso ou se adversários como Rayo Vallecano, Bétis, Villarreal, Racing Santander e Sporting Gijón tenham sido mais duros do que o que se esperava. Os tropeços em casa para as equipes acimas - entre empates e derrotas - certamente não estavam nos planos do torcedor mais pessimista do clube. São muitos pontos desperdiçadas de maneira infantil, que o impedem de brigar ponto a ponto por Champions League. A diferença do Athletic para o Málaga, último clube da zona da competição, é de nove pontos.

Bielsa não esconde a insatisfação com a irregularidade apresentada no competição nacional, mas logo trata de por panos quentes na situação sempre que perguntado. O argumento do treinador é simples: o campeonato não acabou, faltam nove jogos e, matematicamente, a equipe ainda tem chances. Para os bascos torcedores do Athletic, o que mais deve interessar é o desempenho exercido pela equipe em solo europeu. Além disso, é sempre bom lembrar: o bilbaínos estão na final da Copa do Rei pela segunda vez em três anos.

O Athletic Bilbao da Europa
Rodada após rodada, o Athletic Bilbao prova seu valor na Liga Europa. A disposição em campo é outra. A vontade vencer, maior. São fulminantes, agressivos, marcam com muita intensidade e são fatais em contra-ataques. O time tem sido competente e é dado por muitos como favorito a copar a taça.

A eliminatória contra o Manchester United e o jogo de ida contra o Schalke 04 foram muito importantes ao Athletic. O time vinha de uma classificação duvidosa ante o Lokomotiv, em que jogou muito mal na Rússia, mas as três vitórias consecutivas, incluíndo duas em solo inglês e alemão, foram obtidas com grande superioridade por parte do Bielsa Team. A vitória de hoje contra o Schalke 04 foi a prova da força desse time. Nem mesmo a excelente partida de Raúl, autor de dois gols e jogador que mais levava perigo à meta de Iraizoz, impediu que virada fosse construída. Novamente, pratas da casa fizeram a diferença: Susaeta foi o nome do jogo e Muniain, De Marcos e Llorente marcaram os gols da vitória.

Assim, os Leones Indomables, com El Rey León na referência, e o genial e genioso Marcelo Bielsa, taxado por Guardiola de melhor treinador do mundo, conquistou a Europa. E continua vivo rumo ao histórico título europeu.

Texto de Rodrigo Weber, da Trivela, que explica melhor a parte tática da equipe de Marcelo Bielsa. Vale a leitura, clicando aqui

quarta-feira, 28 de março de 2012

Parado

Messi e Ibrahimovic passaram em branco e pouco apareceram no empate em Milão. Decisão fica para o Camp Nou (getty images)

Cercado de expectativas, o duelo entre Milan e Barcelona não chegou a cumprir as promessas de uma grande partida. Quem aguardava um jogo cheio de emoções, igual o da fase de grupos, teve de se contentar com uma partida em que pouquíssimas chances claras de gol aconteceram, para ambos os lados. A decisão fica para o jogo no Camp Nou, na terça que vem: qualquer empate com gols dá a classificação ao Milan, enquanto se o zero não sair do marcador leva a partida à prorrogação.

O Barcelona teve 62% da posse de bola, mas apenas três chances reais de gols. No jogo de ida das quartas-de-finais da Champions League, os azulgrenás tiveram a bola durante os 90 minutos, mas o insuficiente para bater a meta defendida pelo italiano Abbiati, ex-Atlético de Madrid. No 0x0 no San Siro, todos os elogios vão para a equipe de Milão. Massimiliano Allegri mandou a campo sua equipe no 4-3-1-2. Quando atacado, Boateng, que jogava no auxílio a Ibrahimovic e Robinho, na posição de trequartista, voltava para fechar a linha de três formada por Seedorf, Nocerino e Ambrosini. Os azulgrenás não conseguiam criar jogadas tão incisivas, já que o Milan fechava os espaços. Se, nas jogadas ofensivas, os rossonero mostram ser totalmente dependentes de Ibrahimovic, na parte tática a equipe é muito encaixada. A aplicação tática da equipe de Milão é louvável e digna de elogios.

A escalação inicial que Guardiola mandou a campo revela um ponto importante: mesmo tendo um plantel extremamente superior, o treinador teve respeito pelo atual campeão italiano. Abdicou de Fàbregas para colocar Keita, a fim de ganhar mais força na marcação. A preocupação quanto às jogadas aéreas também ficou clara com a presença do malinês, bom pelo alto. Mas soa como inexplicável a não entrada de Cesc à medida que os minutos passavam e o Barça controlava mais o jogo. Ao substituir Iniesta, Pep optou por Tello, jogador da base, que nem ficha na equipe A tem, ao invés do meio-campista. A imprensa catalã ainda não comentou nada sobre uma possível lesão ou algo como uma possível intriga nos bastidores. Inicialmente - e continua sendo -, a presença de Fàbregas os noventa minutos no banco de reservas tem a ver como uma opção técnica de Guardiola. De fato, o rendimento de Cesc tem sido baixo em relação ao seu início no Barcelona nos últimos jogos. Contudo, em determinado momentos do jogo sua presença seria fundamental: Xavi, Iniesta, Messi e Alexis Sánchez pouco chutaram a gol, um dos melhores atributos do camisa 4.

Em termos de ataque, Messi e Xavi foram os mais lúcidos, mas aquém do que podem fazer. Jogando às costas dos volantes, Messi não teve paz: quando dominava a pelota, Ambrosini e até Nesta saía de seu posicionamente original para tentar desarmá-lo. Caindo mais pela direita na primeira etapa, levou perigo à meta de Abbiati nos primeiros 15 minutos. Embora não estivesse em uma boa noite, suas arrancadas levaram os aficionados rossoneros a calafrios. Segundo Paulo Andrade, narrador dos canais Espn que transmitiu o jogo in loco, a cada drible de Messi próximo da área era possível perceber a expressão de nervosismo vindo dos torcedores. Os erros de La Pulga eram comemorados como gol.

Outra evidência clara é a temporada abaixo da média de Iniesta. Muito preso à esquerda, tem produzido pouco. As deveras lesões ao longo de 2011/2012 limita seu futebol, mas o fato é que também tem a ver com a parte tática. Mais adiantado à última linha, não aparece muito na fluência de jogo - que sobrecarrega mais Xavi. Hoje, quem jogou à Iniesta, mas com as atenções voltadas mais a parte defensiva, foi Keita. Nos outros jogos, Fàbregas, com quem reveza posição com El Albino, e Thiago Alcântara foram titulares por ali.

Por um lado, a linha defensiva não deixou a desejar. Mascherano e Puyol fizeram partidas seguras e foram importante na marcação a Ibrahimovic, que passou nulo. O argentino, aliás, foi o responsável direto pela marcação de Robinho, que também fez uma partida muito ruim. Na única chance real que teve, logo no início do jogo, o brasileiro desperdiçou frente a frente com Valdés. Piqué merece comentário à parte. Ainda não é o zagueiro da temporada passada, que foi eleito o melhor do mundo, mas parece disposto a voltar a ser. Hoje, mostrou atenção nas jogadas aéreas, foi soberbo na marcação a Ibrahimovic e voltou a aparecer em algumas jogadas ofensivas: em determinado momento do jogo, deu uma arrancada e tocou para Xavi tabelar com Alexis Sánchez e quase marcar.

Se Guardiola lamentou o empate sem gols e retornou a afirmar que o jogo no Camp Nou será terrível, ao menos a partida teve um gosto especial a Puyol. O capitão chegou a 549 jogos oficiais com o uniforme azulgrená e igualou Migueli como segundo jogador que mais entrou em campo pelo clube da Catalunha, sendo superado apenas por Xavi (617). A bandeira blaugrana estreou em 1999 contra o Valladolid. Van Gaal, treinador à época, o derreteu de elogios e resolveu mandá-lo a campo. Enquanto isso, as expectativas já se renovam para o jogo de volta entre as duas equipes. A eliminatória está aberta e a vida dos atuais campeões da competição não está fácil.

Já o Real Madrid...
... colocou um pé e meio na semifinal. Para ser justo, os merengues já estavam virtualmente na semifinal desde quando o sorteio definiu que o seu adversário seria o APOEL. José Mourinho inovou na escalação: iniciou o jogo com Sahin no lugar do ausente Xabi Alonso, suspenso. O turco não deixou a desejar: no primeiro tempo insonso do Real Madrid, foi dele as duas enfiadas de bola para Cristiano Ronaldo levar perigo ao gol do Apoel e o toque para o gol incrivelmente perdido por Benzema. Autor de dois gols, o francês faz sua melhor temporada na capital: são 28 gols e 13 assistências, números de atacante top.

Kaká merece menção honrosa. O brasileiro entrou quando o jogo parecia encaminhado ao empate sem gols e deu dinamismo às jogadas blancas. Marcou um gol e deu uma assistência preciosa para outro tento. Com o Bayern vencendo o Olympique de Marseille na França por 2x0, a probabilidade de Bayern de Munich x Real Madrid nas oitavas são enormes. Portanto, vem aí Robben, Real Madrid. O ex-merengue, que saiu chutado de Chamartín, deve estar sedento por vingança e disposto a deixar o Madrid fora da tão sonhada final.

terça-feira, 27 de março de 2012

Prévia: Milan x Barcelona

Messi e Xavi já aprontaram no San Siro nesta temporada, quando o Barcelona venceu por 3x2. A torcida culé espera uma nova exibição de seus craques nos próximos dois confrontos contra os rossonero (reuters)

O sorteio dos grupos da Liga dos Campeões marcava o decantado reencontro de Zlatan Ibrahimovic com Josep Guardiola, seu desafeto reconhecido. O sueco saiu do Barcelona disparando contra o treinador, a quem apelidou de "destruidor de sonhos". Para Ibrahimovic, Pep foi o principal responsável por seu fracasso no clube no qual ele sempre sonhava em atuar quando criança, quando assistia ao seu ídolo Ronaldo desfilar magia com a camisa azulgrená. Pois bem, a competência de Milan e Barcelona, que eliminaram Arsenal e Bayer Leverkusen respectivamente nas oitavas-de-finais, e novamente o sorteio colocaram Ibrahimovic e Guardiola frente a frente novamente. Entretanto, não será um "mero" confronto de fase de grupos. Os jogos de agora valerão muito mais: está em xeque a classificação para as semifinais do torneio, que terá sua final em Munich, na Allianz Arena.

Ibrahimovic, que marcou no confronto em San Siro, conseguirá liderar o Milan à primeira semifinal de UCL em cinco temporadas ou o Barcelona de um cada vez mais extraterrestre Lionel Messi confirmará o favoritismo e continuará vivo rumo ao penta? Para a prévia deste principal confronto das quartas-de-finais da principal competição de clubes do mundo, contaremos com a excelente colaboração de Nelson Oliveira, do blog Quattro Tratti, especializado em futebol da Itália. Confira a prévia de Milan x Barcelona e depois, nos dois endereços, o resumo do embate. Boa leitura!

Temporada até aqui
Milan: O Milan é o atual líder do campeonato, com 63 pontos, vantagem de quatro sobre a Juventus. A ultrapassagem rossonera, que aconteceu entre janeiro e fevereiro deste ano, marca o período positivo da equipe, que não perde desde o fim de janeiro, quando saiu derrotada contra a Lazio. No campeonato italiano, a disputa pelo scudetto continua aberta, mas o Milan tem tabela mais simples que a Juve e, ao contrário da rival, não tem perdido pontos contra equipes menores. Na Coppa Italia, o Milan caiu nas semifinais justamente frente à Velha Senhora, na semana passada. Na Liga dos Campeões, a equipe fez seu melhor e seu pior jogo na temporada: respectivamente, a vitória por goleada sobre o Arsenal e a derrota por 3 a 0 no jogo de volta. É o Milan do primeiro jogo contra os ingleses que será necessário para o duelo contra o Barça.

Barcelona: O meio de semana passado marcou um novo rumo na temporada barcelonista. O tropeço do Real Madrid frente ao Villarreal ressuscitou o Barcelona na Liga Espanhola e o discurso agora é outro: a Liga está aberta. Se o vestiário havia jogado a toalha com a vantagem de 10 pontos, afirmando que era praticamente impossível reverter a situação, a atual diferença de 6 pontos aumenta a confiança desse espetacular grupo, que está convicto de que a remontada é possível. Vale citar que a tabela merengue é mais complicada que a blaugrana e que há um superclássico a ser disputado, no Camp Nou. Na Copa do Rei, a equipe se classificou à terceira final em quatro temporadas e é favorita máxima ao confronto contra o Athletic Bilbao, na final de Madrid.

Pontos fortes
Milan: Sem dúvidas, o Milan tem no ataque seu principal ponto forte. O Diavolo tem o melhor ataque do campeonato italiano, com 59 gols marcados (cinco a mais que o Napoli, o segundo colocado no quesito, e 13 a mais que a Juventus), e tem também o artilheiro da competição: Zlatan Ibrahimovic, com 21 tentos. O sueco faz uma de suas melhores temporadas no futebol europeu - comparável com a de 2008-09, pela Inter - e é o grande responsável pela ótima temporada da equipe de Via Turati. No ataque, Robinho tem sido um ótimo coadjuvante e, se não acerta a pontaria nas conclusões, abre muitos espaços e também dá assistências. O meio-campo, sempre participativo, também é uma das chaves para o bom desempenho ofensivo da equipe: Nocerino e Boateng, na melhor fase de suas carreiras, são importantíssimos para a fluência do jogo do Milan e serão fundamentais no confronto, já que é através do toque e da posse de bola que o Barcelona envolve seus adversários.

Barcelona: A ofensividade da equipe continua sendo a principal arma dos blaugranas. Com os oponentes mais atentos, Guardiola vem apostando numa equipe mais móvel e mutante no desenho tático. Cesc Fàbregas e Alexis Sánchez, as novidades entre os titulares, promovem intensa movimentação com seus companheiros e o time foge da marcação adversária em qualquer esquema. Esquema este que está em indefinição. Após passar metade da temporada no 3-4-3, Pep resolveu voltar ao antigo esquema, 4-3-3, exatamente quando o plantel parecia adaptado às novas funções. Com a lesão de Adriano e a descoberta do novo problema de Abidal, é bastante provável que o 3-4-3 seja a tática a ser utilizada. A outra probabilidade é a utilização de Puyol na lateral esquerda, como no confronto contra o Real Madrid na semifinal da temporada passada. O atual campeão europeu não tem deixado a desejar na competição continental: passou da fase de grupos com tranquilidade, vencendo o Milan em Milão. A LC é palco das melhores exibições de Messi, que, contra o Bayer Leverkusen, anotou cinco para chegar ao topo da artilharia da atual edição.

Pontos fracos
Milan: O grande problema do Milan nos jogos contra o Barcelona será a ausência de Thiago Silva. Lesionado na partida de sábado contra a Roma, o zagueiro brasileiro deve fazer falta: é um dos principais nomes da posição na atualidade e seus prováveis substitutos estão bem aquém de sua fase. Bonera é temerário por si só e Nesta, além de atravessar problemas físicos constantes, não joga desde o fim de janeiro. Sem Thiago Silva - e também sem Abate no primeiro jogo -, as chances de a equipe sofrer gols crescem bastante. Pela vulnerabilidade na defesa, o Milan também pode acabar perdendo a verve ofensiva de seus meias, que serão ainda mais exigidos para auxiliar na marcação do que seriam caso a defesa estivesse completa. Sacrifício certo para Ambrosini, Nocerino e Seedorf, que correrão muito durante o jogo. Considerar a participação de Gattuso ao menos em parte da partida poderia fazer a diferença na combatividade no meio-campo.

Barcelona: A fase de Piqué gera desconfiança. Desatento, tem falhado à rodo e colocado em xeque sua titularidade. O gol contra o Mallorca, no final de semana, pode elevar a moral do catalão, que precisa recuperar a boa fase da temporada passada para ajudar seus companheiros de zaga na difícil missão de marcar Ibrahimovic. O Barcelona da Era Guardiola também costuma passar por momentos de dificuldade quando enfrenta equipes que procuram desempenhar a mesma função que os blaugranas estão acostumados a exercer: atacar e dominar o jogo. Outras fraquezas da equipe aparecem quando o adversário pressiona a saída de bola, obrigando Piqué, Puyol ou Busquets a darem chutões para frente, e também quando Xavi sofre forte marcação. Mesmo dispondo de outros jogadores decisivos, o Barcelona perde em criação quando seu maestro é bem marcado. Na épica semifinal contra a Inter em 2009-2010, José Mourinho soube anular as peças-chaves do time da Catalunha: montou um esquema que asfixiou Xavi e não deixou Messi receber bolas perto da área.

Expectativas
Milan: Apesar de todo seu histórico na Liga dos Campeões, o Milan entra praticamente como um franco-atirador contra o Barcelona. A superioridade técnica da equipe de Messi, Xavi, Iniesta e companhia é inegável e, por um lado, dá certa despreocupação ao Milan, já que a obrigação de passar de fase é barcelonista. Se for eliminado, mas permanecer de cabeça erguida, o time rossonero continuará tranquilamente no seu percurso rumo ao bicampeonato nacional, enquanto um vexame poderá atrapalhar o restante da temporada e abrir feridas já latentes, como a do departamento médico da equipe. O Milan Lab não tem conseguido resolver os problemas crônicos de lesão na equipe e foi recentemente criticado por Ibrahimovic. Do sueco, aliás, a torcida espera uma grande exibição. Muito contestado por não fazer grandes atuações em jogos decisivos, Ibra foi o responsável pela classificação ante ao Arsenal e, motivado, tentará vitimar também a sua ex-equipe e dar uma resposta a Guardiola, seu desafeto.

Barcelona: Com a moral elevada após a sobrevida na liga espanhola, o Barcelona chega como favorito para o duelo. Guardiola, contudo, mantém um discurso humilde e tenta tirar o favoritismo de sua equipe. Na coletiva pré-jogo contra o Sevilla, há duas semanas, afirmou que preferia enfrentar outra equipe e citou que serão duas terríveis partidas. Dentro de campo, o catalão tem dúvidas quanto à parte tática. Contra o Mallorca, Pep não gostou nada da atuação de sua linha defensiva no 3-4-3 e viu a equipe deslanchar exatamente após mudar para o usual 4-3-3. Xavi, poupado no final de semana, volta à equipe titular, assim como Daniel Alves. Por mais que o Barcelona seja favorito por todo futebol que tem mostrado nos últimos anos, o Milan é um grande europeu, caminha para o bicampeonato italiano e vai para a partida com um sentimento de revanche, pelos recentes resultados entre as duas equipes. Não há dúvidas que os dois jogos serão os mais esperados da temporada europeia até o momento.

Prováveis escalações
Milan: Abbiati; Zambrotta (Bonera), Nesta, Mexès, Antonini; Nocerino, Ambrosini, Seedorf; Boateng; Robinho, Ibrahimovic.

Barcelona: Víctor Valdés; Daniel Alves, Mascherano, Piqué, Puyol; Busquets, Xavi, Iniesta; Alexis Sánchez, Messi, Fàbregas.

segunda-feira, 26 de março de 2012

30ª rodada: Esperanças

Quem diria que os torcedores do Zaragoza viriam um Apoño tão decisivo na reta final de Liga? (getty images)

Zaragoza 1x0 Atlético de Madrid
Nas duas temporadas anteriores, o Zaragoza salvou-se do rebaixamento graças a um excelente segundo turno. Os maños fizeram campeonatos semelhantes: um primeiro turno decepcionantes, que o manteram na última colocação, e uma segunda metade da temporada tão incrível que tirou a equipe não só do último lugar como da zona de rebaixamento. Em 2011/2012, o roteiro parecia caminhado. Mesmo com um elenco um pouco superior em relação a outrora, a campanha blanca conseguiu, nos primeiros seis meses, ser pior do que nos dois últimos anos. O roteiro já estava escrito e necessitava apenas de uma revisão para cortar excessos e acrescentar uma ou outra linha. Apagar tudo o que havia escrito e começar uma nova história, ainda que baseada na antiga, dependeria do Zaragoza. Pode parecer um pouco tardia, mas o inicio da recuperação começou. O dejá vú será permitido?

Os 9 pontos ganhos em 15 disputados dá uma sobrevida sensacional à equipe de Aragão. Mais: com os adversários diretos pelo descenso pontuando pouquíssimo, os comandados de Manolo Jiménez chegaram aos 25 pontos de Sporting Gijón e Racing Santander, os dois outros times da zona de rebaixamento, ficando a seis do Granada, primeira equipe fora do descenso. Em campo, melhora defensiva e atuações decisivas de Apoño tem feito a diferença. Contra o Valencia, já havia feito dois gols. Ante o Atléti, um gol de pênalti aos 49 minutos do segundo tempo que levou La Romareda à loucura. A solvência defensiva dada por Jiménez a linha de 4 tem feito efeito. O grande trabalho de Lanzaro, Mateos, Paredes e Abraham impediram Falcão García, Arda Turan, Adrián e Sálvio levarem perigo à meta de Roberto. Enquanto isso, do lado colchonero, tornou-se tarefa árdua a conquista de uma vaga na próxima LC.

Espanyol 1x2 Málaga
A vitória malaguesa em Barcelona foi daquelas que eleva a moral do grupo. Contra um adversário direto, que abriu o placar através de cobrança de falta à Ronaldinho Gaúcho de Phillipe Coutinho, destaque blanquiazul nos últimos jogos, a equipe não se abateu, manteve a calma e jogou como contra o Real Madrid, há duas semanas. Por um lado, a vitória mostra uma outra faceta e ratifica a força do elenco. Se Rondón e Cazorla, melhores jogadores da temporada, não foram decisivos, apareceu Demichelis e, quem diria, van Nistelrooy para tirarem o Málaga do sufoco. O holandês, que não terá seu contrato renovado, renasce das cinzas em um momento crucial. Ao Espanyol, por sua vez, faltou ser letal. É uma equipe boa de ser ver jogar, pela proposta de jogo voltada ao ataque, a ousadia de Coutinho e Weiss pelo flanco, mas faltou acertar o último de passe e alguém com olfato de gol na frente. Uche esteve em noite terrível e pouco participou do jogo. A partida marcou uma curiosidade das mais irônicas: Kameni, que atuou no Espanyol por oito temporadas, estreou no Málaga justamente no Cornellà El-Prat. Ovacionado pela torcida périca antes da bola rolar, fez uma partida boa.

Getafe 3x1 Valencia
O Valencia segue em situação de alerta. Após a excelente vitória em Bilbao, os chés desandaram. Não bastasse a derrota para o colista Zaragoza em pleno Mestalla no meio da semana, foram engolidos pelo Getafe em Madrid. O resultado dessa inconstância no segundo turno é o terceiro lugar, antes certo, ficar à perigo. A equipe já não é mais unanimidade nenhuma e, por exemplo, foi alcançada pelo Málaga, que tem os seus mesmos 47 pontos. No Coliseum Alfonso Pérez, Soldado, que na temporada passada havia marcado quatro gols, tentou fazer valer a lei do ex novamente, mas Pedro Ríos, Miku e uma bobeiraçao de Bruno fizeram o Getafe virar ainda na primeira etapa. Os azunoles têm feito um segundo turno acima da média. Firme, sério e com um meio-campo forte, sonhar com Liga Europa não é nenhuma besteira: atualmente, estão a quatro pontos do Osasuna.

Athletic Bilbao 1x1 Sporting Gijón
O Athletic Bilbao não vai à UCL. Em texto mais detalhado, explico o porquê. O elenco sente a coinciliação com três campeonatos diferentes, as atenções à Liga Europa, mesmo com Bielsa negando a cada coletiva, são evidentemente maiores e a forma física de algumas de suas peças-chaves estão indo por água abaixo. O melhor exemplo disso é Llorente. O centroavante, quando apto, é extremamente importante e o melhor jogador dos leones. Mas as lesões o atrapalham bastante. Retornando após dois jogos fora, se lesionou no final da partida e é dúvida para a partida contra o Schalke 04, na quinta-feira. No lado asturiano, a situação ainda é delicada. Clemente foi claro após a partida. O ponto conquistado não leva o Gijón a lugar nenhum, mas é bom para o psicológico da equipe. A confiança após o empate fora de casa, num dos campos mais difíceis da Espanha, tem que ser comemorado.

Mallorca 0x2 Barcelona
Antes da visita ao Milan pela Champions League, o Barcelona passou por momentos de apuros no Ono Estadi. Com Xavi poupado, Daniel Alves suspenso e Adriano lesionado, Guardiola optou pela utilização do 3-4-3, mas viu novamente a tática desbalancear sua linha defensiva. Mascherano, Piqué e Puyol bateram cabeça, viram Álvaro, Víctor, Hemed e Gonzalo Castro passearem pelo setor defensivo e só melhoraram quando Guardiola substituiu Fàbregas por Montoya, jogando o garoto na lateral direita e mudando Puyol para a esquerda, voltando ao 4-3-3. Mais um lance controverso: Thiago utilizou o ombro para dominar uma bola, mas o árbitro Ayza Gámez interpretou como uso do braço do hispano-brasileiro, que acabou expulso. O treinador catalão não poupou o árbitro das críticas: "há tempos que eles não respeitam ninguém", afirmou. Messi, como de praxe, decisivou. Anotou o primeiro, em cobrança de falta que, supostamente, teria tocado na cabeça de Alexis Sánchez, e originou o chute que bateu na trave e Piqué completou para sentenciar.

Real Madrid 5x1 Real Sociedad
O Real Madrid recuperou a imagem de avassalador. Numa partidaça de Benzema, autor de um doblete, fez cinco na Real Sociedad antes da visita sempre difícil a Navarra, para encarar o Osasuna. A estratégia de Montanier, treinador da Real Sociedad, foi por água abaixo aos 5 minutos do primeiro tempo. O francês foi a campo com cinco zagueiros, mas Higuaín arriscou um chute de longe e contou com a colaboração de Bravo para fazer um a zero. Além do francês e do argentino, quem se destacou também foi Cristiano Ronaldo. O gajo marcou dois e voltou ao topo do Pichichi, igualando os 35 gols de Messi.

Seleção da rodada
Andrés Fernández (Osasuna); Ángel (Villarrael), Demichelis (Málaga), Piqué (Barcelona), Lora (Sporting Gijón); Apoño (Zaragoza), Raúl García (Osasuna), Gavilán (Getafe), Iniesta (Barcelona); Messi (Barcelona), Benzema (Real Madrid). Treinador: Javier Clemente (Sporting Gijón).

domingo, 25 de março de 2012

Muito difícil

Muniain lamenta: conquistar uma vaga na próxima Uefa Champions League tornou-se algo muito difícil para o Athletic Bilbao (getty images)

O novo tropeço do Athletic Bilbao na Liga Espanhola deixou a equipe a 9 pontos do Málaga, última equipe da zona de rebaixamento. A sequência negativa de quatro tropeços consecutivos (sendo três derrotas) esquiva o time basco do pelotão de cima. Em suas declarações após o empate contra o Sporting Gijón hoje, Marcelo Bielsa deu a entender que, no momento, conquistar uma vaga na próxima Uefa Champions League tornou-se tarefa árdua.

Iñigo Pérez, por outro lado, mantém uma visão otimista. O meio-campista citou que há muitos jogos ainda pela frente, mas afirmou que o sentimento do vestiário é de pessimismo e dor. Com mais nove jogos a serem disputados, é muito difícil acreditar que os leones ainda possam alcançar o quarto lugar. Por mais que a disputa esteja muito embolada, os últimos resultados do Málaga quebra o protocolo de que até o Rayo, na 11ª colocação, poderia sonhar com a competição europeia. A única situação imaginável é Levante ou Osasuna (ou até mesmo o Espanyol) roubando a vaga da equipe blanquiazul, que, aliás, chegou aos mesmos 47 pontos do Valencia. Até o Atlético de Madrid de Simeone está numa situação delicada. Hoje, perdeu em Aragão para o lanterna Zaragoza.

Porém, o canterano basco, em sua declaração, condicionou uma possível vaga a um fato importante: o Athletic Bilbao precisa de uma sequência de vitórias para manter o sonho vivo. É esse fato, entretanto, que quase liquida as chances de retornar à Champions. A campanha feita pelos leones na competição não reserva grandes sequência de vitórias. Apesar de ter ganho os holofotes nas últimas semanas pelo excelente futebol desempenhado na eliminatória contra o Manchester United na Liga Europa, quem acompanha o futebol espanhol sabe que o Athletic Bilbao tem feito uma competição muito irregular. Acreditem: a maior sequência de vitórias da equipe de Bielsa foram duas, em outubro. Exatamente as duas primeiras: venceu a Real Sociedad e, no final de semana posterior, o Osasuna. A equipe vive de altos e baixos e não dá pinta de que vá engrenar justo nessa reta final.

Muito disso passa pela fase do elenco. O plantel é limitado e criou-se uma Llorentedependência absurda, que tem-se evidenciada nos últimos confrontos. O treinador argentino ainda não achou soluções para a ausência do centroavante. Sem escolhas, chegou até a improvisar Susaeta na derrota de semana passada para o Valencia, por 3x0, na Catedral de San Mamés. As múltiplas lesões musculares condicionam a temporada do principal centroavante do elenco, que, quando apto, já provou ser muito mais do que essencial. Os bascos também sofrem por terem vários atletas com um desempenho abaixo do ideal: San José, principalmente, Toquero e Iraola foram acometidos por esse mal. Poucos são os jogadores de destaque: apenas Muniain, Ander Herrera, De Marcos e Llorente fazem temporadas aceitáveis e de elogios.

Atualmente, o mais importante para o Athletic Bilbao é apostar suas fichas na Liga Europa, ainda mais após a classificação perante os Reds Devils. Nas quartas-de-finais, os bascos encararão o bom time do Schalke 04, terceiro colocado da Bundesliga e comandado por Raúl e Huntelaar, que, durante seu pequeno período no Real Madrid, marcou duas vezes ante os leones. O clube tem dois trunfos na maga: a imprevisibilidade do mata-mata e o técnico Marcelo Bielsa, que mostrou no último jogo que entende do torneio. Além disso, o Athletic tem pela frente mais uma final de Copa do Rei contra o Barcelona. Mais do que nunca, são nas duas competições que El Loco e seus comandados devem se apegar.

sábado, 24 de março de 2012

Quem quer ser o 9?


A menos de três meses da estreia na Eurocopa 2012 contra a Irlanda, a posição de centroavante no grupo espanhol está mais aberta do que nunca. A disputa mantém uma competência constante entre os cinco principais atacantes espanhóis no momento. A decisão não é facil e as diferenças entre eles são claras. Até o dia 15 de maio, data em que se conhecerá por parte de Vicente Del Bosque a lista definitiva para a competição, David Villa, Fernando Torres, Álvaro Negredo, Roberto Soldado e Fernando Llorente deverão convencer ao treinador nacional que é a melhor opção para ser a referência da Roja.

A lógica é que Del Bosque leve dois atacantes à Euro, mas existem outras opções que não se podem descartar. Esses planos alternativos aos principais terão maior ou menor peso em função do estado físico dos cinco supracitados acima nas semanas prévias ao segundo principal torneio de seleções. As deveras utilizações de Fàbregas como falso nove no Barcelona, as aparições de nomes como Muniain e Adrián e a polivalência de jogadores como Silva e Iniesta poderiam até descartar a opção de jogar com uma óbvia referência. Entretanto, parece improvável que o treinador madrilenho opte por uma dessas opções, embora seja importante lembrar. Há, também, a dúvida quanto a parte tática. Del Bosque não sabe se joga no 4-3-3 ou no 4-2-3-1 utilizado na reta final da Copa do Mundo.

Deste modo, e salvo algum imprevisto maiúsculo, o treinador campeão europeu com o Real Madrid deverá depositar em um desses cinco nomes suas esperanças de gols na busca pelo bi da Eurocopa. A incógnita quanto ao estado de Villa, a desastrosa temporada de Fernando Torres, a falta de experiência de Soldado em competições desse nível, a brusca queda de produção recente de Negredo e o perfil de Llorente levam o treinador a um dilema e abre um debate: quem deverá ser o '9' na Polônia e Ucrânia? Abaixo, o que os candidatos têm contra e a favor para ganhar a disputa.

David Villa
El Guaje vem fazendo um trabalho específico para chegar em forma à competição. Há algumas semanas, declarou que seu maior desejo é disputar a Eurocopa e poder ajudar o Barcelona na reta final da temporada. Na temporada, foram 15 jogos disputados (893 minutos) e 7 gols.

A favor: É o maior goleador da história da seleção, é decisivo em momentos cruciais e, em condições de jogo, sua presença é indiscutível. Unanimidade, não tem nem discussão se será titular ou não caso vá ao torneio.
Contra: Sua lesão no Mundial de Clubes, em dezembro, manteve-o inativo durante quase toda a temporada. Há quem diga que seja bastante difícil que chegue a tempo de disputar a competição.

Fernando Torres
Sua discreta temporada valeu até pela exclusão na última partida da Espanha, ante a Venezuela. Del Bosque citou que foi um alerta a El Niño, mas deixou claro que, se possível, irá sim deixá-lo de fora da competição. O apelo do povo espanhol já não é tão grande, como em outras ocasiões. Há uma semana, voltou a reconciliar-se com as redes, marcando dois gols contra o Reading, pela Copa da Inglaterra. Na temporada, foram 22 jogos disputados (1232 minutos) e apenas 5 gols.

A favor: Del Bosque o esperou até o último momento na Copa do Mundo e não hesitará em fazê-lo novamente, apesar de suas últimas declarações. Além disso, conta - e muito - com a confiança do treinador.
Contra: Dentre os cinco, é o que tem menos gols. Ficou quase seis meses sem marcar um golzinho sequer

Fernando Llorente
Presente habitualmente nas listas de Del Bosque, faz uma temporada muito boa. Mantém uma relação de amor com as redes e contribui de maneira decisiva para a temporada positiva do Athletic Bilbao. Na temporada, foram 23 jogos disputados (1782 minutos) e 19 gols.

A favor: Provavelmente, é quem faz melhor temporada entre os candidatos. Vive um grande momento, é um homem gol sedento por ir às redes e é presença indiscutível nas listas de Del Bosque.
Contra: Por não ter a velocidade como principal característica, foge do perfil de jogo proposto por Del Bosque. Ironicamente, é quem menos se encaixa no sistema e na forma de jogar da Fúria.

Roberto Soldado
Seu melhor argumento é marcar gols. Tem 20, sendo o atacante espanhol com mais número de gols na temporada. Contra a Venezuela, praticamente garantiu sua vaga no plantel anotando um hat-trick. Na temporada, foram 26 jogos disputados (2150 minutos) e 20 gols.

A favor: É o máximo goleador espanhol na temporada e aproveitou sua única oportunidade que teve com Del Bosque.
Contra: A principal desvantagem de Soldado perante os outros concorrentes é o fato de não ter sido testado outras vezes. A falta de partidas contra seleções de alto nível em seu histórico é bastante relevante.

Álvaro Negredo
Individualmente, o sevillista vinha em boa temporada. Porém, o fato de sua equipe estar fazendo uma temporada muito irregular acaba gerando consequência drásticas no desempenho de Negredo. Nos últimos meses, caiu de produção. Na temporada, foram 20 jogos disputados (1535 minutos) e 6 gols.

A favor: Foi a alternativa habitual nas ausências de Torres ou Villa. É totalmente adaptado ao grupo e ao esquema proposto por Del Bosque.
Contra: Seu recente histórico de lesões provocou uma queda considerável no rendimento. É muito provável que não chegará em seu melhor momento na temporada.

sexta-feira, 23 de março de 2012

29ª rodada: Si, hay liga

Villarreal engoliu Real Madrid no primeiro tempo, sofreu o gol no segundo, mas conseguiu empatar com Marcos Senna (getty images)

Villarreal 1x1 Real Madrid
A Liga Espanhola está, mais do que nunca, em disputa. Após mais um tropeço, o Real Madrid deixou a vantagem perante o Barcelona diminuir para 6 pontos e vai ter que recuperar a gordura daqui para frente: sua tabela exigirá mais concentração do que a do rival. Falaremos sobre o assunto num texto futuro, mas o Real Madrid que irá visitar Barcelona, Atlético de Madrid, Osasuna e Athletic Bilbao não pode nem imaginar em tropeçar: o Barcelona não está de bobeira e vai atrás do tetra. No El Madrigal, terrível partida dos merengues. Ao contrário do tropeço ante o Málaga, o Real Madrid dessa vez pouco criou, achou um gol após tabela sensacional de Özil e Cristiano Ronaldo e foi engolido pelo Villarreal no primeiro tempo.

Barcelona 5x3 Granada
Lionel Messi. O melhor jogador do mundo deu o que falar novamente: não bastasse ter anotado mais um hat-trick, tornou-se o maior artilheiro da história do Barcelona, com 234 gols, e, além disso, ultrapassou Cristiano Ronaldo no duelo pela artilharia da Liga. Dentro das quatro linhas, o Barcelona partiu cedo disposto a decidir o jogo. Xavi, após assistência de Messi, e o argentino fizeram dois gols nos primeiros 20 minutos, mas não esperavam a amnésia sofrida pela equipe na segunda etapa. Aí, teve que aparecer Messi, que marcou dois e deu o chute que Júlio César rebateu em cima de Tello, que não desperdiçou. O garoto segue ganhando muitos pontos com Guardiola e é provável que seja efetivado à equipe A na próxima temporada.

Atlético de Madrid 2x1 Athletic Bilbao
Falcão García foi novamente decisivo. Autor de dois gols, o colombiano deu três pontos importantes ao Atlético de Madrid na disputa por LC. O Athletic Bilbao, por sua vez, chega a um momento de alerta: é a terceira derrota consecutiva dos leones, que distanciam-se do pelotão de cima. A ausência de Llorente segue fazendo bastante falta: por mais uma partida, a equipe inexistiu na frente. Se, contra o Osasuna, Susaeta mal encostou na bola, dessa vez que passou em branco foi Toquero. Com as atenções voltadas à Liga Europa, dificilmente o Athletic Bilbao copará uma vaga na próxima Champions League.

Valencia 1x2 Zaragoza
Que zebra, o que aconteceu no Mestalla. Na semana que venceu o Athletic Bilbao na Catedral e pareceu ter cravado definitivamente o 3º lugar, o Valencia volta a desperdiçar pontos. Dessa vez, de maneira vexatória: para o colista da competição. Os três pontos conquistados em Paterna ilusionam o Zaragoza: dá, sim, para se salvar. Os maños têm evoluído no desempenho em campo nas últimas rodadas e contam com a incompetência dos rivais na briga pelo descenso. No lado valenciano, Unai Emery está cada vez mais com os pés fora do clube. O treinador, que nunca foi unanimidade no Mestalla, foi duramente vaiado pelos aficionados após a partida e manteve o silêncio na coletiva pós-jogo. O presidente Manuel Llorente decretou: quer, de qualquer maneira, a vaga na próxima LC.

Racing Santander 0x3 Sevilla
Pela primeira vez na temporada, o Sevilla teve uma vitória contundente. Na Cantábria, Jesus Navas e Manu Del Moral deram ar de boas notícias à equipe andaluza. Com o doblete, Manu, que voltou a jogar em sua posição original (no suporte a Kanouté) após cinco partidas escalados como segundo atacante, encerrou sua racha negativa de três meses sem marcar e chegou a 7 gols na competição, tornando-se o artilheiro do Sevilla na atual temporada. Por aí, já se vê que o poderio ofensivo da equipe treinada por Míchel não é lá tão assustador. O Racing Santander voltou a pecar defensiva. A fragilidade defensiva dos racinguistas chega a assustar. O Sevilla criou ocasiões com relativa facilidade e poderia até sair do El Sardinero com mais gols. O triunfo anima os nervionenses: ainda dá para sonhar com Liga Europa.

Bétis 1x1 Espanyol
O que dizer de uma equipe que domina uma partida durante 90 minutos e sofre o gol de empate aos 92? O Bétis encaminhava para um triunfo importante quando Pandiani silenciou o Benito Villamarín. O uruguaio, vale dizer, renasce das cinzas num momento importante. A defesa verdiblanca cometeu um erro grave, é verdade, mas El Rifle, que andava tendo poucas oportunidades após voltar de lesão, finalizou muito bem, lembrando o jogador da temporada passada. Phillipe Coutinho foi novamente o destaque: ainda que não fizera sua melhor partida, fica claro a personalidade do garoto com a bola nos pés. Não se apavora, levanta a cabeça e sempre leva o adversário à loucura. Xodó da torcida, o novo Zico, como apelidou os aficionados péricos, é uma grande joia do futebol brasileiro.

Málaga 4x2 Rayo Vallecano
Vive um grande momento o Málaga. Após tirar pontos do Real Madrid no Santiago Bernabéu, os comandados de Pellegrini se impuseram frente ao Rayo Vallecano e continuam à caça do Levante. Rondón voltou a fazer a diferença. O venezuelano anotou um doblete, que decretou o empate e a virada de seu time, respectivamente, e ratificou que, hoje, é o melhor centroavante do elenco blanquiazul. No dia que recebeu a péssima notícia de que Júlio Baptista e Toulalan poderão ficar de fora da temporada, os andaluzes foram extremamentes superiores aos rayistas. Já são cinco partidas consecutivas pontuando, registros que ameaçam até o Valencia. Na próxima rodada visita o Espanyol, rival direto. Promessa de jogão.

Levante 1x3 Real Sociedad
Quando chegou à liderança do campeonato no primeiro semestre, Juan Ignácio Martínez foi sintético: não pensa em ser campeão, ir para Champions League ou Liga Europa. O objetivo máxico era a manunteção na elite espanhola. Com os 44 pontos obtidos durante estes sete meses de campeonato, o Levante está, virtualmente, salvo. Agora, o próximo passo: conseguir uma vaga em competições europeias. A formalidade, como chegou a dizer Martínez após a vitória contra o Real Madrid, em setembro, continua em pé. Após Barkero, Koné e Xavi Torres remontarem o tento inicial de Vela, o alicantino alcançou uma marca histórica no clube de Valencia: tornou-se o primeiro técnico com mais triunfos com o Levante na primeira divisão. São 13 em 2011/2012, superando os 12 de Luis García na temporada passada e de Enrique Navarro em 62/63.

quarta-feira, 21 de março de 2012

28ª rodada: Hay Liga?

Cristiano Ronaldo lamenta: Real Madrid desperdiça muitas ocasiões, sofre castigo no final e vê vantagem sobre Barcelona diminuir. Liga reaberta (getty images)

Real Madrid 1x1 Málaga
O Málaga já havia batido na trave nos confrontos da Copa do Rei ante o Real Madrid. Dessa vez, fez bonito: jogou bem, fez um primeiro tempo tão superior quanto os merengues, não abaixou a cabeça após o gol de Benzema e, com um golaço de falta de Cazorla, empatou a partida nos minutos finais. O Real Madrid, por sua vez, tem muito a lamentar. Perdeu gols infantil, deixou de matar a partida e sofreu o castigo no final. Além disso, a vantagem para o rival Barcelona diminuiu para 8 pontos. É verdade que é muita coisa ainda, mas a atenção já tem que estar maior: os merengues têm uma tabela mais difícil que os azulgrenás e pegam, à exceção do Levante, todos os primeiros 7 colocados fora da capital. Consequentemente, haverá um superclássico no Camp Nou.

Sevilla 0x2 Barcelona
No sábado, o Barcelona fez sua parte. Num estádio onde costuma tropeçar (empatou na temporada passada), se vingou do empate do primeiro turno, quando Javi Varas defendeu um pênalti de Messi. No final de semana, o protagonismo se inverteu: Javi Varas, que perdeu a titularidade para Palop, viu Messi anotar (mais) um golaço e se aproximar da marca de maior artilheiro da história do Barcelona- que, aliás, superou ontem na partida contra o Granada, onde falaremos mais no resumo da 29ª rodada. O segundo tempo barcelonista foi bem fraco. Errando passes bobos e finalizando pouco à meta de Palop, o grupo foi chamado atenção por Guardiola, que, na coletiva, disse que jogos como esse podem tirar a equipe das semifinais da Champions League. Sobre o título da Liga, voltou a afirmar: não será possível ganhar. Blefe?

Athletic Bilbao 0x3 Valencia
No duelo das duas melhores equipes do futebol espanhol excluindo Barcelona e Real Madrid, o Valencia ratificou a volta da boa fase. Se os últimos resultados ligavam o alerta ché, que tinha o 3º lugar à perigo, a equipe de Unai Emery voltou a se distanciar dos rivais. Com hat-trick de Soldado, que também desencantou, ganhou moral ao vencer um adversário que estava com tudo após eliminar o Manchester United. O Athletic, por sua vez, sentiu a falta de Llorente. Sem seu principal artilheiro, fora da partida por desconfortos musculares, Bielsa armou a equipe no 4-1-4-1, com Susaeta na referência (Toquero também estava fora, mas por suspensão). O argentino viu seu jogador mal encostar na bola e ainda viu Ander Herrera, principal armador basco, muito bem marcado. Muniain ainda tentou fazer algo, mas sem sucesso.

Levante 1x0 Villarreal
Ao final da Liga, o Levante pode não conquistar uma vaga na próxima UCL, mas se tivesse prêmio de equipe mais guerreira, certamente iria para os valencianos. Com um elenco limitado, com uma média de idade de 29,1 (o mais velho da Liga Espanhola), os azulgrenás não desistem: continuam, a essa altura do campeonato, brigando pela principal competição europeia. Com o empate do Málaga, a equipe comandada por Juan Ignácio Martínez voltou ao 4º lugar. As emoções no jogo do meio-dia espanhol no Ciutat de Valencia foram do início ao fim. Literalmente. O gol que decretou a vitória levantina, marcado por Xavi Torres, saiu aos 47 minutos do segundo tempo. O resultado de uma nova derrota, pelo lado do Villarreal, foi a demissão de Juan Molina, três meses depois de assumir o cargo técnico. O terceiro treinador do Submarino Amarelo na temporada foi anunciado um dia depois: Miguel Ángel Lotina, que foi rebaixado com o Deportivo La Coruña na temporada passada.

Espanyol 3x1 Racing Santander
A Coutinhomania chegou a Barcelona. O brasileiro Phillipe Coutinho foi mais uma vez decisivo, marcou um gol importante para a vitória do Espanyol e saiu de campo ovacionado pelo Cornellà El-Prat. O promissor meio-campista foi chamado pelo Marca de "jovem da moda". A grande partida blanquiazul dá uma boa notícia a Maurício Pochettino: os jogadores estão centrados e querem buscar uma vaga nas competições europeias. O Racing Santander, por sua vez, depende demasiado de Adrián e Stuani e não tem recursos ofensivos. O rebaixamento é algo real. Abriu o placar cedo e recuou, chamando o Espanyol para o seu campo. Não aguentoua pressão e cedeu os três pontos. Falta opções e padrão tático, que o treinador Cervera não tem encontrado.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O príncipe de La Coruña

Retorno do Deportivo à Liga BBVA é questão de tempo e Guardado tem se destacado (a bola)

A explosão de Andrés Guardado como futebolísta é algo inquestionável. O meio-campista do líder da Liga Adelante, Deportivo La Coruña, está firmando sua melhor temporada no futebol espanhol e, possivelmente, de sua carreira. Aos 25 anos, El Principito alcançou a maturidade futebolística e está mais do que preparado para alçar desafios maiores. Após 31 rodadas, o clube galego lidera a segunda divisão com folga. Tem 63 pontos, cinco a mais que o vice-líder Valladolid e 11 à frente do maior rival, Celta de Vigo. Os blanquiazules venceram as últimas dez partidas partidas e estão invictos há 12 jogos. Foi ainda campeão de inverno e tem a melhor média de público. Uma campanha de time maior que a segunda divisão, mesmo depois de um início inseguro e cheio de oscilações.

Nesse cenário, destaca-se Guardado. Se, na campanha do rebaixamento, o mexicano foi criticado por sumir no momento pelo qual o Deportivo mais necessitava, hoje é um dos principais responsáveis pelo virtual retorno da equipe à elite. Na temporada passada, Guardado foi engolido por Adrián no protagonismo e, nos momentos críticos, viu até um veterano como Valerón puxar mais a responsabilidade. O ex-treinador Miguel Ángel Lotina (que, aliás, fechou hoje com o Villarreal) ficou totalmente insatisfeito com Guardado, que manteve uma postura de homem: deixou de firmar contrato com o Valencia para jogar a segundona com o Deportivo.

Recuperando a cada jogo sua moral com os aficionados, Guardado não é somente o principal jogador do Deportivo na temporada como da Liga Adelante. No sábado, confirmou sua enorme influência na campanha galega com uma extraordinária atuação perante o Alcoyano, na vitória por 3x0. Anotou seu 11º gol na temporada e deu sua sétima assistência. Com o tento, superou sua maior marca de gols em sua carreira até o momento. Em 2007/2008, anotou 6. Sua qualidade nos passes já era conhecida (vem sendo o líder de assistências do Deportivo há três temporadas consecutivas), mas ainda era desconhecido seu faro de artilheiro. A exemplo de comparação, marcou apenas dois golzinhos em 2010/2011.

Na Liga Adelante, o mexicano reivindicou-se como futebolista. Impõe sua autoridade no centro do campo e joga ladeira abaixo os questionamentos quanto a sua liderança. Embora seja notável que esta é a sua última temporada no La Coruña, contribui ao máximo com a equipe da Galícia. É o arco e flecha da equipe comandada por José Luis Oltra, sendo o principal responsável pela excelente campanha. O Marca, em janeiro, publicou que Guardado iria se transferir ao Valencia já no mercado de inverno. A torcida não ficou muito satisfeita: parte das organizadas coruñesa vaiou e insultou seu principal jogador, que manteve o silêncio e respondeu dentro de campo. Quando marcou duas vezes contra o Múrcia, comemorou beijando o escudo, em clara demonstração de que queria ficar no Riazor.

Guardado poderia ter números ainda mais significativos não tivesse desfalcado o Deportivo para defender o México em algumas datas-Fifa. E poderia ter ainda mais destaque na mídia espanhola se falasse com ela. Descontente com o que considerou distorção de suas declarações sobre seu futuro em La Coruña após o rebaixamento, decidiu não falar mais com os jornalistas. Sua última entrevista na Espanha foi concedida em julho. O desempenho do mexicano é tão bom que ofusca a falta de um atacante mais convincente. Lassad, Riki e Salomão se revezam como homem de referência na frente sem que nenhum assuma definitivamente a posição. Não será fácil manter o ritmo das últimas partidas, mas a vantagem é boa o suficiente para suportar uma pequena – e natural – série de tropeços. Se o time mantiver a constância e suas peças-chave funcionarem, o Deportivo retornará à elite melhor do que estava nas últimas temporadas antes de cair. Mas será uma tarefa árdua sobreviver sem Andrés Guardado, o princípe do Riazor.

domingo, 18 de março de 2012

O ás de Javier Clemente

Lançado contra o Barcelona no Camp Nou, Mendy não fez feio e ganhou a confiança de Javier Clemente (LFP)

O Sporting Gijón luta contra o rebaixamento. A fase é tão ruim que imaginar a equipe disputando a Liga Adelante na temporada que vem não é nada surreal. Até Manolo Preciado, unanimidade na cidade e dentro do clube, foi demitido pelo presidente Manuel Vega-Arango devido aos péssimos resultados. A chegada de Javier Clemente até o momento não faz efeito. Em seis jogos, apenas uma vitória, ironicamente contra o Sevilla treinado por seu desafeto Míchel. Com 24 pontos, está na 19ª colocação, a três do Villarreal, primeira equipe fora do descenso. O sofrimento, portanto, continua.

Na Inglaterra, uma forma de sustentar o modelo de jovens promissores é recorrer a empréstimos. Por exemplo, para botar fé em Cleverley e Welbeck em compromissos difíceis, Alex Ferguson primeiro os cedeu a Wigan e Sunderland, onde eles se desenvolveram demais. Os jovens retornam confiantes e dão respostas imediatas ao clube e a essa ideia. Sem escolha, Clemente não tem para onde ir e aposta seu emprego em Mendy. A estreia do garoto foi justamente no Camp Nou e o senegalês não fez feio. Deu bastante trabalho a Abidal e foi responsável pela jogada do gol de Barral. Desde lá, passou a ser o ás do treinador.

Revelado nas categorias de base do Lyon, transferiu-se ao Lens em 2006, com 17 anos. Lá, acabou emprestado ao pequeno Istres Ouest Provence e, posteriormente, ao Puertollano, da Segunda Divisão B espanhola. À época, fez boas partidas nas rodadas iniciais da Copa do Rei, sendo responsável por 4 dos 6 gols de sua equipe. Após isso, chamou a atenção do Real Madrid e do Áris, da Grécia, que chegou a oferecer uma boa grana ao clube francês, detentor de seu passe, para firmar contrato. Uma hepatite contraída durante o mercado de inverno de 2010, no entanto, acabou fazendo Mendy ser reprovado nos exames médicos do clube grego. Ao final daquela temporada, o Sporting Gijón contratou-o, deixando-o inicialmente na equipe B.

Vertical, rápido e dono de um bom chute, o garoto tem plena convicção da oportunidade que Clemente lhe dá. Há três dias, agradeceu: "sou eternamente grato a ele. Clemente abriu as portas do Sporting e do futebol para mim", disse. Com 23 anos, ainda tem ficha de jogador da filial, embora numa provável manuntenção dos asturianos na elite deva ser efetivado de vez à equipe A. O ex-treinador da seleção parece disposto a dar mais chances aos jovens. Ontem, na derrota para o Granada, por exemplo, além de Mendy, outros dois jogadores com fichas do Sporting Gijón B iniciou na equipe titular: o zagueiro Orfila e o volante Galvez. No banco, ficou o goleiro Cuéllar, de 21 anos.

Casado, pai de um filho e filho de emigrantes vindos da Guinea-Bissau , possui passaporte triplo: senegalês, francês (jogou com a seleção sub-17) e guinea-bissau, onde já disputou um amistoso com a seleção absoluta. Mendy tem algo especial: a facilidade para fazer gols. Apto a atuar nos dois lados, tem sido escalado por Clemente mais aberto à direita no 4-2-3-1 rojiblanco. O menino que faz o Sporting Gijón concentrar as ações ofensivas pela direita começa a cair nas graças da torcida, mesmo com a situação tensa com a qual passa os asturianos.


sexta-feira, 16 de março de 2012

Muito mais que dois times

Antes de mais nada: a classificação do Athletic Bilbao, sobretudo, levou-me a escrever esse texto. A Liga Espanhola nunca esteve tão desvalorizada como atualmente. A antes Liga das Estrelas, de grandes craques e grandes time, hoje é ridicularizada por muitos. "É feio você ver um clube jogar fora de casa e ganhar de sete, oito. Várzea", dizem muitos. Historicamente, Barcelona e Real Madrid são os maiores vencedores do país. Dois clubes que sempre dominaram o futebol do país, mas nunca de maneira tão clara e simultânea.

Minha posição é claríssima. Não são os outros que são ruins, mas Barcelona e Real Madrid, os dois clubes de futebol mais famosos do mundo, que são bons demais. O Barça é possivelmente o melhor time da história. O Real Madrid tem o time mais milionário da sua (rica) história, o melhor treinador da década, o segundo melhor jogador do mundo, é tão bom, mas tão bom, que vai ganhar todo um campeonato do… melhor da história. O domínio dos gigantes leva um monte de gente a dizer que o Campeonato Espanhol é ridículo, é um campeonato de apenas dois times, como citado. Insinua-se que Real Madrid e Barcelona só ganham tantos jogos, só marcam tantos gols, porque os rivais são fracos. Todos fracos.


É óbvio que o futebol espanhol precisa olhar para dentro, fazer uma autocrítica e mudar regras. É lógico que não é saudável ter dois times tão superiores. Está claro que a divisão de dinheiro precisa ser mais bem feita para evitar o abismo. Ninguém aqui está falando que o modelo é perfeito. Mas é simplesmente um erro dos grandes, dos grandes mesmo, menosprezar os times e o futebol da Espanha. Seria oportunista me apegar somente aos resultados. Merengues e azulgrenás só não farão a final da Champions League se caírem do mesmo lado da chave no sorteio de amanhã cedo. Os especialistas do mundo todo consideram Real e Barcelona proporcionalmente tão favoritos na Champions como o são no Campeonato Espanhol. O domínio exacerbado deles não é apenas doméstico, é continental. Na outra Copa, a Europa League, Valencia, Atlético de Madrid e Athletic Bilbao estão garantidos nas quartas de final. Três espanhóis entre os oito. Cinco entre os 16 das duas competições continentais.

A Liga Espanhola tem que repensar várias coisas e é difícil repensar quando o país está afundado em crise e só o esporte salva a autoestima. Logicamente há times fracos, como em todas as ligas do mundo. Mas não há só dois times bons, não. Há dois que são os melhores do mundo, há vários taticamente arrumados e alguns muito bons. O Athletic, com o gênio, genioso e genial Bielsa, é um deles. Esse time acaba de mudar de patamar. O Valencia com a proposta de jogo voltada ao ataque é outro exemplo. E o Atlético de Madrid de Simeone, bem sólido na defesa, jogando no contra-ataque e contando com um atacante nato como Falcão García na frente, é mais um exemplo. É evidente que a questão dos direitos de TV deve ser resolvida, e que isto facilitaria que esses times médios conseguissem competir melhor com os grandes na Espanha. Mas se isso acontecer, não quero nem imaginar quantas equipes espanholas trunfariam na Europa

quinta-feira, 15 de março de 2012

A evolução que impulsiona o Real Madrid

Real Madrid 2.0 de Mourinho atropela seus adversários, faz uma temporada incrível e é taxado por muitos como melhor do mundo (getty images)

"Atualmente, o Real Madrid tem jogado mais até do que o Barcelona", sentenciou Maurício Pochettino. Embora tenha admitido que não sabe em quem apostar num embate entre os gigantes na Liga dos Campeões, o treinador argentino não hesitou em soltar essa após a goleada sofrida pelo seu Espanyol ante os merengues, há duas semanas. Minha intenção não é comparar as duas equipes ao longo desse texto, mas o fato é que a análise de Pochettino, baseada no jogo maximalista dos espanhóis, tem sua validade comprovada. E nem é por causa da vitória contra o CSKA, onde o Madrid jogou pro gasto, mas sim pela temporada num todo.

Cristiano Ronaldo é o melhor jogador da equipe da capital desde Zidane. O gajo é também o principal goleador do time de José Mourinho na temporada com impressionantes 41 tentos em 37 jogos e no próprio torneio continental com seis em igual número de partidas. No clube, já são 128, também no mesmo número de jogos. Dados históricos. Ainda que falte a Ronaldo participação mais efetiva em jogos contra o Barcelona, o dono da camisa 7 faz mais uma temporada sobrenatural. Além disso, conquistou o coração dos torcedores, que passaram a pegar em seus pés após consecutivas partidas ruins frente ao Barça. Nos últimos jogos, a Ultra Sur tem dedicado músicas em homenagem ao Pichichi da Liga. "É muito bom se sentir querido, amado", disse antes da partida contra o CSKA.

Apesar de ter o segundo melhor jogador do mundo no plantel, o Real Madrid deixa claro que não é dependente dele. Ao contrário da temporada 2009/2010, desde a chegada de Mourinho isso já vem se exemplificando. Ontem, por exemplo, CR7, apesar dos dois gols, não fez uma partida muito inspirada, mas os blancos souberam se saírem bens. O excelente André Rocha, do Olho Tático, explica melhor: acima de tudo, o Real de Mourinho é um time. Ou melhor, um timaço que nem precisa do fulgor de seu craque quando a vantagem técnica e tática sobre o oponente permite. Com Özil e Kaká promovendo com Ronaldo uma intensa movimentação em torno de Higuaín no 4-2-3-1 habitual, atacando pela esquerda com Marcelo e criando espaços para o apoio no lado oposto de Khedira que compensava o posicionamento mais conservador de Arbeloa, o Real Madrid consegue se impor.

A progressão nítida do Real Madrid é fruto de um trabalho que começou em 2009. Atenção especial a Florentino Pérez, que desde que retornou à presidência do Madrid tem feito contratações usuais. À exceção da temporada do retorno, quando gastou à rodo, Florentino tem evitado gastar milhões em estrelas e reforço o plantel com jogadores necessários. O retorno do presidente, aliás, é um divisor d'águas no recente caminho merengue. Jogadores como Özil, Di María, Xabi Alonso, Cristiano Ronaldo, Benzema, Khedira, todos contratados em sua gestão, são peças-chaves no time de José Mourinho. Antes chacota a âmbito europeu, hoje tão temido quanto o Barcelona. Essa é a evolução que impulsiona o Real Madrid.

O desempenho e o estilo de jogo são foram do comum. Nesse ponto, José Mourinho é o principal responsável. O Real Madrid propõe-se a ser agressivo e com a qualidade técnica de seus jogadores, aliando sempre com velocidade e precisão. A marcação melhora a cada partida. Mais avançada, até Cristiano Ronaldo, Özil e Kaká voltam para ajudar. Em relação a temporada passada, quando ficaram no quase, está aí a principal diferença. Povoado de jogadores, o Real Madrid sempre leva a melhor na batalha do meio-campo e congestiona o jogo do adversário. Os merengues impõem pressão física, praticamente atropelando seu rival. Com a bola, toca rápido, chega em velocidade pelos dois lados ou pela faixa central. Sem ela, marca forte, desarma muito e tem contra-ataque feroz. O título da Liga já está praticamente selado. A Europa é um sonho bastante provável.

terça-feira, 13 de março de 2012

27ª rodada: Olho no Osasuna

Osasuna come pelas beiradas e segue apenas dois pontos da zona de Liga dos Campeões (getty images)

Osasuna 2x1 Athletic Bilbao
Marcelo Bielsa poupou Javi Martínez, Llorente e Ander Herrera inicialmente. Tudo bem que são três das peças-chaves do Athletic Bilbao, mas a vitória do Osasuna é significativa. Os rojillos não são estão a apenas dois pontos da Liga dos Campeões, como faz uma temporada bastante regular e briga por competições europeias desde o início do campeonato. Havia tempo que a torcida não presenciava essa regularidade (na última vez, em 2005/2006, se classificou à Champions League, quando caiu na fase prévia para o Hamburgo). A atuação dentro de campo foi sufocante. Pressionou o Athletic Bilbao, sobretudo, nos primeiros 45 minutos, quando marcou os dois gols que definiram o jogo - ironicamente, os dois de cabeça.

Málaga 1x0 Levante
No outro confronto direto por Champions da rodada, vitória importante do Málaga, que rouba o 4º lugar do adversário e, consequentemente, volta à zona da principal competição europeia. Os elogios a Rondón estão tornando-se clichês, mas o venezuelano está demais: mais um gol decisivo na Liga Espanhola. O garoto Isco também anda bem. Com inteligência e habilidade, ditou o ritmo do jogo no meio-campo e foi o melhor da partida no La Rosaleda. O Levante perdeu, mas com louvor. Saiu para buscar os três pontos, foi melhor em determinados momentos da partida - muito igualada, diga-se de passagem - e em nenhum momento perdeu a cabeça.

Bétis 2x3 Real Madrid
Em janeiro, o Bétis quase complicou a vida do Barcelona em Barcelona. No final de semana, foi a vez do Real Madrid. As semelhanças entre os dois jogos é simples: o Bétis jogou como sempre e perdeu como sempre. A exemplo do Levante, os verdiblancos fizeram bonito. Abriram o placar, sofreram a virada e não abaixaram a cabeça. Foram atrás do empate e conseguiram. Mas uma desatenção da zaga, após bate e rebate, permitiu a Cristiano Ronaldo ficar cara a cara com Fabrício. Aí, vocês já sabem que o português não irá desperdiçar. Chegou a 32 gols na Liga e é muito provável que vá superar seus estratosféricos 40 de 2010/2011. Em um campo onde os torcedores barcelonistas acreditam que o Madrid viria a perder pontos, os merengues somaram mais três. E continuam chegando próximo de colocar a segunda mão na taça.

Espanyol 5x1 Rayo Vallecano
O novo reencontro de Tamudo com a torcida do Espanyol acabou novamente em goleada de seu ex-time. O atacante até marcou o gol de honra do Rayo e converteu-se no único da história do Espanyol a marcar em seus três estádios diferentes, mas o resultado não foi nada bom. A exemplo dos retumbantes 4x1 do Espanyol ante a Real Sociedad na temporada passada, os blanquiazules voltaram a fazer de vítima uma equipe de um de seus maiores ídolos. Em grande partida de Phillipe Coutinho e Uche, autores de dois e três gols respectivamente, continuam olhando de perto as competições europeias. Os gols evidencia o belo trabalho da cúpula no mercado de janeiro.

Seleção da rodada
Andrés Fernández (Osasuna), Juanfran (Atlético de Madrid), Miranda (Atlético de Madrid), Nsue (Mallorca); Raúl García (Osasuna), André Castro (Sporting Gijón), Phillipe Coutinho (Espanyol), Cristiano Ronaldo (Real Madrid); Messi (Barcelona), Uche (Espanyol), Vela (Real Sociedad).

segunda-feira, 12 de março de 2012

Perigo

Cara feia: momento do Valencia não é dos melhores (getty images)

Em janeiro, o Valencia dava passos largos para cravar o 3º lugar da Liga Espanhola e conquistar o campeonato dos humanos pela segunda vez consecutiva. Atualmente, embora mostre uma imagem melhor em âmbito europeu, a queda de rendimento representou a posição na tabela antes visto como seu à perigo. O desastroso empate no último domingo frente ao Mallorca, quando vencia por dois a zero e deixou os visitantes empatarem num intervalo de 15 minutos, liga o alerta valenciano: Málaga, Levante, Espanyol, Atlético de Madrid, Athletic Bilbao e até o Osasuna não estão para brincadeira.

O 2012 dos chés tem sido bastante irregular. No primeiro semestre, chegou a largar da candidatura do título mais tarde em relação à temporada anterior. Em pelo menos três vezes, emplacou quatro ou mais vitórias consecutivas. No novo ano, o máximo que conseguiu chegar foi a duas vitórias seguidas em duas ocasiões diferentes. Sporting Gijón e Stoke City; Granada e PSV. A queda de rendimento de algumas peças-chaves tem sido um fator negativo. Soldado estacionou nos 12 gols na Liga BBVA (apesar do belo amistoso que praticamente sepultou sua vaga à Eurocopa), Mathieu não tem atuado com tanta contundência na esquerda e Topal não demonstra a segurança necessária para suportar o meio-campo.

A lesão - infantil, diga-se de passagem - de Banega também foi bastante sentida. O argentino, um dos três principais jogadores da equipe na temporada, não tem sido substituído à altura. Contra o Mallorca, aliás, Unai Emery tomou uma decisão para lá de questionável: preferiu utilizar Dani Parejo mais recuado ao invés de Albelda ou até mesmo Barragán. A zaga, por sua vez, tem deixado a desejar. Víctor Ruíz, em especial, não é mais aquele jogador seguro visto na primeira metade da temporada. Apontado como culpado da derrota em Stamford Bridge para o Chelsea, que culminou na eliminação na Champions League, o catalão parece ter esquecido o futebol naquela fatídica noite de Londres. Até Adil Rami, alternativa do Barcelona em caso de falha nas negociações por Thiago Silva, segundo a imprensa catalã, tem atuado num nível inferior ao apresentado outrora. Apesar da progressão nítida de Feghouli, em um 2012 especial, e Tino Costa, a boa fase dos suportes deste Valencia tem feito falta. O Mestalla, antes uma arma, já não faz mais muito efeito: em 13 jogos, três derrotas e três empates.

Unai Emery nunca foi unanimidade em Paterna. Um possível fracasso na tentativa do Valencia ir à Champions pela terceira vez consecutiva pode levá-lo a demissão. Aliás, não é besteira pensar em um novo treinador no Mestalla na próxima temporada mesmo com a vaga na LC confirmada. Após a partida contra os malloquíns, aliás, o treinador reuniu-se com o presidente Manuel Llorente, que não ficou contente com a atitude da equipe frente ao PSV e Mallorca. A presença de Unai na coletiva até foi atrasada. Llorente, dizem, deixou claro: quer a vaga na LC. Time por time, o do Valencia é sim superior aos dos adversários nessa emocionante disputa pela principal competição europeia (até Athletic Bilbao e Atlético de Madrid). Mas os somentes 4 pontos de vantagem em relação ao 4º colocado (Málaga) assustam. A vantagem, vale lembrar, já chegou a ser de 13 pontos.

Twitter da discórdia
À noite, Tino Costa fechou seu domingo negro. Expulso frente ao Mallorca, pagou um mico dos grandes. Um fã-clube do Valencia denominado de @valencianista100% mandou uma mensagem para o volante com os seguintes dizeres: "ajude-nos a chegar ao TT (Trendings Topics)): #llorentedimision, "unaiveteya". Por erro (ou não), o jogador acabou dando RT no tweet (ver imagem), o suficiente para espalhar nas redes sociais e virar notícia, ficando visível para seus 22 mil seguidores. Por ironia, quem acabou no TT foi ele mesmo. Pouco depois, se desculpou: "houve um erro no meu twitter e eu peço desculpas. Jamais na minha vida apoiaria algo desse tipo. Não creio que siga com isso, a não ser que seja seguro", referindo-se a conta dos torcedores.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Inimigos

Javier Clemente e o tão falado aperto de mão (El Mundo Deportivo)

Quando Sporting Gijón e Sevilla entrarem em campo amanhã, as câmeras se voltarão ao dois treinadores. Uma pergunta não quer calar: irão se falar antes da bola rolar? Javier Clemente e Míchel não vão com a cara um do outro. A rodada 27 da Liga BBVA irá marcar o tão esperado reencontro. Há dois anos, o basco renunciou um aperto de mão por parte do Míchel, quando até então treinava o Valladolid e o madrilenho, o Getafe. Suas diferenças são velhas, dos tempos de seleção. A inimizade atual entre os dois começou quando Clemente treinava a Fúria.

No início da década de 90, o atual treinador do Sporting Gijón resolveu não contar mais com Míchel e seus companheiros de Real Madrid, a famosa Quinta Del Buitre, sexteto de sucesso na década anterior. O basco pôs um fim à era do grupo na Roja. Desde novembro de 1992, Clemente não voltou a convocar Míchel para a seleção. Contudo, o ato que mais intensificou a relação da dupla aconteceu quando Míchel foi convidado pelo Marca a escrever uma coluna às vésperas da Copa do Mundo de 2002. O madrilenho aproveitou para atacar Clemente, à época treinador do Tenerife, e a guerra começou.

O ocorrido aconteceu em abril de 2002. Quase dez anos depois, fontes pessoais de Clemente afirmam que o basco não perdoou aquilo que intepretou como um insulto. A ferida, pelo visto, segue sem se cicatrizar. Hoje, os dois treinadores falaram na coletiva pós-jogo. Clemente manteve uma postura diferente da habitual. Explicou que, obviamente, sentiu-se ofendido e afirmou que Míchel deve estar arrependido. Ainda deixou claro: "falando ou não falando com ele, isso não importa. Em minha mente, no momento, estão apenas os três pontos. Eu me preocupo com meu time e ele, com o dele", sentenciou. Por sua vez, o treinador sevillista esquivou-se do assunto. "A partida de amanhã é tão importante que fatos extracampos não merecem serem citados", disse.

Abaixo, segue a tradução do trecho da fatídica coluna de Míchel ao Marca.
"Clemente segue subindo na Gabarra há 20 anos. Suas palavras sincronizam com seus feitos, ou seja: são vazias. É incapaz de analisar e manifestar sua impotência como técnico. É mercenário. Alguns clubes já sofreram com isso. Mas Clemente prefere abafar tudo. É triste olhar para o Tenerife e ver a situação pela qual passa. O descenso é muito provável. Clemente, entretanto, falará apenas em melhorar seu handcap no único campo que interessa: o de golfe. É um fato que não tocará no assunto fracasso. Isso, na realidade, não interessa nem ao próprio Clemente. Uma pena".

O AS também explicou o início da briga entre os dois. Para quem entende de espanhol, fica a dica.

27ª rodada
Sábado, 10/mar
Real Sociedad x Zaragoza
Málaga x Levante
Sporting x Sevilla
Betis x Real Madrid

Domingo, 11/mar
Atlético de Madrid x Granada
Espanyol x Rayo Vallecano
Valencia x Mallorca
Racing x Barcelona
Osasuna x Athletic Bilbao

Segunda-feira, 12/mar
Villarreal x Getafe

quinta-feira, 8 de março de 2012

Os Xavis rojiblancos

Ander Herrera disputa bola com Ashley Young. O cérebro do Athletic Bilbao tem sido comparado com Xavi (getty images)

A quinta-feira de Liga Europa foi de festa para os espanhóis. Ainda que tenha sofrido dois gols no segundo tempo, é aceitável pensar num Valencia numa vantagem confortável na visita a Holanda. A vitória por 4x2 dá aos chés a sensação de 80% da vaga nas quartas-de-finais garantida. O Atlético de Madrid, por sua vez, passeou. Os 3x1 ante o Besiktas soa como mentiroso para quem assistiu os 90 minutos de uma partida dominada por total por uma única equipe. Levando a sério, os rojiblancos não deram espaços aos turcos. Os golaços de Salvio (dois) e Adrián ainda na primeira etapa, no entanto, diminuiu o ritmo dos comandados de Simeone nos noventa minutos finais e um gol do ex-Atléti Simão Sabrosa, que não comemorou o tento, dá um pingo de esperanças ao Besiktas.

Mas o vencedor da noite foi o Athletic Bilbao. Apoiado por oito mil torcedores, foi capaz de um feito histórico em Old Trafford. Os leones se impuseram contra o Manchester United e, mesmo saindo em desvantagem no marcador, demonstraram qualidade suficiente para obter triunfo por 3 a 2. Agora, Alex Ferguson e seus comandados terão que se virar diante de 40 mil pessoas no estádio San Mamés se quiserem a classificação na próxima quinta-feira. O clube se agigantou e confirmou duas certezas: tem um elenco com jovens bastantes promissores que podem tornarem-se tops no futuro e a segunda e mais importante é que tem condições de disputar competições de alto nível. Na briga e favorito para copar uma das vagas na próxima Liga dos Campeões no Campeonato Espanhol, a vitória em Manchester volta a ratificar que a equipe tem poderio suficiente para fazer bonito.

Daniel Leite, colunista de futebol inglês para o portal IG, tocou no ponto certo em sua análise da partida: nada disso é acaso. Além da elogiável concepção de futebol, Bielsa é profissional e detalhista a ponto de ter assistido a 126 horas de seu time em ação para traçar perfis do elenco e conhecer um terreno que se apresentou como um desafio inédito em sua carreira. Uma das inspirações de Pep Guardiola, o argentino é valorizado agora pela capacidade de implantar ideias que fogem ao trivial mesmo em equipes com recursos bem mais escassos que os do Barcelona. E, assim, o Athletic lembra em certos pontos o Barcelona. Já citei isso em alguns textos, mas é sempre bom lembrar: a marcação pressão, a procura pela posse de bola e os habituais ataques em bloco elevam os bascos a condição de equipe que, excetuando Barça-Madrid, joga o futebol mais belo do país das touradas. As atuações de Muniain, De Marcos, Javi Martínez, Susaeta, Llorente e Ander Herrera foram destacáveis.

Entretanto, quem mais chama a atenção é o último nome. Ander Herrera é, para o Athletic Bilbao, o que Xavi é para Barcelona. Ele é o cérebro da equipe. Dita o ritmo do jogo, tem a paciência para fazer a bola rodar, sabe a hora de cadenciar e põe seus companheiros em condições de gol. O xodó de Marcelo Bielsa faz uma temporada irretocável. Após passar por apuros no Zaragoza, sendo destaque de uma equipe limitada, e ter sido um dos nomes da Espanha campeão europeia sub-21 no verão, chegou ao Bilbao com status. Com 21 anos, caminha para ser realidade. As 9 assistências na temporada confirmam a importância sua à equipe. O meio-campista é ótimo em posicionamento, passe e marcação e joga como se tivesse uma década de profissional. Se aprender a marcar gols, vai marcar época.


No Atlético de Madrid, o Xavi atende por Koke
Voltamos à vitória do Atlético. Que assistência linda o jovem Koke deu para Salvio marcar. Até brinquei no twitter na hora: lembrou Xavi lançando e Messi marcando de cavadinha. Em certos pontos, comparações são exageradas e nem é meu tipo querer fazê-las. Koke já havia sido uma das revelações da Liga passada. Há muitos anos em Madri fala-se nele, volante com características de armador e que queimava etapas nas categorias de base colchoneras. Lançado durante a temporada 2010/2011 no Atlético de Madrid, mostrou personalidade e colaborou na campanha de recuperação que culminaria em vaga na Liga Europa. Com Simeone, tem ganhado mais moral e chances. Jogado mais adiantado, participa das trocas de passes da equipe. Na Liga Europa, aparece mais. Koke é um meio-campo central dos mais cerebrais. É o futuro do Atlético de Madrid.

Nas divisões de base, sempre foi destaque, seja por Atlético de Madrid ou pela seleção espanhola. Em 2008, havia sido o regente, ao lado de Thiago Alcântara, da Fúria Sub-18 campeã europeia. Há uma semana, entrou em campo contra o Egito e deve ser nome certo no grupo que vai aos Jogos Olímpicos. Bem talentoso, impressiona quase sempre que entra nesta temporada. Com 19 anos, já é xodó da torcida e, mesmo sendo reserva, tem 5 assistências. Já é uma industria espanhola fabricar meias cerebrais. Dos promissores, fica o exemplo: Thiago Alcântara, Canales, Ander Herrera...

Alguns colchoneros já pedem sua presença na seleção de Del Bosque. Talvez não seja para tanto, até pelo fato do setor estar povoado de jogadores de níveis superiores. Mas, dependendo de sua evolução e liderança nas divisões inferiores espanholas, é provável imaginar o nome de Koke em alguma das próximas convocações do treinador madrilenho.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Pintando o 7

"Piqué, quantos gols esse argentino aí na sua frente fez hoje?" (getty images)

Seria falta de ética comentar Barcelona 7x1 Bayer Leverkusen sem citar Lionel Messi. Mas, prometo: apenas esse parágrafo será direcionado ao gênio nascido na Argentina (ou em Marte?). Soa como engraçado isso, mas a atuação de Messi nem foi uma das melhores de sua carreira. Tudo bem, foram cinco gols, algo inédito em sua carreira, porém já houve atuações melhores de La Pulga com número de gols inferiores. Mesmo assim, caindo um pouco em contradição, Messi foi Messi. Atuação de gala e mais recordes pulverizados. Tornou-se o primeiro jogador a marcar quatro ou mais gols mais de uma vez em mata-mata de Champions; tornou-se o primeiro jogador a marcar cinco gols numa mesma partida de Champions; igualou os 49 gols de Di Stéfano na principal competição europeia.

E só. Todos os adjetivos que tenho para dar a Messi já os coloquei nesse texto aqui. É tão comum ver grandes jogos de Messi que tornou-se clichê utilizar as mesmas palavras para defini-lo. Portanto, a partir de agora, comentários apenas da atuação do Barcelona no Camp Nou. Com a Liga virtualmente perdida, resta a Guardiola concentrar as forças de seu plantel na Liga dos Campeões. Não que conquistar a Copa do Rei não seja tão importante, mas soaria como fracasso uma temporada no qual a melhor equipe do mundo conquiste apenas o terceiro torneio de maior importância. Os gols hoje saíram com naturalidade, mas partida por partida, no jogo de ida os azulgrenás estiveram com mais sangue nos olhos.

Fato esperado, obviamente. A vantagem conquistada na Alemanha deu ao Barcelona a condição de jogar mais relaxado na partida da volta. Atuação especial de Iniesta, cada vez mais voltando à velha forma. Se a temporada de El Albino tem sido abaixo de sua média, as últimas partidas podem marcar um novo rumo. Contra o Sporting Gijón, no último sábado, levou o Barcelona à vitória sem a presença de Messi. Hoje, ora no meio-campo, ora aberto à esquerda, foi responsável pelas jogadas de perigo do Barça na primeira rodada. Com o placar definido, foi sacado por Guardiola para a entrada de Tello.

O canterano, por sua vez, foi apresentado à Europa. O debut em âmbito europeu foi os dos mais sonhados pelo jovem. Com um doblete, ganhou mais moral com Guardiola e teve seu nome gritado pelos culés pela primeira vez. Nascido em Sabadell, vem conquistando uma vaga no elenco principal de grão em grão. Ao lado de Cuenca, que já foi efetivado exclusivamente a equipe A, é provável pensar no jogador como jogador do time principal na próxima temporada. O momento do canterano é muito bom. Com 10 partidas entre Liga, Copa e Champions, marcou cinco gols. O segundo gol contou com a falha de Leno, mas o primeiro teve um quê de prodígio. Recebeu um bolão de um Fàbregas cada vez mais à Xavi, avançou como um raio pela esquerda e chutou com categoria à esquerda do goleiro alemão.

Atuação destácavel também de Cesc Fàbregas. Revezando de posição com Iniesta e Messi, fez um primeiro tempo tímido, subindo de produção apenas nos 90 minutos finais, quando passou a jogar exclusivamente no meio-campo. A substituição de Xavi por Keita obrigou o camisa 4 a ser recuado à função de armação e, ali, vem brilhando nos últimos jogos. Assim como no compromisso da Espanha contra a Venezuela, deu duas assistências. Das notícias negativas, fica novamente a má noite de Pedro. O canário segue em má fase e não vai aproveitando a ausência de Sánchez. Afobado, perdeu duas ótimas chances de tirar a zica. Teve seu nome coroado pelo Camp Nou no final, mas sabe que faz uma temporada negra. Semana passada, afirmou que sua vaga nos 22 que vão à Eurocopa está em alerta.