terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Motivos para crer

Há sete pontos do Real Madrid, o Barcelona confia que pode vencer a Liga. Por que não acreditar em uma equipe que possui Lionel Messi, Gerard Piqué, Andrés Iniesta, Cesc Fàbregas, Carles Puyol e Xavi Hernández? (getty images)

Ao empatar com o Villarreal, o Barcelona se complicou. Na busca pela tetracampeonato espanhol, os azulgrenás viram o Real Madrid vencer o Zaragoza por 4 x 1 e abrir uma vantagem considerável para quebrar a sequência de títulos barcelonista. No momento, a diferença entre os dois rivais são de 7 pontos. Ironicamente, vem à cabeça o fato de, na temporada passada, no mesmo período, quem comemorava uma larga vantagem em relação ao outro era exatamente o Barcelona. À época, os blaugranas venceram o Hércules com facilidade e viram o Real Madrid tropeçar em Pamplona ante um aguerrido Osasuna. Sete pontos de vantagem e título, praticamente, nas mãos.

Mas o discursso na Catalunha é que não há nada perdido. Há um ano, quando estava muito à frente do rival da capital, Guardiola declarou que, em janeiro, ninguém é campeão. "Si, se puede" é a mensagem que o treinador passa ao elenco. Pinto já declarou que a equipe vai brigar pela Liga, enquanto jogadores como Puyol, Iniesta, Piqué e Daniel Alves mostraram confiança nas redes sociais. A torcida também confia. No twitter, os culés lançaram a hashtag #ConfiamosEnEsteBarça, que tornou-se Trending Topics na Espanha. Além disso, ainda há um confronto direto para se fazer, que será no Camp Nou. Os culés tem fé porque, acima de tudo, falamos do Barcelona de Josep Guardiola, que venceu seis competições em um único ano, que não perde no Bernabéu desde 2008, que é a base da seleção campeã mundial. São sete pontos de diferença, mas o Quatro Tiempos mostra abaixo sete motivos para acreditar na remontada blaugrana.

Mudança na mentalidade: Há tempos o Barcelona deixou de lado uma corrente pessimista que envolvia o plantel a cada jogo decisivo. Há alguns anos, mais precisamente antes da chegada de Joan Laporta à presidência do clube, ponto crucial no desenvolvimente do Barça, a equipe sucumbia ante os momentos de pressão. De 2000 a 2003 viveu num período de ostracismo. Eliminações na UCL para Valencia e Real Madrid, eliminações na Copa para equipes de divisões inferiores e, sobretudo, briga pelo título nula. Atualmente, a postura é diametralmente oposta. Os catalães já sentenciaram duas Ligas no Bernabéu e ganharam títulos em demasia nos últimos anos. Psicologicamente, a equipe é bem preparada. Se há algo que o Barcelona não mostra é falhar nos momentos de decisão.

O fator Camp Nou: A inesperada mudança de imagem que o Real Madrid ofereceu no jogo de volta da Copa no estádio de Barcelona não abalou os ânimos culés de que o favoritismo no jogo pela Liga ainda é azulgrená. A melhor versão dos comandados de Mourinho desde que Guardiola assumiu o Barcelona coincidiu com o Barcelona mais inseguro das últimas temporadas. Mesmo assim o Real Madrid não conseguiu ganhar. Uma vitória nos últimos dez confrontos com o Pep Team é um exemplo claro da superioridade barcelonista no confronto direto perante o eterno rival. Aliás, vale lembrar: a última vez que o Real Madrid triunfou no Camp Nou foi em 2007, com Frank Rijkaard ainda no comando técnico barcelonista. Ou seja: Guardiola ainda não perdeu para os blancos na Catalunha.

Recuperação das peças-chaves: O Barcelona sofre com as lesões. O Departamento Médico está lotado. As constantes lesões de Alexis Sánchez, Iniesta e Pedro somadas às prolongadas ausências de Afellay e Villa obrigam Guardiola a preservar algumas de suas estrelas em alguns confrontos. O regresso de Keita da Copa Africana de Nações e a recuperação de algumas peças-chaves do onze inicial podem oferecer à equipe um plus de confiança na reta decisiva da temporada.

Os dérbis e os reinos antimadridistas: Dando uma atenção especial à tabela, o Barcelona se agarra há algumas pedras no sapato merengue. Getafe, Rayo Vallecano e Atlético de Madrid recebem o Real Madrid com um incentivo adicional de poder surpreender o líder em um dérbi. Os três, juntos, levaram 14 gols do rival nos confrontos do primeiro turno e querem dar a volta por cima. Outro que pode complicar para os comandados de Mourinho é o Osasuna. Visitar o Reyno de Navarra é sempre uma tarefa ingrata para os blancos. San Mamés, a três rodadas do final, é outro território hostil para o Madrid.

A possibilidade da Tríplice Coroa: Poucas equipes, à essa altura da temporada, mantém-se vivas em todas as competições. O Barcelona de Guardiola só perdeu três títulos nos últimos três anos (duas Copas do Rei e uma Champions League) e é precisamente na Liga Espanhola onde o Barcelona mais mostrou-se confiável. Com Pep, mantém 100% de aproveitamento na competição caseira: em três Ligas disputadas, três títulos. A possibilidade de repetir o mítico triplete da temporada 2008/2009 (Liga + Copa + UCL) também está em xeque. Os blaugranas já mostraram que não estão cansados de vencer. Portanto, nunca duvide da ambição barcelonista.

Só o Barcelona possui em seu elenco o melhor jogador do mundo (Getty Images)

Só o Barcelona tem Lionel Messi: O Barcelona conta com o melhor futebolista do mundo e dos últimos anos em suas fileiras. Quer motivo maior para continuar acreditando? Uma vantagem única e decisiva para resolver situações de adversidades em momentos complicados. La Pulga mostrou sua melhor faceta no Camp Nou (19 gols), ainda que falta explorar mais seu futebol fora de casa, onde marcou apenas três gols (os três contra o Málaga). Messi sempre aparece quando o Barça mais necessita e são nesses momentos que o argentino mostra o porquê de ter sido eleito melhor jogador do mundo nos últimos três anos. Leo gosta de desafios.

"Uma hora eles tropeçarão": Palavras de Daniel Alves. E é verdade. Desde a derrota para o Levante e o empate ante o Racing Santander, a equipe de Mourinho perdeu apenas três pontos em 48 disputados. Dificilmente o Real Madrid manterá esse fôlego em mais quatro meses de campeonato e, certamente, desperdício de pontos virão pela frente. Todas as equipes passam por momentos de quedas na temporada e, pelo visto, os dos merengues ainda não chegou.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

21ª rodada: Em queda livre

Enquanto Juanfra lamenta, Güiza comemora. Na volta de Luis García ao Ciutat de Valencia, sua atual equipe, Getafe, jogou um balde de água fria no Levante (getty images)

Levante 1x2 Getafe
Estava claro que o desempenho dos levantinos na primeira metade da temporada seria muito difícil de se repetir na segunda. Um elenco curto e de idade (média de 31 anos) tinha que pagar o preço ao longo da temporada. As lesões apareceram, e com elas o time caiu de produção. Foram eliminados da Copa do Rei pelo rival Valencia e já acumulam três derrotas e um empate nos últimos quatro jogos. Desta vez perderam do Getafe em casa e sem muita chance, dado que perdiam por 2-0 até o último minuto do jogo, quando marcaram um de pênalti. A contratação de Oscar Serrano, mais um ‘idoso’ que vem do Racing depois de sérios problemas no joelho, não parece que seja a solução para esta temporada, que começou muito bem, mas será muito longa para o Levante.

Villarreal 0x0 Barcelona
E já são sete pontos de vantagem para o Real Madrid, que apesar de não conseguir superar o rival nos confrontos diretos, está aproveitando a má temporada do Barcelona fora de casa. Com o empate em Villarreal, já são seis neste campeonato, e uma derrota, números fracos para uma equipe tão bem entrosada. A primeira parte do Barcelona no sábado foi péssima. Evidentemente as lesões estão tendo um forte impacto na qualidade do jogo, e nem sempre Messi consegue resolver as partidas sozinho. O cansaço acumulado depois de tantos jogos, especialmente contra o Real Madrid, que fisicamente é muito forte, está aparecendo nestas partidas que teoricamente deveriam ser mais tranquilas para os catalães, nas quais a falta de energia está ficando mais aparente.

Real Madrid 4x1 Zaragoza
Mais uma vitória tranquila do campeão de inverno, neste caso contra o lanterna Zaragoza com aplausos para Cristiano Ronaldo, que havia sido vaiado no final do ano pela torcida madridista, e que viu seu esforço dos últimos jogos recompensado pelo público. Finalmente o gajo jogou bem contra o Barcelona e mostrou uma enorme capacidade de sacrifício nas partidas contra Mallorca e Zaragoza, fazendo gols em todos os jogos. Estas relações de amor-ódio são normais no Bernabéu, que já vaiou quase todos seus grandes ídolos em momentos específicos das suas carreiras. Ronaldo passou por um momento difícil e como o Real Madrid agora recupera o ânimo depois da derrota na Copa do Rei, aumentando a vantagem sobre o Barcelona e se reconciliando com a arquibancada do Bernabéu. Vale a pena mencionar a Mesut Özil, que também voltou a sua melhor forma e jogou muita bola no último mês. Quando ele está inspirado, o Real Madrid é uma equipe diferente.

Espanyol 1x0 Mallorca
O Espanyol venceu com a ajuda do goleiro mallorquín Aouate, que, após falhar no meio da semana contra o Athletic Bilbao, deu um gol de presente para os péricos, e do árbitro, que devia ter marcado pênalti contra eles perto do fim do jogo. Em qualquer caso, é impressionante o que o treinador argentino Mauricio Pochettino está fazendo com a ‘outra’ equipe de Barcelona, sem atacantes (os três melhores estão machucados) e com muitos jovens inexperientes no elenco. Hoje, os blanquiazules anunciaram a contratação do artilheiro Kalu Uche, que jogou muitos anos no campeonato espanhol e que estava no Neuchatel suíço, e do brasileiro Phillippe Coutinho, tratado como novo Zico no Cornellà. Será uma boa ajuda para a segunda metade do campeonato, para ver se conseguem se manter em posições que dão acesso às competições europeias.

Rayo Vallecano 2x3 Athletic Bilbao
Demorou metade da temporada para que os jogadores bilbainos entendessem o que seu treinador queria deles, mas agora parece que o Athletic está a toda potência. Já se classificou para as semifinais da Copa, nas quais tem apenas o "teoricamente fácil" Mirandés no caminho para a final. E depois da vitória do sábado em Vallecas, com três gols do artilheiro Fernando Llorente, que ratifica a volta da boa fase, a equipe basca está a só dois pontos da vaga de Champions League que ocupa o Levante. Dado que a equipe é jovem, o final de temporada pode ser muito melhor do que o começo, com maior entrosamento.

Bétis 1x2 Granada
Três derrotas consecutivas custaram o emprego ao excelente treinador Fabriciano González, que tinha levado o Granada da Segunda Divisão B à elite em apenas duas temporadas. Os granadinos contrataram o Abel Resino, goleiro lendário do Atlético de Madrid que até agora teve passagens curtas por vários clubes na sua carreira como treinador. O primeiro jogo do Granada com Abel no banco foi excelente, tanto que os granadinos venceram com facilidade um rival teoricamente mais forte fora de casa. O Betis, que tinha jogado muito bem no Camp Nou e também no dérbi sevillano, foi surpreendido pela força e agressividade do Granada, que foi muito superior no gramado. Veremos se conseguem manter essa força toda.

Real Sociedad 5x1 Sporting Gijón
Há quase três semanas, cheguei a apontar que a Real Sociedad tinha um futebol vistoso, de primeiro divisão. Um dia após o texto, o Mallorca (que não tem atacantes) fez seis gols nos txuri-urdins. Tiveram uma fase péssima e de repente marcam cinco gols contra o Sporting, dois nos primeiros três minutos e mais dois nos últimos três. Griezmann parece ter voltado ao seu melhor nível, enquanto o exigente público de San Sebastián reduziu sua pressão sobre o técnico francês Philippe Mountanier. Os problemas ficam do lado do Sporting, em posição de rebaixamento e com um elenco jovem que cada vez sente mais a tensão da Liga BBVA.

Racing Santander 2x2 Valencia
O Valencia parecia ter a partida ganha contra o fraco Racing, mas um gol no finalzinho deu o empate aos cantabrianos. O jogo foi muito mais duro do que se esperava, com vários lesionados e brigas sem parar durante os 90 minutos. Aduriz, que estava contando pouco com a confiança de Unai Emery, marcou dois gols saindo do banco, mas mesmo assim e com a recuperação do argentino Piatti, que finalmente está jogando bola, o Valencia não conseguiu vencer e segue sem aproveitar as dificuldades do Barcelona longe do Camp Nou. Ambos times vão competir por uma vaga na final da Copa do Rei nas próximas semanas, em jogos que devem muito interessantes.

Málaga 2x1 Sevilla
Pellegrinni estava em situação complicada depois de nove jogos sem vencer, mas o Málaga e seu técnico chileno ganharam tempo com a sofrida vitória sobre o Sevilla. Algumas das estrelas dos blanquiazules, que passaram quase dois meses sumidos, apareceram para derrotar o rival regional e deixar os sevillistas, que ficam na metade inferior da tabela, bem preocupados. Mesmo assim, as expectativas sobre a campanha do Málaga estão longe de serem cumpridas, com tanta despesa em jogadores e contratações que, pelo menos no papel, pareciam excelentes.

Osasuna 0x1 Atlético de Madrid
Mais uma vitória fora de casa do Atlético, neste caso no complicado estádio Reyno de Navarra frente ao Osasuna. Não foi uma vitória tão impressionante como o 4 x 0 em San Sebastián, mas em qualquer caso os rojiblancos seguem com a sequência excelente de resultados desde que Simeone chegou ao clube, ficando pertinho das vagas para a Liga dos Campeões, que tão longe pareciam um mês e meio atrás. Pela primeira vez desde 1996/97, um treinador estreia no Atlético sem sofrer gols nos quatro primeiros jogos.

Os melhores do primeiro turno

Tecnicamente, a primeira rodada do segundo turno da Liga BBVA encerrou agora há pouco, com a vitória do Atlético de Madrid ante o Osasuna em Navarra. Tecnicamente porque a primeira rodada, de fato, só acontecerá nos dias 2 e 3 de maio, sendo adiada devido ao fato da greve que adiou, no início da temporada, a abertura do campeonato. Ficou confuso, mas o importante é que a coisa já começou a regularizar e chegamos à metade do campeonato. No momento, temos:

Líder: Real Madrid (52)
Liga dos Campeões: Barcelona (45), Valencia (36), Levante (31)
Liga Europa: Espanyol (31), Athletic Bilbao (29)
Com pretensões de competições europeias: Atlético de Madrid (29), Málaga (28), Getafe (27), Osasuna (27), Sevilla (26).
Meio da tabela: Real Sociedad (24), Real Bétis (23), Mallorca (22), Rayo Vallecano (22), Granada (22), Racing Santander (21).
Zona de rebaixamento: Villarreal (20), Sporting Gijón (18), Zaragoza (12).

Agora, a parte que realmente interessa: as estatísticas e os melhores do campeonato até o momento.

Cristiano Ronaldo e Messi disputam a artilharia por mais uma temporada consecutiva (AP Photos)

Artilheiros: Cristiano Ronaldo (Real Madrid - 24), Messi (Barcelona - 22), Falcão García (Atlético de Madrid - 14) e Higuaín (Real Madrid - 14)
Assistentes: Di María (Real Madrid - 11), Özil (Real Madrid - 10), Messi (Barcelona - 7).
Melhor jogador*: Di María (Real Madrid)
Time sensação: Levante
Time decepção: Villarreal
Seleção do campeonato: Javi Varas (Sevilla); Daniel Alves (Barcelona), Sergio Ramos (Real Madrid), Javi Martínez (Athletic Bilbao), Marcelo (Real Madrid); Xabi Alonso (Real Madrid); Di María (Real Madrid), Xavi (Barcelona), Cristiano Ronaldo (Real Madrid); Messi (Barcelona), Falcão García (Atlético de Madrid). Treinador: Juan Ignácio Martínez (Levante)

*Para evitar as obviedades, excetuamos Messi e Cristiano Ronaldo

domingo, 29 de janeiro de 2012

Há futuro para o Villarreal

Reprovado pela torcida, Molina dá a volta por cima, recupera o bom futebol do Villarreal e começa a cair nas graças dos aficionados (getty images)

Na estreia do ex-jogador José Molina no comando técnico do Villarreal, o Submarino Amarelo ficou no empate com um gosto de derrota contra o Valencia. O Submarino Amarelo reencontrou o bom futebol, chegou a abrir 2 x 0, mas sofreu o empate na etapa final. O time jogou bem por cerca de 60 minutos e deixou boas impressões, o que gerou bastante expectativa. Expectativa essa que foi por água abaixo na rodada depois. Os amarillos viram pela frente um novo Atlético de Madrid e saíram da capital espanhola surrados: 3 x 0.

Os dois últimos jogos ratificaram que à medida que as rodadas passam o Villarreal vai se reencontrando com o futebol de outros tempos. A posse de bola aumentou consideravelmente no novo ano, as trocas de passes voltaram a ficar rápidas e, sobretudo, envolventes e o ataque, mesmo desfalcado de Nilmar e Rossi, não tem deixado a desejar. Não que o torcedor tenha visto um futebol incontestável e de encher os olhos, mas já é possível perceber que este time tem margem de crescimento. O discursso adotado por Molina é comprometimento e grupo, seguido de qualidade técnica. Trabalhar em equipe sempre. Dessa forma, o ex-goleiro resgatou os ânimos de uma equipe que fechou 2011 como decepção.

A forma com a qual o Villarreal segurou o Barcelona mostra muito bem que o elenco está junto com Molina. As duas linha de quatro fecharam o meio-campo, congestionando o setor onde o Barcelona mais gosta de atuar. Xavi e Fàbregas inexistiram por ali e Messi, em má noite, teve que ir buscar a bola atrás para tentar criar algo, como faz na seleção argentina. No setor defensivo, uma brava atuação de Diego López, que foi muito bem quando exigido, sobretudo nos minutos finais, quando fez uma bela defesa em chute de Messi. Oriol, na lateral esquerda, talvez tenha sido o melhor em campo. Ajudou com contudência a defesa e subiu ao ataque sempre levando bastante perigo. Joselu e Marco Rúben, no ataque, fizeram uma partida fraca, tecnicamente. Não faltou esforço e, volta e meia, Rúben voltava para marcar, mas o jogo baseado na defesa fez com que a bola pouco chegasse em seus pés.

Para o Villarreal, o empate teve um gosto paradoxal. Foi comemorado porque tirou pontos da melhor equipe do mundo (que, pelo visto, vai ficar sem a Liga Espanhola), mas com a vitória do Granada ante o Bétis, hoje cedo, representou a volta do Submarino Amarelo à zona de rebaixamento. Nada que abale o início de trabalho de Molina, que já tem o grupo em suas mãos. A capacidade de continuar apostando no que parece certo, como bancar jogadores mais técnicos e analisar o que está errado, não ter medo de recuar uma equipe que, historicamente, é conhecido por praticar um futebol voltado ao jogo defensivo e manter um padrão tático único levam, até o momento, Molina ao gosto da torcida, que reprovou a ida do torcedor no dia do anúncio do presidente Fernando Roig. O treinador, que venceu o câncer à época de jogador do Deportivo, tem tudo para vencer novamente as adversidades da vida.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Orgulho resgatado

Özil e Cristiano Ronaldo são as imagens do novo Real Madrid. Antes criticados por não renderem contra o Barcelona, deram a volta por cima e saíram de campos exaltados (reuters)

Guardiola assumiu o comando técnico do Barcelona em 2008. Estamos em 2012 e desde que o treinador chegou à equipe principal dos barcelonistas foram disputados 13 superclássicos nesse período. Em 10 deles o Barcelona foi totalmente superior ao Real Madrid, até mesmo quando foi derrotado na final da Copa do Rei 2010/2011. Já teve 5 x 0, 6 x 2, 3 x 1. Em dois deles, os merengues conseguiram neutralizar o poderio azulgrená e fizeram uma partida igualada. Quatro anos depois de ser superior ao rival catalão pela última vez, o Real Madrid voltou a ser o Real Madrid.

O empate por 2 x 2 pelo jogo da volta da Copa classificou o Barcelona à semifinal da competição. Mas se teve uma notícia positiva no lado perdedor foi o fato da equipe ter recuperado a áurea merengue, o sangue de vencedor. Demorou, mas enfim o Real Madrid voltou a se comportar como um gigante num superclássico. Voltou a honrar o clube mais vencedor da história do futebol mundial. Jogou com a dignidade daquele que tem 9 Ligas dos Campeões da Uefa, 31 Campeonatos Espanhóis, 3 Mundiais de Clubes, 18 Copas do Rei. O orgulhou do madridismo foi resgatado. Estavam soterrados, humilhados, cabisbaixos, enterrados. Mas ressuscitaram das cinzas como uma fênix. E, como a mítica ave da mitologia grega, querem dar a volta por cima. A vida longa da fênix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual. É o que quer José Mourinho daqui para frente.

A excelente partida do Real Madrid no Camp Nou envia uma mensagem de esperança aos torcedores blancos. Foi confirmado que, por melhor que seja o Barcelona, melhor equipe do mundo, apequenar-se não é o mais indubitável em jogos como esses. Excelência se combate com excelência. Talento se combate com talento. História se combate com história. Foi isso que o Madrid desta quarta-feira fez no Camp Nou. Faltou sorte, também. Um chute perfeito de Özil acertou a trave de Pinto. Um chute perfeito de Daniel Alves, por sua vez, morreu no ângulo direito de Casillas. Uma arrancada de Messi parou perfeitamente nos pés de Pedro, que colocou no contra-pé do capitão merengue para vencê-lo. Uma arrancada de um repentino Kaká caiu no pé esquerdo de Cristiano Ronaldo, mas que acabou carimbando a placa publicitária às costas do gol de Pinto.

Os blancos perderam na soma de resultados, mas ganharam em dignidade. Isso revela uma situação emblemática para José Mourinho: por que arriscar tudo no campo do adversário quando se pode definir um duelo atuando em seus domínios? O 4-3-3 com Altintop na lateral direita, Özil, Callejón e Kaká no banco e Lass, Xabi Alonso e Khedira no meio-campo soa como inacreditável se comparado ao 4-2-3-1 usual utilizado ontem. Teve Özil, Kaká, Cristiano Ronaldo, Arbeloa, Fabio Coentrão. O novo Real Madrid, a equipe do futuro, jogou melhor que seu adversário quando resolveu jogar que um gigante do futebol mundial.

O Real Madrid do futuro tem Mesut Özil, camisa 10 raro, que joga de terno e gravata. Özil tem vocação técnica para ditar o ritmo de jogo do time em que joga. Ontem foi o motor do Real Madrid na partida. A imagem de um meio-campista craque mas displicente deu lugar a um jogador de aura energética. Foi para isso que José Mourinho o contratou. O Real Madrid do futuro tem Cristiano Ronaldo, craque com dna de vencedor. Chegou a ser vaiado pelos torcedores por não render nem 25% do que pode num superclássico. Mas os dois duelos pela Copa foram a rendenção do português, único jogador capaz de rivalizar com Messi o posto de melhor do mundo.

O Real Madrid do futuro tem Benzema, homem-gol sempre sedento por ir às redes. Bate com as duas, cabeceia, se posiciona bem. O Real Madrid do futuro tem Xabi Alonso, meia que marca, arma e finaliza. É o ponto de equilíbrio da equipe, o jogador que faz a bola rodar e que comanda o meio-campo. O Real Madrid do futuro tem Marcelo, lateral-esquerdo arisco, ousado e agudo. O Real Madrid do futuro tem Sergio Ramos, lateral direito que já teve o mundo aos seus pés. Utilizado de zagueiro, como no início da carreira, não tem comprometido. Foram longos quatro anos para o Real Madrid voltar a ser o Real Madrid.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Uma vitória da fé

O herói de toda uma cidade. Pablo Infante é o principal nome do histórico Mirandés na Copa (getty images)

Depois de eliminar Villarreal, Racing Santander, imaginavam que o Mirandés estava satisfeito. Engana-se. Eles nunca estão. A vitória por 2 x 1 contra o Espanyol foi uma vitória da fé. Foi uma vitória de Pablo Infante, ídolo da torcida, jogador que entra para história do simpático clube a cada dia e, vale lembrar, artilheiro de uma competição onde Messi e Cristiano Ronaldo disputam. Foi uma vitória de Carlos Pouso, treinador da equipe, que trabalha muito bem na gerência psicológica do elenco. "Essa vitória é para contar para os netos", disse após o jogo. É, acima de tudo, uma vitória da torcida. Eles acreditaram. Eles lotaram o Anduva em todas as partidas. Desde o primeiro jogo até o duelo contra o Espanyol.

Sabe a matemática? Eles desmentiram. Dobraram os números, as chances, os riscos, os medos. Acreditaram sozinhos, quando o resto do mundo duvidava. Foram humilhados, desacreditados, subestimados. Foram carta fora do baralho, eliminados de véspera, acossados pela zombaria alheia. Foram indiferença, força e fé. Aguentaram calados, mandaram esperar pra ver. Alguns milhares atravessaram quase 2,5 mil quilômetros no jogo de ida. Pagaram promessa antes mesmo da graça alcançada. Deixaram as dúvidas pelo caminho. Na bagagem, duas cores e uma certeza. Foram, viram e venceram.


Os que ficaram foram em pensamento. Todos os corações estavam lá, aflitos, nervosos, mas confiantes. Entre o sonho e o céu, 90 minutos. Entre o céu e o campo, um aguaceiro que quase varreu a esperança. "E os sonhos, sonhos são. E os sonhos, sonhos seguem sendo", cantaram os aficionados em meio à emoção após o jogo. Não importava quem estava do outro lado. Não importava se era um time da primeira divisão, um time que, há duas semanas, parou o poderoso Barcelona. A chuva igualou por baixo. O futebol saiu de cena. A água trouxe o receio. A reboque vieram o drama, a luta, a epopeia.

Na verdade, o temporal era o detalhe que faltava ao enredo. Não podia ser fácil. Não podia ser a seco, trajes limpos, goleada. Tinha que ser na lama, no peito, na raça. A camisa, que já pesava uma tonelada nos ombros, ficou encharcada. Tempo, temor, tempestade. Mas dilúvio mesmo foi quando Infante levantou a bola e Caneda lavou a alma de uma província inteira. Detalhe: aos 47 minutos do segundo tempo. Burgos está em festa. A pacata cidade situada a Noroeste de Castilla e Leão está no centro da Espanha até a bola rolar para Barcelona e Real Madrid amanhã. Ramiro Aldunate, que fazia o tempo real da partida no Marca, descreveu bem o gol da classificação. "Caneda subiu e cabeceou com toda a fé do mundo para levar o estádio à loucura". Sim: milagres existem.

Caneda mostrou com quantos pingos se faz um time. A partir dali, ninguém mais sabia o que era chuva e o que era choro. A partir dali, ninguém mais precisava fazer conta. O Mirandés venceu o Espanyol, a chuva, a matemática. Só não venceu a descrença porque ela nunca existiu. Dez temporadas após o Figueira ser eliminado pelo Deportivo na semifinal, uma equipe da Segunda Divisão B chega à penúltima fase da segunda principal competição da Espanha. Pablo Infante já é o verdadeiro Rei desta Copa. Um gol e uma assistência no jogo de hoje. Oito tentos na competição, o que vale a artilharia. Tudo isso vindo de seu mágico pé direito, abençoado pelos deuses e protegidos pelos aficionados. Uma vitória merecida e celebrada por toda a Espanha.

O Mirandés está no Olimpo do futebol. Os heróis de hoje serão considerados verdadeiras lendas amanhã.

1ª rodada*: Sul-americanos em alta

Na rodada dos sul-americanos, Messi anotou três gols e Alexis Sánchez, um (getty images)

Málaga 1x4 Barcelona
Poupando Xavi, Fàbregas e Puyol para o jogo da volta contra o Real Madrid, Guardiola apostou nas titularidades de Thiago e Adriano. E a dupla aproveitou a chance dada pelo treinador. Thiago, na ausência de Xavi, fez a bola correr no meio-campo e Adriano, jogando mais avançado, mostrou contundência no lado esquerdo. O novo posicionamento do brasileiro é mais um acerto de Guardiola, que usa o (ex) lateral à Pedro. Messi, mais uma vez, foi o grande destaque: inspirado, marcou três, naquela que, talvez, foi sua melhor partida na temporada. Na vigília para o superclássico, La Pulga vem forte para encarar o rival da capital. Enquanto isso, o Málaga segue mal em 2012: até agora, cinco jogos e nenhuma vitória. A Liga dos Campeões, sonho desejado no início da temporada, começa a se distanciar.

Real Madrid 4x1 Athletic Bilbao
O gol de Llorente aos 12 minutos assustou e ligou o alarme merengue. Nada que abalasse a energia da equipe, que deu a volta por cima, empatou 12 minutos depois com Marcelo e, no final, goleou os bascos. A equipe de Marcelo Bielsa tem o que lamentar: com o placar a favor, De Marcos perdeu um gol incrível e, quando estava um a um, Llorente desperdiçou frente a Casillas um chute de esquerda que saiu todo torto. Destaque para as boas partidas de Özil, que ratifica a cada rodada que em 2012 pretende dar a volta por cima, e Kaká, que sofreu o pênalti convertido por Cristiano Ronaldo, decretando a virada blanca. A dupla conquistou pontos com Mourinho que pretende escalá-los como titular no Camp Nou.

Bétis 1x1 Sevilla
Terminou empatado o dérbi mais quente do futebol espanhol. Três anos depois, Bétis e Sevilla voltaram a disputar o dérbi da cidade de Sevilha. Não faltou nada no Benito Villamarín. Teve emoção, polêmica e, acima de tudo, futebol. Ingredientes necessários para um bom dérbi. Em campo, um jogo aberto e um resultado justo. Precisando da vitória, o Sevilla veio ofensivo no 4-2-3-1. Reyes, que havia dito antes da partida que estava emocionado em disputar o dérbi, se destacou pelo lado sevillista ao lado de Jesus Navas, que infernizou a vida de Nacho González na direita. Foi um Sevilla valente, que, mesmo com um a menos graças a expulsão de Fazio, não parou de atacar em prol de recuar.

Real Sociedad 0x4 Atlético de Madrid
Quando visitaram o Anoeta, Real Madrid e Barcelona sofreram. Enquanto os blancos venceram por apenas 1 x 0, os azulgrenás viram uma equipe guerreira ir buscar um empate de 2 x 2 após estar perdendo por dois gols de diferença. Paralelamente aos gigantes, o Atlético de Madrid, uma nova equipe neste início de gestão de Simeone, não encontrou dificuldades no campo txuri-urdin. Pelo contrário. A primeira vitória rojiblanca fora do Vicente Calderón na temporada saiu com extrema facilidade. Falcão García brilhou, com hat-trick, Diego domou o meio-campo e Adrián foi mais uma vez o motor. À nível defensivo, o Atléti fez novamente uma grande partida. Godín, Miranda, Juanfran e Filipe Luís não permitiram à Real Sociedad criar ocasiões.

Villarreal 3x0 Sporting Gijón
Dois meses depois, o Villarreal voltou a comemorar uma vitória. E o fez com estilo. Um 3 x 0 para elevar a moral dos amarillos, que saem da zona de rebaixamento e provam que a postura com Molina é outra. Ironicamente, o Villarreal não sentiu a falta de Nilmar. Borja Valero, melhor da equipe da temporada, foi o homem da partida por mais uma vez e Marco Rúben brilhou na frente. O 4-4-2 que, há um ano, tinha Rossi e Nilmar, contra o Gijón teve Rúben e um esforçado Joselu.

*Lembram da greve no início da temporada que adiou a primeira rodada? Pois bem, foram disputados no final de semana passado os jogos referentes à rodada 1. A 20ª rodada, por sua vez, será disputada apenas em maio.

Seleção da rodada
Casto (Bétis); Juanfran (Atlético de Madrid), Ramis (Mallorca), Sergio Ramos (Real Madrid), Marcelo (Real Madrid); Beñat (Bétis), Borja Valero (Villarreal), Özil (Real Madrid), Iniesta (Barcelona); Falcão García (Atlético de Madrid), Messi (Barcelona).

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Semifinal próxima

"Nossa, nossa, assim você me mata. Aí, se eu te pego; aí, aí, se eu te pego. Delícia, delícia, assim você me mata. Aí, se eu te pego; aí, aí, se eu te pego" (superdeporte)

O dérbi de Valencia foi mais uma vez do Valencia. Após uma vitória em novembro, quando o Levante vivia uma fase melhor, os chés voltaram a aterrorizar a vida do rival da cidade. Graças a um ótimo primeiro tempo, o Valencia venceu os azulgrenás por 4 x 1 no jogo de ida das quartas-de-finais da Copa do Rei e colocou um pé e meio na próxima fase, quando, provavelmente, deverá enfrentar o Barcelona.

Se o Valencia mereceu ao menos o prêmio da vitória pelo primeiro tempo, o Levante sofreu um castigo excessivo nos noventa minutos finais, quando diminuiu o ritmo dos anfitriões. Mas o castigo veio à cavalo quando Piatti e Tino Costa marcaram nos acréscimos e decretaram a goleada blanquinegra, que, para ficar para trás, terá que perder por três ou mais gols no Ciutat de Valencia. O primeiro tempo foi bastante disputado. Intensa e divertida graças, sobretudo, ao dinamismo e a capacidade do Valencia para tomar a iniciativa. No 4-2-3-1 corriqueiro, os morcegos foram para cima, e acharam dois gols nos primeiros 30 minutos, com Jonas e Soldado.

O brasileiro é, até o momento, o jogador que mais tem desequilibrado a favor dos chés na competição nacional. Se, na temporada num todo, Soldado tem se destacado com maior intensidade, pelo menos na Copa, Jonas é o mais decisivo. Na eliminatória contra o Sevilla foram dois gols e uma assistência milimétrica para Soldado marcar. Ontem, quem também brilhou foi Pablo Hernández. O 19, que não faz uma temporada muito boa, deu a volta por cima. Participou de três dos quatro gols, sendo eles uma linda assistência para Piatti definir. Sua lesão foi bastante lamentada por Unai Emery. Mas não é nada preocupante: apenas uma semana de baixa.

O Levante, esmagado pelo rival novamente, convive com um dilema. O treinador Ignácio Martínez já disse que irá priorizar o campeonato, mas que a Copa tem que ser disputada com concentração. Coinciliar as duas competições, pelo visto, não está fazendo bem. O plantel não é jovem o bastante em relação aos adversários e, vale lembrar, há uma vaga na principal competição europeia em jogo. O baque pela goleada ante o maior rival pode ser grande. Na Liga, Athletic Bilbao e Atlético de Madrid têm crescido de produção e começa a assustar os granotes. Na guerra psicológica, o Levante está abalado e começa a perder, caindo de produção.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O mau perdedor

Imagem auto-afirmativa. Pepe afirmou que não teve o propósito de pisar em Messi (getty images)

Não existe nada pior no esporte do que um mau perdedor. O mau perdedor não é o que tem espírito vencedor, o que tenta a todo custo buscar o topo, o que quer sempre mais. O mau perdedor não é o que não gosta de perder, o que fica chateado com a derrota, o que passa a noite sem dormir pensando no que podia ter feito de diferente. O mau perdedor é aquele que não compreende que perder faz parte do jogo, que não admite reconhecer-se inferior, que apela quando o insucesso se avizinha.

O bom perdedor transforma a derrota em aprendizado. Aceita, mas não se conforma. Perde, não incita violência, aperta a mão do ganhador, parabeniza, volta para casa e matuta uma forma de superá-lo no jogo seguinte. O bom perdedor não põe o resultado à frente do caráter. Derrota não mancha currículo. Deslealdade mancha. O brasileiro naturalizado português Pepe se encaixa perfeitamente na imagem de mau perdedor.

O zagueiro chegou a Madrid sob expectativas. Até porque foram pagos 30 milhões de euros para tirá-lo do Porto. O preço foi um exagero total da cúpula merengue à época, apesar de Pepe ter futebol. Sim, o português sabe jogar bola. Mas não tem cérebro. Perde a paciência à toa, cai na provocação do adversário facilmente e, sobretudo, não aguenta ser humilhado pelos jogadores do Barcelona. Os ingredientes jogam por água abaixo boas partidas que Pepe faz. Um exemplo claro foi o superclássico do Bernabéu pela ida da Champions League passada. Pepe anulava Messi e o Barcelona não atacava a meta de Casillas com contundência. Mas estava lá Pepe para acabar com o esquema de Mourinho. Uma solada desnecessária em Daniel Alves gerou um cartão vermelho. O suficiente para Messi ficar solto em campo e desfilar genialidade, marcando dois e garantido o Barça na final.

Está paranóico diante do retrospecto negativo de sua equipe frente ao maior rival. Em oito confrontos desde que Mourinho chegou a Chamartín, perdeu cinco, empatou dois e venceu apenas um. Tomou um retumbante 5 a 0 no primeiro duelo, onde quem protagonizou cenas de mau perdedor foi Sergio Ramos. Uma ferida que ainda não cicatrizou. Perdeu Champions, La Liga, Supercopa e, pelo visto, Copa do Rei. Perdeu a razão.

Na derrota da última quarta-feira, por 2 a 1, Pepe apresentou ao mundo, mais uma vez, sua face de mau perdedor. O chute em Busquets, logo no final da primeira etapa, soaria como um gesto de jogo duro se fosse fato único. Representou, contudo, mais um capítulo de mau comportamento e falta de espírito esportivo. O luso-brasileiro criou polêmica desnecessária. Chegou a protagonizar um fingimento de tapa na cara para parar, propositadamente, um ataque azulgrená, quando, na verdade, Cesc Fàbregas utilizou do futebol limpo para desarmá-lo no campo de ataque. Foi vaiado pela torcida após ser substituido. Os aficionados já não o aguentam mais.

Mas o ato de Pepe que mais indignou os fãs de futebol pelo mundo e o barcelonismo envolveu aquele que tem uma imagem dialmetralmente oposta àquela que Pepe mostra a cada partida: Lionel Messi. Após boa jogada do argentino pelo meio, Callejón o derrubou. Até aí, tudo bem. O canterano merengue pediu desculpas e Messi aceitou. Mas Pepe não estava satisfeito. Nunca está. Desnecessariamente, deu um pisão nos dedos do melhor jogador do mundo, em um ato de mau caratismo e sujeira. Isso não é futebol. O zagueiro teve a chance de voltar atrás, mostrar-se um homem de verdade, mas voltou a repetir palavras que balbucia após cada lance violento: "não tive vontade de machucar Messi", disse.

Após ver o atitude de seu colega de equipe, Xabi Alonso correu imediatamente para ver como estava Messi, mostrando-se um sentimento de preocupação. Está aí os valores históricos do Real Madrid, que não precisa de jogadores como Pepe para aparecer na mídia. O descontrole emocional de Pepe e de outros jogadores tem a ver com Mourinho. O português também se encaixa na imagem de mau perdedor. Já criticou a arbitragem, já criticou Guardiola, já criticou a até a parceria do Barcelona com a Unicef. Além disso, até enfiou um dedo nos olhos do auxiliar-técnico azulgrená Tito Villanova. O Real Madrid virou um time truculento, que abusou das faltas e insistiu em jogadas desleais. É uma equipe à beira de um infarto coletivo, que não assimila a ideia, irrefutável até agora, de ser inferior ao Barça.

No futebol não há verdades absolutas. Mourinho, competente que é, pode encontrar em breve uma fórmula mágica de dobrar este Barcelona. Mas antes precisará entender que, pra saber vencer, tem que primeiro aprender a perder. Mais cedo, o Marca especulou que a diretoria blanca, com o aval de Mourinho, teria pensado na ideia de afastar o luso-brasileiro por 15 dias, o que o tiraria do jogo da volta contra o Barcelona, no Camp Nou. A ideia central de Mourinho, que teria ficado indignado com a falha de posicionamento de Pepe no gol de Puyol, é evitar que seu jogador passa por um inferno que pretende ser o estádio blaugrana com o jogador.



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Minutos negros

O Espanyol tratou a bola com violência durante 84 minutos; mas, em cinco minutos mágicos, viraram o duelo 1 contra o Mirandés (AS)

As crônicas já estavam escritas, a festa preparada e o Cornellà El Prat semi-vazio. A zebra estava pintando novamente e a história, alastrando-se. Pablo Infante era o herói por mais uma vez e a pequena Miranda se vestia para sair bem na foto. A equipe que representa a cidade, o Mirandés, estava com um pé e meio nas semifinais da Copa do Rei. A equipe, que eliminou Racing Santander e Villarreal, já está na história do futebol espanhol. Após sete temporadas, uma equipe da Segunda Divisão B voltou a disputar um jogo de quartas-de-finais da Copa.

O Mirandés, que começa a gerar simpatia à medida que avança de fase, não está satisfeito. Quer mais. Quer igualar o feito do Figueiras, última equipe da divisão inferior a chegar até a semifinal da Copa, em 2002. O Mirandés, mesmo sofrendo a virada nos minutos finais, está a ponto de emular a equipe da Catalunha. Mas quando todos os redatores já começavam a traçar os motivos de uma forte queda do Espanyol atuando em casa, cinco minutos decisivos bastaram para o rumo de todos os textos mudarem. Os blanquiazules perdiam por 2 a 0, mas com gols de Weiss, aos 40 minutos do segundo tempo, Rui Fonte, aos 43, e Verdú, aos 45, recolocaram as esperanças de volta nos demais torcedores que continuaram no Cornellà.

Os catalães, adormecidos em 84 minutos, praticavam um futebol irreconhecível, feio. A bola era tratada com violência pelos anfitriões. Mas, em um toque de mágica, os péricos resolveram despertar. Jogaram tudo para o alto. Foram buscar o resultado e dar a volta por cima. O que estava sendo uma partida história para os comandados de Carlos Pouso, treinador do Mirandés que, na coletiva antecedente à partida, havia qualificado como missão impossível uma provável vaga na semifinal, virou o pior dos pesadelos. Dominaram a partida, iam surpreendendo uma equipe da Liga BBVA, e já estava com a cabeça nas semifinais. Mas o preço por ter lutado ferozmente durante todo o duelo contra seus próprios pulmões não foi o esperado.

Os jabatos entrarão no jogo da volta, no estádio Anduva, com esperanças. Mas sabem que perderam uma oportunidade de ouro. A sensação é essa. Quando dormirem e acordarem, quando lerem e pensarem de novo, darão de conta que nem tudo está perdido. E, de fato, não está. Mas o estado nervoso de Pablo Infante, artilheiro da Copa com seis gols, é compreensível. Uma chance como essa não se pode ser desperdiçada de maneira alguma. Seja você sendo o Mirandés ou seja você sendo o Barcelona.

Apesar da remontada espetacular, o treinador blanquiazul Maurício Pochettino tem o que lamentar. Sérgio García lesionou o joelho esquerdo e será operado amanhã, podendo ficar de dois a quatro meses de fora do gramado. A promessa Álvaro Vázquez, em excelente fase, sentiu uma lesão muscular na coxa direita ainda no primeiro tempo e pediu substituição. Exames feitos imediatamente após a partida revelaram que o atacante sofreu uma ruptura no bíceps femoral, que o deixará inutilizado por quatro semanas. Novos exames serão feitos nesta quinta-feira. Vale lembrar que Pandiani já estava fora dos gramados por dois meses. O uruguaio chegou a ser convocado para a partida contra o Mirandés, mas voltou a reclamar de dores no quadríceps da perna direita e foi descartado. No momento, o treinador só tem à disposição Thievy de centroavante, embora o francês tenha sido utilizado mais recuado, jogando no lado esquerdo da linha de três.

Para os próximos confrontos, o ideal seria Rui Fonte, que entrou muito bem no jogo da Copa, começar como titular e Thievy ser deslocado à sua função de origem, jogando na referência. É a opção mais plausível, embora o canterano venha se destacando jogando nos flancos, utilizando da velocidade, um de seus principais atributos. Quando perdeu Sérgio García e Álvaro Vázquez, Pochettino apostou por improvisar Albín e continuar com o francês na esquerda, o que pode ser uma opção. Mas o ponto negativo foi que, não acostumado a jogar de centroavante, o ex-Getafe passou despercebido e "estragou" muitas das jogadas ofensivas do Espanyol. Para a partida contra o Granada, pela rodada do final de semana da Liga, o treinador périco terá que quebrar a cabeça.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

19ª rodada: Um novo Atlético de Madrid

Com dois gols de um regular Falcão García, o Atlético de Madrid mostrou sua melhor versão diante do Villarreal (EFE)

Mallorca 1x2 Real Madrid
Num dos melhores jogos da rodada, o Real Madrid venceu com sorte de campeão. Numa remontada com cara de José Mourinho e Real Madrid, os merengues conquistaram o título simbólico de campeão de inverno. Aos supersticiosos que gostam do Real Madrid, a marca é uma boa: nas últimas sete temporadas, apenas uma vez o campeão de inverno não conquistou a Liga. Em campo, méritos de Mourinho, que arriscou tudo para vencer: quando, em um determinado momento do segundo tempo, perdia por um a zero, mandou uma equipe extremamente ofensiva para buscar a virada. Foi um 3-5-2 que exerceu uma enorme pressão no campo adversário. O resultado foram os gols de Higuaín e Callejón, decretando a virada. O Mallorca, animado após a classificação na Copa do Rei, tem o que se orgulhar: jogou muito bem, fazendo uma partida à altura dos blancos, e por pouco não tirou pontos do líder. Além disso, vale lembrar, foi prejudicado pela arbitragem.

Atlético de Madrid 3x0 Villarreal

Personalidade. Essa é a palavra que define a vitória rojiblanca na manhã de Madrid. Em sua melhor partida na temporada, os comandados de Simeone começam a dar esperanças de um futuro melhor aos torcedores. Incorporando a melhor versão do treinador argentino, o Atléti não deu espaços ao Villarreal. Contundência na defesa e alternativas no ataque é a fórmula que, por enquanto, garante uma continuidade de temporada promissora. Por sua vez, o Villarreal voltou a decepcionar. Após o bom jogo contra o Valencia, esperava-se que a má fase saísse de vez. Pior: além da derrota e dá má partida, os amarillos afundaram mais, e agora ocupam a 19ª colocação. É real o perigo do rebaixamento.

Barcelona 4x2 Real Bétis
Envolveu o Barcelona o melhor jogo da rodada 19. E grande parte do mérito disso foi do Bétis. Sem cerimônias, os verdiblancos surpreenderam. Foram para cima, jogaram centrados ao ataque. E, por pouco, não silenciaram o Camp Nou novamente, como em 2007. Obediência tática e contra-ataque foram as armas do Pepe Mel para o duelo. Para se ter uma noção de como foi boa a partida do Bétis, a posse de bola barcelonista acabou em apenas 58% na primeira etapa. O 3-4-3 de Guardiola não funcionou, pois os três atacantes béticos (Monteiro, Castro, Santa Cruz) levaram a melhor no duelo. O treinador andaluz disse bem após o jogo: a torcida verdiblanca está orgulhosa do time.

Sevilla 0x0 Espanyol
O Sevilla segue bastante opaco. Irregular, voltou a desperdiçar pontos bobos no Ramón Sánchez Pizjuan. O estádio, que costumava ser o principal trunfo da equipe, já não está mais ao seu lado. Dessa vez, os nervionenses jogaram bem na primeira etapa. Mas perdoaram o Espanyol. Foram 69% da posse de bola e 12 chutes a gol. Entretanto, gol, que é bom, nada. Reyes, por sua vez, continua sem triunfar no Sevilla, que mesmo com as entradas de Kanouté, Rakitic e Perotti na segunda etrapa não conseguiu vencer. No lado Espanyol, destaque para Weiss. O eslovaco entrou na segunda etapa e mudou a cara do Espanyol. Levou apuros à zaga sevillista, até então pouco ameaçada, e por pouco não castigou os andaluzes. Um jogador interessante, promissor, que deve ser mais utilizado por Pochettino.

Valencia 0x1 Real Sociedad
Sem trocadilho: um Valencia sem alma de Soldado foi derrotado por uma Real Sociedad no ritmo de Griezmann, autor do gol. O francês voltou a ratificar que a opção de Montanier de deixá-lo no banco no dia em que foi eliminado da Copa do Rei pelo Mallorca foi loucura. Demonstrou que deve jogar todas as partidas, seja elas da Liga ou da Copa, oficial ou amistoso. No lado ché, uma partida muito fraca individualmente. Uma equipe que tem Banega e Parejo no onze inicial deveria disfrutar da bola. Mas foi totalmente ao contrário. O canterano merengue mais uma vez foi mal e segue sem mostrar sequência no Mestalla. Falta atitude.

Seleção da rodada
Roberto (Zaragoza); Cendrós (Mallorca), Jordi (Rayo Vallecano), Filipe Luís (Atlético de Madrid); Trashorras (Rayo Vallecano), De Marcos (Athletic Bilbao), Griezmann (Real Sociedad), Ruben Castro (Bétis); Higuaín (Real Madrid), Falcão García (Atlético de Madrid), Alexis Sánchez (Barcelona). Treinador: José Mourinho (Real Madrid).

sábado, 14 de janeiro de 2012

A sensação da temporada

No Levante, todos são unidos. Disposto a fazer história, o clube de Valencia é a sensação da temporada e quer uma vaga na próxima Liga dos Campeões (reuters)

Se, antes da temporada começar, alguém pedisse para um amigo adivinhar um time que estaria, com quase um turno de Liga BBVA já disputada, em quarto lugar, com trinta pontos e a quatro do terceiro colocado, essa pessoa citaria, certamente (excluindo Real Madrid, Barcelona e Valencia), Sevilla, Athletic Bilbao, Atlético de Madrid, Villarreal e até mesmo o Málaga. Mas, quebrando todos os tipos de prognósticos possíveis, atualmente quem ocupa este lugar da tabela é o Levante, pequeno clube da cidade de Valencia. Fundado em 1909, em homenagem a uma praia da cidade que possuia o nome Levante, o clube é pioneiro na introdução do futebol profissional na região da Comunidade Valenciana. O único título relevante em 101 anos do clube foi uma Liga Adelante na temporada 2003/2004.

Por todos esses fatores, surpreende o fato do Levante ocupar a zona de Liga dos Campeões, competição no qual nunca disputou. Com seis pontos à frente do quinto colocado Osasuna, outro que também surpreende, os granotes, momentaneamente, têm chances reais de se classificarem pela primeira vez em sua história a uma competição europeia. Na verdade, a campanha tinha tudo para dar errado, por dois fatores em especial. O ex-treinador Luis García Plaza, responsável pela boa temporada em 2010/2011, havia se transferido para o Getafe e o artilheiro Caicedo, principal jogador da equipe nas duas últimas temporadas, se transferiu para o futebol russo para fazer caixa ao clube.

Porém, seis meses depois, o Levante é, até aqui, a sensação da temporada. E desde a primeira rodada, quando estreou batendo o Rayo Vallecano por 2 a 1 em Madrid. Depois, engatou uma sequência de cinco vitórias consecutivas, incluindo uma ante o Real Madrid, o que valeu a liderança da Liga Espanhola, algo inédito na história do clube. E se desde a primeira rodada dizem que a equipe possui prazo de validade, a verdade é que até agora esse prazo não se esgotou. O sucesso inicial desse Levante mostra uma grande adaptação às limitações da equipe. A base é formada por jogadores veteranos que não tinham muito espaço em equipes maiores. O orçamento do clube é pouco superior a 20 milhões de euros, menos do que se gastou nas transferências de jogadores como Alexis Sánchez, Cesc Fàbregas e Fábio Coentrão. Só o salário de um Messi ou Cristiano Ronaldo paga a folha salarial dos 25 jogadores do Levante.

A chave do sucesso da equipé é o técnico Juan Ignácio Martínez. Elogiado publicamente por treinadores do naipe de José Mourinho e Josep Guardiola, o espanhol vem se destacando por tirar leite de pedra de um elenco limitado. Enquanto a maioria dos treinadores de clubes pequenos limitam-se a impor um estilo de jogo defensivo, Martínez faz justamente ao contrário. Na frente, o time faz o básico: contra-ataques e bola parada. Apesar do estilo de jogo voltado ao ataque, a defesa é a quarta menos vazada da competição, com 19 gols. A exemplo de comparação, a defesa merengue, segunda melhor da competição, sofreu 16 gols. O ataque, terceiro melhor da Liga, também cumpre bem seu papel: são 27 gols. Nesse ponto, é difícil comparar com os de Real Madrid (61) e Barcelona (51).

Esses números fazem com que a campanha atual do Levante seja muito parecida com a de um pequeno clube que conseguiu terminar entre os quatro primeiros colocados e , consequentemente, copou uma vaga na Champions League: o Osasuna. Na temporada 2005/2006, os rojillos fizeram um primeiro turno sensacional. Em 19 jogos, foram incríveis 13 vitórias, o que valeu o vice-campeonato de inverno. No segundo turno, à época, aconteceu o esperado e a equipe caiu de produção. Porém, graças ao primeiro semestre, a equipe de Navarra conseguiu a sonhada e histórica classificação à principal competição do velho continente. Foram 68 pontos, um a menos que o terceiro colocado Valencia e dois a menos que o segundo colocado Real Madrid. A equipe também se destacou por quebrar uma sequência de 14 vitórias consecutivas do campeão Barcelona, derrotando-o no Reyno de Navarra por 2 a 1.

Otimismo e confiança são as palavra que soam no Ciutat de Valencia. Times como Málaga, Sevilla, Athletic Bilbao e até mesmo Atlético de Madrid possuem elencos mais homegêneos e qualificados para suportarem mais um turno de Liga BBVA e eliminar o Levante da zona de LC. Martínez tem total consciência disso, ao mesmo tempo em que sabe das qualidades de sua equipe e tenta aprimorá-las. É certamente uma tarefa difícil, mas não impossível para quem vem superando todas as expectativas até o momento.

Enquanto isso, na Copa do Rei...
... o Levante segue vivo. Após perder o jogo de ida contra o Alcorcón por 2 a 1, os azulgrenás do leste espanhol avançaram com facilidades: 4 a 0 no Ciutat de Valencia. Barkero, um dos destaques da equipe na temporada, foi o nome do duelo. Marcou o primeiro gol e originou o segundo, marcado por Roger, canterano que começa a se destacar. Principal nome da filial, Levante B, na terceira divisão, o meio-campista, que atua pela esquerda, começou pela primeira vez como titular na equipe A e ganhou moral com Martínez e a torcida. Iborra e Suárez completaram a goleada. O próximo desafio será complicado: o temido e rival Valencia, que já o derrotou na temporada. Ignácio Martínez já afirmou que a prioridade do Levante no momento é a Liga, mas quando se tem um dérbi na Copa a aura de competição fala mais alto.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

História na Copa

Jogadores do Mirandés comemoram nos vestiários: a história foi escrita (AS)

A última vez que uma equipe da Segunda Divisão B havia chegado até as quartas-de-finais da Copa do Rei foi há sete temporadas. O autor da façanha foi o pequeno Gramenet, pertecente a um bairro de Barcelona com o mesmo nome. Naquela campanha, os azulones fizeram história porque, entre outros fatores, um dos rivais que deixaram para trás foi justamente o rival regional Barcelona, que, àquela época, havia se reforçado com as chegadas de Deco, Eto'o, Giuly, Larsson e tinha Ronaldinho Gaúcho no elenco. O Gramenet superou precocemente as adversidades: após eliminar os azulgrenás, deixou para trás Levante e Lleida, até chegar no confronto contra o Bétis.

O Camp Nou de Santa Coloma recebeu pela primeira vez um jogo de alto nível em sua história. O 27 de janeiro de 2005 está eternizado nos corações de cada torcedor da simpática equipe da Catalunha. Em campo, muita entrega e disposição e um empate de 2 a 2 com um sabor de vitória no jogo da ida. Era sabido por todos que a missão era difícil. Mas no dicionário de cada aficionado catalão a palavra impossível não existe. No Manuel Ruiz de Lopera, o resultado foi o óbvio, e esperado: o Bétis venceu por 4 a 3 (chegou a abrir 3 a 0) e avançou de fase, onde eliminara o Athletic Bilbao e, na final, vencera o Osasuna tornando-se o campeão. Sete anos depois, o Gramenet milita a terceira divisão espanhola. Apesar de ser a última categoria do futebol espanhol, alguns não consideram a terceira divisão um campeonato profissional.

Sem dúvida, o Gramenet escreveu um capítulo importante na história do futebol espanhol. Ontem, o Mirandés o fez. Atualmente na liderança do Grupo 2 da Segunda Divisão B, os rojillos acabaram com todos os tabus em questão. Quem acompanha futebol espanhol sabe que a classificação do Mirandés sobre o Racing Santnader foi absolutamente histórica. Quando, aos 35 minutos do primeiro tempo, Munitis abriu o placar para os cantabrianos, que ficaram a apenas dois gols da classificação (um para levar à prorrogação), todos imaginavam que chegaria ao fim a aventura do clube de Burgos na segunda principal competição nacional.

A verdade, porém, é que o Mirandés sempre esteve muito bem. Foi superior ao Racing nos dois jogos. A defesa teve desempenho impecável, o goleiro Nauset fez boas intervenções, o meio de campo batalhou e criou - especialmente com o camisa sete Muneta, articulador da equipe, e com o meia esquerda Infante, destaque da equipe -, e o centroavante Arroyo deu trabalho a Torrejón e Bernardo durante todo o jogo. O último, aliás, acabou expulso num momento crucial da partida, que, com um toque de experiência, o Mirandés soube cadenciar e esperar os minutos passarem. Após isso, foi só festa.

A temporada dos jabatos, independente do que aconteça nas próximas duas quartas-feiras, já é histórica. Na Segunda B, a equipe lidera com facilidade seu grupo. São 40 pontos em 19 jogos disputados, estando seis pontos à frente do vice-líder, Ponferradina. Além disso, a equipe só perdeu uma partida, quando atuou com os reservas, no último final de semana, em prol de uma preparação melhor para a partida no El Sardinero. Ante o Alavés, melhor ataque da competição, derrota em casa por 1 a 0. Nada que abalasse o ânimo de cada jogador rojillo.

Nesse cenário de festa e história, um nome se destaque por completo: Pablo Infante. O camisa 14, que já havia sido herói após marcar um doblete em pleno El Madrigal e ser o responsável pela eliminação do Villarreal, é o goleador da equipe na temporada com 14 gols. É, por ora, a grande sensação da edição 2011/2012 da Copa. O capitão converteu-se no pesadelo das equipes da Liga BBVA. Contra o Racing Santander, marcou um gol em ambos os jogos. Além disso, é o Pichichi do torneio, com cinco gols. Ao marcar, de pênalti, o gol que sacramentou a classificação do Mirandés, beijou o escudo do clube, levando os aficionados que viajaram a Santander à loucura.

Agora, as aventuras do Mirandés continuam. Na semana que vem, recebe o Espanyol, no jogo de ida. Ontem, os blanquiazules sofreram, mas eliminaram o Córdoba com o gol salvador nos acréscimos, com o promissor Álvaro Vázquez, autor de um hat-trick, e que já havia marcado no dérbi de Barcelona, domingo. Hoje, quem também tentará entrar na história ao lado do Mirandés é o Albacete, que visita o Athletic Bilbao, no San Mamés. A missão é mais improvável pelo fato do jogo de ida ter terminado 0 a 0.

Houve justiça
Quem também se garantiu nas quartas-de-finais foi o Valencia, que deixou para trás o Sevilla. Os chés jogaram melhor, abriram o placar com Soldado após assistência de Jonas e relaxaram, o que custou a virada do Sevilla, que veio através de um renascido Rakitic e de um tento contra as próprias redes de Víctor Ruíz, em fase negra desde o jogo terrível no Stamford Bridge. Há três temporadas, um mesmo confronto entre Sevilla e Valencia classificou injustamente os andaluzes, que foram beneficiados pela arbitragem no jogo da ida, no Mestalla, que terminou 3 a 2 para o Valencia. Na volta, o Sevilla venceu por 2 a 1, com um gol de Squillaci aos 43 minutos do segundo tempo, e avançou pelos critérios de desempate. Três anos depois, em um jogo, dessa vez, "limpo", avançou quem jogou melhor. A justiça tarda, mas não falha. Pelo menos no futebol.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

18ª rodada: Reencontro com o bom futebol

O Villarreal não venceu, mas o futebol mostrado no primeiro jogo no ano animou (AP Photos)

Villarreal 2x2 Valencia
O Villarreal jogou muito bem durante um tempo e conseguiu encurralar o Valencia e marcar duas vezes. Molina estreou escalando o óbvio: 4-4-2 na forma de um quadrado, com Cani e Borja Valero abertos pelos flancos. Opção confiável. Cani voltou a jogar bem, como ainda não havia feito na atual temporada, e Valero segue regular. Na frente Nilmar deu trabalho à zaga ché e Rúben marcou um belo gol. No segundo tempo, entretanto, o jogo foi mais parelho em relação aos primeiros quarenta e cinco minutos e o Valencia conseguiu achar um gol nos minutos finais com Aduriz, após falha de Gonzalo. Os três pontos não veio, mas a esperança de um 2012 melhor é plausível no ambiente amarillo, que, paradoxalmente ao futebol demonstrado no dérbi, entrou na zona de rebaixamento pelos resultados desfavoráveis na rodada.

Espanyol 1x1 Barcelona
O dérbi de Barcelona foi mais uma vez o dérbi de Maurício Pochettino. Se Guardiola leva a melhor sobre a maioria dos técnicos em confrontos, tem o treinador périco como uma pedra no sapato. Mais uma vez, o argentino conseguiu deter o Barcelona. Armou uma tática interessante, de pressão constante no meio-campo, e conseguiu tirar dois pontos cruciais do rival regional. O promissor Álvaro Vázquez marcou o gol que fez jus à partida nos minutos finais. Messi, muito bem marcado, fez uma partida horrível, assim como Sánchez, que desperdiçou muitos gols, no lado azulgrená. Fàbregas e Daniel Alves foram os mais lúcidos. Notável, no lado blanquiazul, a partida de Sergio García, que deu bastante trabalho a Piqué e Puyol.

Real Madrid 5x1 Granada
O Granada chegou a se iludir. Mikel Rico marcou o gol de empate logo após o tento de Benzema e, num período de dez minutos, os andaluzes mandaram na partida. Mas só foi Sergio Ramos marcar de cabeça o gol de desempate para o jogo fluir. Tudo conspirou a favor dos merengues: Benzema voltou a marcar, ratificando a excelente fase, a zaga se ajustou e não passou perigo no segundo tempo e Özil jogou muito bem. Talvez a melhor notícia. Foram três assistências que podem elevar a moral do turco-alemão. O ponto negativo foi o, quem diria, o gol de Cristiano Ronaldo, que não comemorou e foi criticado pela imprensa espanhola.

Málaga 0x0 Atlético de Madrid
Como no caso do Villarreal, o mesmo se aplica ao Atlético. Na estreia de Simeone, vimos uma equipe séria, centrada e bem no que propôs a fazer. A partida muito aberta foi uma das melhores da rodada. Ofensiva, as duas equipes jogaram para frente; mas, ironicamente, não fizeram o mais importante, gol. O Málaga dominou o segundo tempo e tem o que lamentar, pelo fato de ter jogado duas bolas na trave. Atrevido, tiveram chances reais com Isco e Rondón. Uma boa imagem antes da partida decisiva de logo mais contra o Real Madrid. Por sua vez, o Atlético de Madrid mostrou uma faceta diferente. Demasiadamente sério, incorporaram o melhor Simeone. Com disposição, brigaram por todas as bolas e o empate pode ser comemorado. Demasiadamente sério, as esperanças de um futuro melhor são grandes em Manzanares.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Messias da bola

O dia 9 de janeiro de 2012 está eternizado na história do futebol. Foi a data que consagrou, definitivamente, um dos maiores craques pós-Pelé. A premiação de melhor jogador do mundo, que juntou pela segunda vez a Fifa e a Bola de Ouro da France Football, entregou a Messi o troféu de melhor pela terceira vez consecutiva, igualando nomes como Platini, Cruyff, Van Basten, Zidane e Ronaldo. A distancia da Pulga de Rosário para seus rivais é tão grande que Cristiano Ronaldo, talvez o único que possa tirar o prêmio das mãos do argentino nos próximos anos, parece apenas um jogador normal comparado ao blaugrana. Os feitos do português, que conseguiu fazer 41 gols em uma única edição de Liga Espanhola, parecem algo comum quando relacionados com os do blaugrana.

Hoje, o futebol comemora. A relação de Messi com a bola sempre foi de amor. A carreira tem felicidades, lágrimas, como, até o momento, as decepções por ter falhado em duas Copas disputadas, mas nunca faltou sentimento. Messi só existe um. Virão anos, décadas, séculos, gols, sincronias e sinais. Mensagens do além, dos céus, dos gramados. Um camisa 10 de 1,69 de altura que exala genialidade a cada partida. Seu namoro com a bola é precoce. Há mais de 20 anos, numa tarde em família, seu pai, ao lado de tios, primos e amigos, preparava-se para disputar uma tradicional pelada. Faltava um. Quis o destino que a criança Messi, com apenas cinco anos, completasse uma das equipes. "Dizem que, assim que eu toquei na bola, todos ficaram surpresos, como se já soubesse do que se tratava isso", disse em uma entrevista ao Mundo Deportivo em 2006.

Na família, ninguém suspeitava de que ali brotava um craque. À exceção de sua falecida avó, Celia, mãe de sua mãe. Foi ela quem o presenteou com a primeira bola e convenceu o genro, Jorge Messi, do talento do moleque franzino. O pai não teve escolha: levou La Pulga para treinar no Grandoli, pequeno clube de seu bairro. Durou apenas um ano a aventura do craque no clube. O próximo passo foi a ida para o Newell's Old Boys, paixão desde sempre e onde Messi sempre ratifica que atuará profissionalmente um dia. O amor do clube com o jogador, no entanto, não foi recíproco. Os Leprosos viraram as costas a Messi justamente quando este mais precisava. Lionel descobrira que possuia um problema de crescimento. O destino, novamente e, dessa vez, ironicamente, acertou. Foi justamente no maior drama da vida da Pulga que o levou ao clube onde, atualmente, desfila classe e é idolatrado.

A profecia que nasceu na Argentina se alastrou à Catalunha. No Barcelona, chegou aos 13 anos. Baixo demais, franzino demais, moleque demais. Acima de tudo, craque demais. Bastou isso para Messi cruzar o Atlântico e fazer história. Viajou com seu pai, deixando em Rosário sua mãe e seus irmãos. Em seu primeiro teste, o gigante da Catalunha não deu chance ao azar. Carlos Rexach o contratou vendo-o jogar por instantes. O catalão fica impressionado até hoje: "Eu o contratei em 30 segundos! Ele me chamou muita atenção. Em meus 40 anos de futebol, jamais havia visto coisa semelhante. De cinco situações de gol, converteu quatro. E tem uma habilidade excepcional. Me lembrou o melhor Maradona. Seu primeiro contrato eu assinei, simbolicamente, em um guardanapo. Queria contratá-lo o quanto antes. Não podia deixá-lo escapar", afirma.

Senhor do próprio destino, fez do calvário a estrada para a redenção. O destino desafiou, ele respondeu. Messi tem a eterna sede dos imortais. Não lhe satisfaz a arrancada, o drible ou o gol. Tem que estar tudo completo. Não lhe satisfaz se, com apenas 24 anos, possui um currículo invejável. São 3 Champions League, 5 Ligas Espanholas, 2 Mundial de Clubes, além de Supercopas da Uefa e da Espanha e Copa do Rei. Tem que vir tudo junto. Não lhe satisfaz se, com apenas seis temporadas na carreira, já possui 217 gols e 87 assistências. Já é o segundo maior artilheiro da história do Barcelona, ficando 18 gols atrás de César Rodríguez, o maior. La Pulga faz jus ao "quanto mais, melhor". O céu é o limite de Messi.

Todo mundo já sabe o final, mas não cansa de assistir. Messi não seria o mesmo sem as peças que o destino lhe pregou. Foram as voltas por cima que fizeram dele o que ele é, vitórias e derrotas, baques e recomeços, gols, títulos, arrancadas e dribles, o mundo estupefato com suas jogadas, furacão em campo. Um jornalista pernambucano, Wagner Sarmento, o definiu bem, uma vez. Messi é o pesadelo dos superlativos e o sonho dos neologismos. É preciso inventar novas palavras em que caibam seu brilho. No futuro, talvez Messi se torne um adjetivo. Sinônimo de maior.

Parabéns, Messi!

domingo, 8 de janeiro de 2012

A implicância chata com Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo marcou seu 21º gol na Liga BBVA contra o Granada e não comemorou. Foi notícia, claro (getty images)

Marrento. Polêmico. Craque. Estes são alguns dos adjetivos que são atribuidos diariamente a Cristiano Ronaldo. Filho ilustre da Ilha da Madeira, teve o nome dado por sua mãe Dolores em homenagem ao então presidente dos EUA, Ronald Reagan. Com pouca idade, perdeu seu pai, Dinis Aveiro, e cresceu muito ligado aos seus irmãos Hugo, Cátia e Elma. Uma infância de muitas dificuldades, mas repleta de sonhos. Hoje, o que Cristiano Ronaldo faz em sua vida pessoal vira notícia. Mas, muita das vezes, negativas. A implicância da mídia para com o português começa a extrapolar.

Se ele, a pedido de Mourinho, resolve não viajar a uma premiação onde não será o ganhador em prol de uma preparação especial para um duelo decisivo, foi o egocentrismo que falou mais alto. Se sua equipe não joga bem contra o Barcelona, apenas ele é taxado de pipoqueiro. Se ele marca três gols e resolve, dessa vez, criticar quem o critica, é taxado de chato. Se ele marca seu 21º gol numa competição onde é o artilheiro disparado, a ponto de deixar o melhor jogador do mundo quatro gols atrás, e não comemora, justamente por ter sido o quinto gol de uma partida que foi 5 a 1, também é criticado. O fato é: o que Cristiano Ronaldo toca vira ouro. São picuinhas desnecessárias para criarem certo tipos de notícias. Querem de Ronaldo uma pessoa semelhante a Messi. Esqueçam. Sua personalidade é forte e isso é problema dele. Seu brilho ninguém tira. Cristiano Ronaldo é a fantasia objetiva.

O talento já brotava nos campinhos do Funchal e no Andorinha, clube em que deu seus primeiros chutes. Dali, despertou os olheiros do Nacional, que descobriam grande talento. Aos 11 anos, o desafio de ir para as divisões de base do Sporting, um dos maiores clubes de Portugal. Foi ali que ele cresceu e amadureceu, deixando de ser promessa e se tornando realidade. Foram seis anos encarando os sacrifícios de sua ousada escolha. Mas ele seria recompensado. No jogo de estréia do Estádio Alvalade Século XXI, entre Sporting e Manchester United, o abusado meia-atacante simplesmente levou os ingleses à loucura, com dribles desconcertantes. Foi o suficiente para que os próprios jogadores do time britânico pedissem sua contratação ao técnico Alex Ferguson. A negociação foi 12 milhões de libras (cerca de R$ 41 milhões).

A partir de 2003, Ronaldo surgiu para o estrelato com a camisa dos Diabos Vermelhos. Desde então, coleciona casos polêmicos, como envolvimento com prostitutas e o acidente com sua Ferrari novinha. Em campo, porém, não há como negar seu sucesso. No clube britânico, foram sete títulos e atuações memoráveis, que levaram José Mourinho, à época, a chamá-lo de "o filho de Van Basten", em alusão ao grande atacante holandês do fim da década de 80. Atuações de galas e com um prêmio de melhor do mundo na bagagem levaram o português da camisa sete ao sonho de infância: atuar pelo Real Madrid, "maior clube da história", segundo o próprio.

Na capital espanhola, Ronaldo se consolidou de vez. Chegou, em apenas 2 anos e meio, a 112 gols em sensacionais 112 jogos. Uma marca absurda: média de um por jogo. Conseguiu, a efeito de comparação, ultrapassar Ronaldo Fenômeno mesmo não jogando com Figo, Beckham e Zidane. Detalhe: o brasileiro conseguiu 101 gols em cinco anos. Os 94 milhões de euros pagos por Florentino Pérez em junho de 2009, que tornou a transferência mais cara da história do futebol, são recompensados a cada jogo. Na primeira temporada como merengue, um gostinho de quero mais. Uma lesão no tornozelo o tirou de dois meses da temporada e dois cartões vermelhos mancharam sua temporada.

Em 2010/2011, o gajo foi extraterrestre. Pulverizou recordes. Foram 40 gols na Liga, tornando-se recordista de gols em uma única edição de Liga BBVA. Na temporada, foram 53 gols, tornando-se recordista de gols em uma única temporada pelo Real Madrid. De esquerda, de direita, de falta, de cabeça, de pênalti. Teve gols de tudo que é forma. Para trás, nada mais nada menos que Púskas, Zarra. A história foi escrita. Cristiano Ronaldo tem uma história rica no futebol. Podem chamá-lo de tudo: prepotente, marrento, arrogante, chato, pipoqueiro. Porém, o garoto da Madeira driblou, literalmente, todas as batalhas da vida e já escreveu seu nome na galeria dos grandes craques da história do futebol. Queiram ou não.

sábado, 7 de janeiro de 2012

A última chance


José Antonio Reyes chega a um novo clube como esperança de dar novo gás ao meio-campo com sua velocidade, habilidade e, principalmente, potencial de ser decisivo. Essa frase já foi escrita inúmeras de vezes, tantas que não seria estranho se, em algumas décadas, ela aparecesse no epitáfio do jogador. Bem, ela foi muito constante nesse 6 de janeiro, Dia de Reis, quando se (re)apresentou ao Sevilla, clube que o formou.

O meio-campista é um fenômeno. Surgiu como talento precoce até para os padrões sevillistas. Tornou-se o jogador mais jovem do Sevilla a defender o clube na primeira divisão, ao estrear em 2000, com apenas 16 anos. Teve grandes temporadas em um time que ainda tentava reencontrar seu espaço entre os grandes da Espanha depois de um traumático rebaixamento. Acabou vendido ao Arsenal por 24,5 milhões de euros em 2004, em mais uma das apostas de Arsène Wenger em garotos.

Não vingou em Highbury (também não vingou no Emirates) e foi emprestado ao Real Madrid, em troca de Júlio Baptista. Fez dois gols no jogo que deu um título espanhol aos merengues, mas não convenceu. Foi devolvido, mas nem saiu direito da capital espanhola, pois o Atlético de Madrid pagou 12 milhões de euros para tê-lo ao lado de Simão Sabrosa na armação do jogo. Não se firmou e foi emprestado ao Benfica, que queria estrelas para fazer frente ao Porto. Não fez o suficiente para ficar e retornou ao Atlético de Madrid. Nesse vaivém, Reyes nunca foi mal o suficiente para ganhar o rótulo de fracasso, mas jamais esteve perto de se tornar o ícone de sua geração no futebol espanhol (é apenas um ano mais velho que Iniesta). É um jogador de (alguns) altos e (muitos) baixos, que fica alheio ao jogo em diversos momentos, e que parece aceitar que não vai explodir.

O histórico não é dos mais otimistas, mas o Sevilla até tem seus motivos para acreditar no já desgastado “agora vai”. O time tem necessidade de um jogador com as características do ex-colchonero. O meio-campo sevillista joga com Medel e Trochowski na marcação, Jesús Navas armando pela direita, Rakitic pelo meio e Perrotti pela esquerda. Manu Del Moral, vez ou outra, aparece na equipe titular. No entanto, não convenceu ainda, o que obrigou Marcelino a experimentar sistema de jogo com dois atacantes (e quatro no meio-campo). Tudo leva a crer que deve sobrar para Rakitic, em fase péssima. O croata, que se destacou na temporada passada, ainda não apareceu em 2011/2012. Reyes também pode entrar no espaço que deveria ser de Manu ou Perrotti. Ele joga entre o centro do campo e a esquerda, com tendência a buscar a ponta. Se voltar a praticar o futebol de seu início de carreira (e é essa a esperança dos sevillistas), seria uma versão canhota de Navas, deixando o time menos torto para um lado do campo.

Mas a questão tática é um detalhe. O que os sevillistas contam é com um novo ânimo do jogador. Reyes pediu para ser liberado pelo Atlético de Madrid, pois havia brigado com o técnico colchonero Gregório Manzano (que deixou o cargo na mesma época) e queria retornar a seu clube de origem. Espera voltar às origens, a um lugar em que é querido e seus baixos são tão desculpados quanto seus altos serão saudados. Reyes sempre teve dificuldade de lidar com a pressão de sempre justificar os altos investimentos feitos nele. Talvez agora, sem essa cobrança, possa se soltar. Não significa que será um craque. Significa que pode, ao menos, se divertir com sua profissão.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Futebol de primeira

Todos em cima de Agirretxe. O jovem é a grata surpresa da Real Sociedad na temporada (AS)

Nos dois jogos de ontem da Copa do Rei, Real Sociedad e Barcelona bateram com autoridade seus adversários, Mallorca e Osasuna, respectivamente, e se aproximaram das quartas-de-finais da competição. A vitória azulgrená já era esperada, e ainda saiu com dois gols de Messi, que começou no banco, por suspeita de gripe, deixando o treinador rojillo, Mendillibar, indignado. No caso do jogo do Anoeta, a melhor notícia que Phillipe Montanier, treinador da Real Sociedad, poderia receber foi a forma com a qual a sua equipe construiu o resultado.

Fulminante é a palavra que descreve os dois a zero no País Basco. Com um futebol atraente e avassalador, os txuri-urdins engoliram o Mallorca e, em certa forma, o resultado até foi mentiroso. O dois gols "apenas" não condiz com o que foi o jogo, já que os visitantes poderiam sair de San Sebastian com uma goleada na bagagem. Os aficionados viram uma Real Sociedad avassaladora. Um prêmio justo para a equipe que entrou em campo disposta a decidir. No início da temporada, a expectativa era de um futebol praticado desta forma. A contratação de Montanier ilusionou os torcedores. Enquanto treinador do Valenciennes, fora apelidade pelo L'Equipe como Guardiola francês. Não por acaso.

A proposta de jogo do treinador chama atenção. Mesmo com um elenco limitado, o francês põe sua equipe para frente. Jogou assim nas partidas contra Barcelona e Real Madrid e foi elogiado: conseguiu empatar contra os blaugranas (2 a 2) e jogou melhor ante os blancos, apesar da derrota por 1 a 0, graças a um tento precoce de Higuaín no primeiro tempo. Basicamente, a base da atual temporada é a mesma da passada. A única mudança substancial é a que tem dado certo. Enquanto Tamudo era a referência no ataque em 2010/2011, hoje quem ocupa esse cargo é Agirretxe. E com louvor. É o artilheiro da equipe na temporada com 6 gols (tem 9 totalizando todas as competições), o que já valeu uma renovação no contrato. Um dia anterior ao confronto contra os baleares, a diretoria blanquiazul renovou até 30 de junho de 2015 com seu centroavante.

Outro que aparece positivamente é o meio-campista Zurutuza. Uma das armas de Montanier, o francês dá uma sustentação necessário ao meio-campo. Um dos trunfos do "Guardiola francês" é justamente a linha de três de seu 4-2-3-1. As posições dos meio-campistas não são bem demarcadas. Um exeplo claro é Xabi Prieto. Acostumado a atuar centralizado, no suporte ao atacante, durante o período de Luis García Plaza como treinador da equipe, o camisa dez, melhor jogador na temporada passada, teve de se habituar aos princípios do novo treinador, que lhe oferece o lado direito em vários momentos de uma partida. Em certos jogos, Xabi chega a aparecer até na esquerda, onde brilha o craque da Real Sociedad.

Griezmann vai a cada dia se consolidando. O assédio de Arsenal e Atlético de Madrid no verão passado foi uma prévia do que viria. O jovem surgiu durante a campanha de promoção à elite, em 2009/10, e confirmou as expectativas na primeira divisão. Hoje, já é essencial à equipe. Os vários rodízios com Vela no início da competição criaram dúvidas quanto a importância do extremo no elenco. Mas, a cada partida, as dúvidas de Montanier foram dissipando-se. Já não há mais objeção de quem é o titular, embora Vela, em algumas ocasiões, aparece no onze inicial. A manutenção desse desempenho é, por sinal, imprescindível a uma equipe que está próxima do retorno às quartas-de-finais da Copa após a 14 anos e tem um futebol de primeira divisão.