sábado, 6 de novembro de 2010

Jogadores Históricos: Evaristo de Macedo

Evaristo, jovem atacante carioca, fez parte de um grande esquadrão catalão. (blaugranas.com)

Pode alguém ser ídolo em Real Madrid e Barcelona mas não ter o mesmo sucesso em seu próprio país? Este dilema pauta a carreira, enquanto jogador, de Evaristo de Macedo Filho, carioca criado na base do Madureira no início da década de 1950 e que fez parte dos grandes esquadrões formados pelos maiores rivais espanhóis entre 1957 e 1965.

Após dois anos no tricolor suburbano, o atacante transferiu-se para o Flamengo, onde fez parte da equipe tricampeã carioca em 1953/54/55, em um ataque que tinha Zagallo como seu principal expoente. Ficou até 1957 no rubro-negro, período que fez também seus únicos jogos pela seleção brasileira: foram 14 partidas e oito gols com a camisa canarinho – Evaristo é o único atleta a fazer cinco gols num mesmo jogo pela seleção nacional, no 9x0 diante da Colômbia durante a preparação para a Copa da Suécia, em 1958.

Ao chegar em terras catalãs, Evaristo via o cenário futebolístico europeu começar a ser dominado pelos madridistas, impulsionados pelos geniais Alfredo di Stéfano e Ferenc Puskás. Os blaugranas tiveram de investir para formar um time competitivo, capaz de desbancar os merengues do topo. Ao misturar o faro de gol do artilheiro espanhol Luis Suárez com a genialidade do trio de origem húngara – Ladislao Kubala, Zoltán Czibor e Sándor Kocsis -, sob o comando do argentino Helenio Herrera, a malemolência brasileira de Evaristo foi o encaixe final para o sucesso da esquadra catalã.

Nesse time de craques, era difícil não se consagrar. E Evaristo destacou seu nome: foram cinco temporadas, onde atuou em 226 partidas e marcou 178 vezes – o que gera a impressionante média de 0.78 gols por jogo com a camisa do Barça. Esses números dão a Evaristo, até hoje, a alcunha de maior artilheiro brasileiro com a camisa blaugrana, onde jogaram outros grandes fenômenos futebolísticos tupiniquins, como Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho e Romário.

Porém, não se pode considerar Evaristo como o representante maior desta época no Camp Nou. O galego Luis Suárez saiu do Barcelona para a Inter de Milão – junto com o treinador Helenio Herrera – como o jogador mais caro do futebol e melhor jogador do Mundo em 1960. Kubala, Czibor e Kocsis fizeram parte, ao lado de Puskás, do fantástico selecionado húngaro que encantou o mundo da bola na Copa de 1954. Evaristo, apesar de ser um talento nato, um goleador sem pudor das defesas adversárias, era uma parte de um âmbito grandioso, um time espetacular que os culés exaltavam a cada final de semana.

Tudo levava a crer em uma continuidade do sucesso de Evaristo na Catalunha. Foram dois títulos de La Liga (1958/59 e 59/60), uma Copa do Rei (1958/59) e duas Copas da Uefa (1958 e 1960). Mas em 1962, os rumos da sua carreira na Espanha mudaram drasticamente. Aos 29 anos, após rejeitar a proposta de naturalização feita pelo Barcelona, Evaristo desembarcou diretamente no Santiago Bernabéu, chocando os adeptos e reforçando ainda mais o já poderoso time merengue.

No Madrid, Evaristo sagrou-se tricampeão nacional (1962/63, 1963/64 e 1964/65). Entretanto, não foi determinante a ponto de se considerar fundamental para a conquista. Em clara decadência física, já que beirava os 30 anos quando chegou ao Real, jogou apenas 17 vezes pelos merengues. Mesmo assim, marcou 15 gols, mantendo a excelente média de tentos em terras espanholas.

De fato, a importância do pioneirismo de Evaristo no futebol europeu é muito desvalorizada aqui no Brasil. Atleta em uma época onde as transferências internacionais eram exceção – e não regra, como hoje –, Evaristo fez parte de um grande esquadrão blaugrana e teve êxito no gigante da capital Madrid. O feito do atacante brasileiro só é comparável com as carreiras do português Luís Figo, do Brasileiro Ronaldo e do dinamarquês Michael Laudrup, craques de exceção que fizeram relativo sucesso entre merengues e culés.

A Espanha respeita Evaristo até hoje de uma forma que os brasileiros não o fazem. Porém, a defesa disso não é feita de forma justa, já que sempre é criado o mito do astro que duelava com Di Stéfano. O contexto geral era muito maior que isso, o que não significa uma diminuição da importância do atacante brasileiro. Só penso ser preciso mudar o enfoque nessa abordagem.

Evaristo de Macedo Filho
Nascimento: 22 de junho de 1933 – Rio de Janeiro
Posição: Atacante
Clubes: Madureira, Flamengo, Barcelona e Real Madrid
Seleção brasileira: 14 Jogos e 8 Gols
Títulos: Três Campeonatos Cariocas (1953, 1954 e 1955); Duas Copas da UEFA (1958 e 1960); Cinco Campeonatos Espanhóis (1958/59 e 1959/60 – Barcelona; 1962/63, 1963/64 e 1964/65 – Real Madrid)
Honrarias pessoais: Maior artilheiro brasileiro do Barcelona (78 gols); Único brasileiro a fazer cinco gols em um mesmo jogo pela seleção (9x0 Colômbia em 1957).

9 comentários:

  1. Ele foi convidado para fazer o "Bola da Vez, da ESPN, você viu?

    E ele tava falando que o melhor jogador com que ele jogou foi o Kubalo, maior ídolo da história do FC Barcelona.

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  2. Vi sim, Carlos.

    Pouco se escuta sobre essa época do futebol espanhol, mas certamente era algo parecido, em número de estrelas, com o que vimos nesses últimos anos.

    Abração!

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  3. muito bom o texto, bruno.

    para esse cara faltou uma Champions, mesmo

    abraços!

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  4. Jairo, ele foi vice-campeão no penúltimo ano de Barcelona, mas ficou a lacuna mesmo.

    Abraço!

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  5. Ai vai uma sugestão: Enrique Castro Gonzalez, o Quini.

    Se já tiverem feito, coloca o link. ;)

    Um forte abraço!

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  6. Caros, sou filho do velho Macedo e fiquei muito feliz pela lembrança. Nossa família têm boas recordações da Espanha e laços estreitos com o país (tenho dois irmãos espanhóis - um de Barcelona e outro de Madrid). Qualquer cerimônia futebolística mais importante por lá ele é convidado, inclusive para dar opiniões nas contratações de brasileiros para o Barcelona e o Real Madrid. Faz parte da Associação de Ex-Jogadores dos dois clubes (mais organizadas do que muita empresa aqui no Brasil). Ele não é muito saudosista mas sempre diz que jogou de igual para igual com Kubala, Di Stefano, Puskas e cia. Era respeitado por eles.
    Um grande abraço
    Pepe Macedo

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  7. Caro Pepe, é uma honra ter meu trabalho apreciado por pessoas tão próximas ao grande Evaristo de Macedo.

    Certamente ele faz parte de um outro mundo do futebol, onde os brasileiros que buscavam rumos fora do país não tinham o menor valor.

    Após muita pesquisa, percebi a grandiosa importância de se ter um brasileiro dentro desses grandes times formados por Real e Barcelona entre 1950 e 1965.

    Evaristo, seu pai, certamente é um exemplo de personagem para esse blog e esse humilde jornalista.

    Abraços e saudações :D

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